Colunistas

    Jornal Roraima Agora
    Ulisses Moroni

    Nada como o tempo

    Certa pessoa enfim foi pleitear o BPC – Benefício de Prestação Continuada. Este o nome correto do benefício concedido aos maiores de 65 anos. Chamamos impropriamente de aposentadoria. É concedido a todos, mesmo sem ter contribuído para a previdência. Basta ser considerado economicamente carente, de acordo com a lei.

    Lembrando que o BPC tem o valor de um salário mínimo.

    Nosso protagonista é um brasileiro honrado, cidadão exemplar. Trabalhou mais de quarenta anos, até que passou a ter problemas de saúde, e teve que reduzir as atividades. Ficou contando os minutos para chegar aos 65 anos e conquistar um pouco de tranquilidade.

    Trabalhou tanto na vida que até deixou de pagar suas contribuições previdenciárias. Se assim tivesse feito, já teria se aposentado. Mas, sempre pensou na família, criou e formou sete filhos. Também conseguiu que a esposa não precisasse trabalhar enquanto os filhos eram pequenos.

    Para receber o Benefício de Prestação Continuada, necessário analisar a renda de todos que moram na casa. Quando ele preencheu o cadastro, colocou ela como sua companheira em união estável. Quando foram analisar os dados dela, constou que ela era casada, mas com outro homem! Isto parou o processo, esclarecimentos seriam necessários.

    Eles viviam juntos já mais de trinta anos, em união estável. Apenas com a força do amor, e sem papeis, como ele se orgulha de afirmar. Na juventude, ela foi casada formalmente com um sujeito trinta anos mais velho. Era ainda uma menina e, de hora para outra, foi viver com um estranho como sua esposa. Não deu certo e, antes que viessem filhos, ela foi-se embora, sem olhar para trás. Para não ver mais o antigo marido, nem foi atrás de fazer o divórcio legal. No ‘papel’, ela permaneceu casada com ele a vida toda. Sofreu demais, tanto que tentou esquecer tudo. O que gerou o problema para o homem de sua vida.

    Necessário identificar seu esposo, para resolver a situação previdenciária. Algo burocrático, mas inafastável. Ela dizia que o ex-marido chamava-se TIÃO DE TAL. Então, buscou-se incansavelmente um SEBASTIÃO. Até que ela encontrou um documento antigo, e constatou que o nome do ex-marido era JOÃO DE TAL!

    Fizeram pesquisas no órgão previdenciário, e constatou-se que JOÃO DE TAL tinha falecido há apenas um ano. Tudo esclarecido, foi deferido pedido do BPC. Disse que aquele período foi tão triste para ela, que resolveu esquecer tudo que conseguisse. Depois de um tempo, nem mesmo recordava o nome do ex-marido! Como diz o ditado, “o tempo cura todos os males!”

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    Menina de rua

    Volta logo, amarelo seboso

    A todo momento me lembro do teu sorriso. Era raro, assim como te ouvir dizer palavras carinhosas. Por isso mesmo, quando se mostravam, meu coração era afagado. Você sempre foi calado, quieto, embora jurasse ser desinibido, engraçado e brincalhão. Passou longe de me mostrar esse lado.

    A meu ver, devia ser guardado somente para aqueles que viviam no teu íntimo. O que eu tinha contigo, sempre soube, era passageiro. Por isso mesmo, vivi cada instante como se fosse o último. Eu te beijava, te abraçava, te cheirava sem parar. Acariciava teus macios e brilhantes cabelos, cujo odor era agradável como cheirar a barriga da minha gatinha de estimação.

    Às vezes, quando você decidia ser o carinhoso da história, meu corpo se enchia de arrepios. “Bebê...”, dizia ao me chamar. Agora, depois de meses, sua voz faz ecos na minha mente e a saudade martela meu coração. As músicas de letras e ritmos nojentos, agora, parecem fazer sentido.

    A todo momento peço para “meu loiro” ser trazido de volta. Bobagem. Nunca fora meu. Entretanto, eu espero, dentro da calmaria possível, pela sua volta. Mesmo não sendo amor nem paixão, meu gostar por ti aperta o peito e faz lágrimas escorrerem dos meus olhos.

    Volta logo, loiro tosco.

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    Menina de rua

    Tudo enrustido (Parte II)

    Sabe aquele boy magia que reclama para que tu pares de se apaixonar por homens maravilhosos de livros e filmes (ainda que alguns sejam duvidosos, tal qual Edward, o vampiro viado de Crepúsculo)? Ele só queria ser aquele cara. E sabe que jamais atingirá tal patamar – não por falta de poderes especiais ou dinheiro, e sim porque carisma e gentileza se foram. Virtudes assim deixaram lugar para grosseria, frescura e MUITA enrustidez. Como têm medo de sair do armário, preferem nos criticar. Porque homem que gosta de mulher jamais perderá tempo criticando a cor do esmalte e tamanho da unha da parceira, comprimento de seu vestido, amigas com as quais anda e maneira como corta / pinta seu cabelo estão fora de seus ideais. Ainda que, em algum momento, pense em comentar sobre alguns dos itens acima, o fará depois de muito tempo e com bom-humor – e se parceira quiser continuar assim, tudo bem. Em verdade, ele quererá cheirar teus cabelos (curtos ou longos, verdes ou naturais), levantar teu vestido (independentemente do tamanho), ter suas costas arranhadas por tuas unhas e ficar com o bilau manchado com a cor do teu batom. Resumindo: te aceitará da forma que tu és, com tua vaidade e elegância. Então, querida, se o guri começar a criticar teu estilo, pula fora que é cilada! Ele quer passar teu batom também.
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    Menina de rua

    Tudo enrustido (Parte I)

    Homem que fica com choradeira de “ai, não aceito que me chame assim, não”, que fica de mimimi porque não gosta de mulher falando palavrão ou se comportando de forma tal, tem mais é que assumir a vontade de ter um dedo quente metido no meio do seu grelho gelado. Tudo um bando de enrustido.

    Eu conhecera tanto do viado guardado em cueca que, sinceramente, a paciência se foi. Pense numa porcaria: chegar num restaurante e ficar aguentando o infeliz dizer, o tempo todo, que o cheiro do lugar o “deixa com dor de cabeça”. Pior, se recusa a entrar no ambiente porque é diferente dos seus “costumes”.

    Esses caras morrem em menos de 10 minutos comigo. Primeiro que sou eu quem tenho que ter iniciativa, porque essas porras têm medo de mulher. Aí, quando chego em cima, o bilau cai. Medinho de guria com atitude.

    Esses caras assim geralmente têm só amigAs, pois evitam contato com outros homens porque os acham muito “errados”. Detestam esportes e julgam que mulher que fica com um aqui e outro ali é “puta”. Pensam que gostar de sexo é vulgar. Gostam de ficar somente em casa vendo filminho; pensam que namoro é só isso. E isso tudo independe de religião ou família. Eles são, apenas, idiotas.

    Recomendação: mantenha anos luz de distância dessas pragas. Eles querem a mesma fruta que você.

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    Menina de rua

    Fracote

    Tia Lyka ensina que homem que é homem sabe trepar. No mínimo, gosta da coisa, sem  reclamações, sem críticas. Negócio é simples, só chegar com jeitinho e comer. 

    Problema é que isso passa a anos luz de jovens como o Fracote.

    Ele é bem lindo. Alto, cheiroso, branco, cabelo macio. E tudo isso entra em contraste  com uma personalidade pautada em personagens heroicos inexistentes, armas de games futuristas, mulheres perfeitas e obedientes, memes imbecis e idiotice gratuita de juventude burra.

    Garotinhos assim só se dão bem com garotinhas, as quais pensam que animes são a melhor coisa do mundo e filmes de terror tornam pessoas mais “cool”. Com elas é fácil agradar; sexo é coisa de boneca para essas gurias.

    Em verdade, na hora de lidar com uma moça um pouco mais cabeça, que já passou por mil e uma tretas, guris assim broxam.

    O Fracote não deu conta do recado; sequer entendeu a mensagem. Ali dizia: “só aceitamos serviço bem feito”. Moleque assim, com cabeça de nerd, mundo girando ao redor de “gueime ófi trônis” só dá merda. Nem beijar, ao menos, sabem – alô-ô, cadê a língua aí?!

    Pena. Todos bem bonitos. Mas fracassos. Pior ainda é ter que ouvir as desculpas que dão depois. Só que eu perdoei, porque, bom, não é todo ser do sexo oposto que lida  bem com mulher que vê o mundo além de besteiras como séries e playstations.

    Lição final: nerdzinho é inservível.

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    Menina de rua

    As Escadas da Liberdade

    Era 22 de julho de 2000 e pouco. Ali estavam dois adolescentes idiotas, sentadinhos nas escadas do bairro Liberdade, área japa de São Paulo. Entre pockys meio amargos, beijinhos. Vinte e cinco segundos, no total. Tão tímidos quanto bobos. Os degraus davam espaço para gestos de carinho.

    Doze meses depois, outro beijo. E quebra pau. Assim, 1.080 dias sem se falar. A briga, ocorrida por pífios motivos, teve consequências tão dramáticas quanto a morte de Wizardmon para proteger Hikari e Tailmon. Meu imbecil foi, então, tratar de mostrar seu pior lado para mim sempre que possível. Arrogante, grosso, estúpido e frio. Em paralelo, eu sofria num inferno construído por um miserável.

    Perdi meu jeito de ser, por três anos. E quem me resgatou, 1.080 dias depois, foi o próprio Devimon, travestido de Angemon. Estendeu-me a mão e disse-me: “A garota que eu conhecia jogaria Digimon comigo. Não aceitaria esse tipo de tortura”. Foi uma ilusão ou resgate inconsciente de seu espírito para ajudar sua ex-amiga? Fato é: estou em pé até hoje. Se escorregar, meu querido Digimon estará perto de mim.

    Seu sorriso e ambígua personalidade protegem-me do medo que sinto, ainda, daquele agressor. E percebi que nada mais nos afastará. Pois, há quatro vidas, estamos juntos. A bruxa e o feiticeiro, a flor e o demônio mascarado de anjo. Tão inseparáveis quanto os degraus das escadas que nos conduziram à mais pura liberdade de amar sem medos.

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    Menina de rua

    As mais belas lágrimas

    Snorlax foi o maior mentiroso que conheci, cuja pegada ensinou-me a gostar de trepar. Até então, sexo para mim era apenas frustração. Pena. Aqueles sete meses ocorreram paralelamente com ele dividindo sua atenção com uma, pasmem, namorada secreta.

    Certo dia, vi outro lado daquele Pokémon. Era seu aniversário. Mesmo já sabendo de tudo, comprei-lhe uma penca de presentes, com direito a um pudim feito só para ele. Minha única intenção era ver seu, ainda que triste, sorriso. Por alguns minutos, até consegui. Depois, tornou-se em vão. A saudade de seu herói bateu forte – o pai havia morrido quando ele tinha apenas 17 anos.

    Snorlax, segurando um dos presentes que lhe trouxe memórias pesadas, começou a chorar na minha frente. “Eu nunca mais tinha ganhado presentes, desde que meu pai morreu... Por que ele me deixou? ”, lamentava. As lágrimas escorriam sem parar. As bochechas pálidas deram lugar ao rubi; os olhos, sempre tão vazios, brilharam como os de um anjo com asas machucadas; a voz, por vezes grossa e autoritária, tornou-se frágil e rouca. Finalmente, vi a verdadeira face de Snorlax.

    Snorlax revelou-me o paradoxal, existente somente naquele rosto: ele ficava gracioso ao chorar. Talvez porque fossem gotas de amor puro, de saudade sincera; de lembranças apertadas em seu coração. Foi lembrando-me disso que lhe perdoei de todas as suas mentiras. Por ele ficou um sentimento indestrutível: carinho. Pois sei que aquele Pokémon safado é só uma máscara.

    Meu verdadeiro Snorlax existe ali. Tão belo quanto frágil

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    Menina de rua

    Beijo com sabor de Ocarina do Tempo

    Tenho facilidade para guardar datas marcantes no meu viver. Aquele 19 de julho de 2000 e pouco foi, certamente, o mais inesquecível até hoje para mim. Lembro-me facilmente de tudo, na ponta da língua. Demais dias, eu demoro um pouco para afirmar dados com precisão.

    Era o último dia do grande evento de cultura japonesa feito em São Paulo. Ali estava eu, afastada de minhas colegas, porque sempre detestei conversar sobre sapatos e outras futilidades.

    Sozinha, caminhei e muito observei aqueles cosplayers. Vinha-me a certeza de que minha fajuta roupa de Wakko Warner jamais deveria, sequer, ter sido pensada. Repentinamente, à minha frente, estava aquele lindíssimo rapaz. Utilizava o verde gorro de Link. Mais: tinha as feições assimetricamente semelhantes às do personagem em Twilight Princess.

    Eu, nem de perto tão linda quanto hoje sou (modéstia à parte), me aproximei dele e puxei assunto mesmo assim. A vergonha escorria pelo meu nariz – graças a deus, tenho hábito de andar com paninhos nas bolsas. Para esse tipo de situação, mesmo. Tentei falar sobre quaisquer besteiras possíveis. “Aqui só tem idiotas. Impossível que eu termine por falar merda”, convencia-me, mentalmente. Obviamente inclusos no ciclo de patetas, as palavras fluíram e, finalmente, o beijo.

    É. Há alguns anos, nas nossas adolescências, o “ficar” significava apenas “dar uns beijinhos a mais, por algumas horas, com a mesma pessoa”. E era suficientemente divertido e prazeroso. Se vocês jovens também aprendessem os benefícios de beijar com vontade, evitariam o desprazer de se tornar papai e mamãe tão cedo.

    Seu beijo era tão gostoso quanto zerar Ocarina of Time sem detonados. Naquela época inexistiam aplicativos de conversas instantâneas além do MSN, e sequer peguei seu e-mail. Entretanto, a vida reserva tretas infinitas para quem é cabaço. Acabamos nos tombando na internet e nos vimos por outros anos – bastava eu pisar naquela bipolar cidade.

    E todas as vezes foram fantásticas. Terminávamos sempre virgens, por receio típico da juventude. Lamentável, pois hoje em dia olhamos para trás e ambos nos arrependemos de ter perdido a grande chance, na última vez em que ficamos, em 2 de julho de 2000 e bolinha. O que teríamos a perder, senão pequena parte de nossas inocências?

    Atualmente, ele namora uma guria a qual tentou, inclusive, me adicionar nas redes sociais tão logo soube de nossa amizade – recusada, querida, recusadíssima. E eu estou enrolada com meu tosco. Conversamos com frequência e lembramo-nos de tudo com sorrisos.

    Faz pouco tempo. As doces lembranças isolam-se em desejos reprimidos. A vida segue. E as oportunidades que passam, aprendi, jamais voltam.

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    Menina de rua

    Meu tosco favorito

    O tosco é meu favorito. Mulher é assim, terrível, mesmo. Garante desgostar, ao passo que se sente completa com a esquisitice (até certo ponto) do outro.

    Meu tosco voltou. Depois de longas semanas em que me calei e o ignorei totalmente, ele retornou com singelo abraço. Mais tarde, com sua sinceridade agraciada pelas virtudes virginianas, levou-me a um lindo lugar, o qual eu totalmente desconhecia. Estávamos sob a luz do luar.

    O ambiente era aberto, com serenatas tocadas por cigarras, sapos e quaisquer outros bichos que emitissem sons para acasalamento, presentes na fauna local – se pá, até jararacas. Ventava muito. As estrelas brilhavam forte e seria insano contá-las. “Hoje o céu está tão estrelado”, ele sussurrou, enquanto me abraçava. Em meus 20 e poucos anos de vida, jamais imaginei que houvesse homens os quais ainda apreciassem ficar ao lado da parceira enquanto observassem a beleza da natureza.

    Por longos minutos, nada dissemos. Ficamos apenas olhando aquele céu, ouvindo os grilos cantarem o mais belo “cri, cri, cri” da noite. Os ventos consigo traziam a esperança de que Boa Vista seria, ao menos por alguns momentos, uma capital fria de doer os ossos (levando em consideração que somos dois magrelos). Então, iniciou-se o inesperado espetáculo: vagalumes, talvez levados pelos instintos apaixonados, começaram a acender suas bundas na nossa frente.

    Eram muitos. Piscavam como se fossem bailarinos, ao som dos coaxos com back vocals grilídeos.  Nos braços daquele rapaz alto, magrelo, branquelo, dos olhos e cabelos claros e eterna expressão de mau-humor, senti-me no paraíso. Nada havia ali, senão sentimentos disfarçados de silêncio e calma respiração.

    Naquela noite, o capô do meu carro terminou amassado, por óbvios motivos. E passou despercebido por nós dois. Até que, exatamente uma semana depois, meu querido papai percebeu aquele estranho abatatado e mostrou-me, confuso: “Filha, já percebeu isto aqui? Como que conseguiste essa façanha, hein? ”. Olhei, abaixei a cabeça e tranquei-me no meu quarto. Ri por mais de meia hora.

    Ah, tosco. Meu tosco favorito. Peça-me em namoro logo. Afaste teu medo de se apaixonar por mim...

    Sou boazinha, parei de morder... com força.

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    Menina de rua

    Tosco

    Vou inaugurar meu espaço neste jornaleco contando minha aventura mais recente – e curta.

    Sempre me avisaram que o guri era gente boa, meio doido e bom de cama. Fiquei secando a pimenteira (discretamente) até que, finalmente, o bicho abriu trela para ficarmos juntinhos em sua casa.

    Por lá, depois de muita enrolação, rolaram uns beijos, muito bons por sinal. E ficou só nisso. Hoje em dia, vocês sabem que o pacote tem que ser completo, não é? Gasolina está cara demais para ir do céu até o inferno, só para voltar com a sensação de purgatório na pepeca. E o diacho sumiu. Desapareceu. Mágica, sem feitiços de minha parte.

    Meses depois, ele voltou como gato fugido de casa: cara de inocente. E aí, me chamou para ficar com ele de novo. Mas dessa vez, ah, dessa vez rolou, sim. Meia boca, infelizmente. Fraco demais para um patrimônio tão grande. Eu percebia que o guri era esquisito. Caladão, respondia mensagens de maneira peculiar e tinha comportamentos meio grosseiros.

    Só que engoli isso tudo depois da segunda vez. Pois é, rolou a segundona. Foi tão bom que marquei na minha agenda. Viajei, esqueci-me dos problemas. Teria sido ótimo ter filmado para, de repente, cair nas mãos de um otário que conheci. Doer-se-ia. Eu riria. Bom, ficou gravado apenas em memória.

    Tudo isso para, depois, a praga sumir de novo. Fiquei na minha, sequer corri atrás. Confesso ter perdido, porém, horas para tentar compreender por que ele agira daquele jeito. Até que aceitei, a contragosto, o que um colega me disse: “O cara te leva na casa dele, te beija e fica só nisso para depois sumir? Véi, ele é um TOSCO”.

    E, até hoje, o colega refere-se a esse guri como “Tosco”. Eu também. Mamãe idem. No desfecho, só para constar, dei-lhe um fora, esclarecendo-lhe que a praga era peculiar e esquisita demais para mim.

    Texto curto. A resposta foi, no entanto, de quem sequer leu o primeiro parágrafo e repetiu tudo que eu já havia falado. Só que quem deu o pé na bunda dele fui eu. Sou inocente, se você é incapaz de interpretar uma mensagem de zap-zap. E agir de maneira mais educada.

    Mas o tosco serviu de aprendizado.

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    Aroldo Pinheiro

    Os que escapolem!

    Quem vive de ganhar a vida com as próprias habilidades manuais sabe bem a sensação de se deixar algo escapulir.

    O ato de escapulir é inspiração para muita alegoria, visto que é um ato arrebatador, cheio de adrenalina e semióticas. Visualmente, vejo arte nesse ato e me empenho no salto para, ao menos, bater na trave, derrubar a baliza e sorrir.

    O pescador tá lá no meio do lago, o peixe malha, ele levanta a rede e pega com descuido o tucunaré, que escapole. O Vaqueiro na mata cinza mira o golpe no boi, que, mais habilidoso, escapa. A ave de rapina, que geralmente não erra, deixa a presa escapulir e, daí, vem o improvável. O vendedor de absurdos que deixa escapar na última hora a vítima feita, amarga. O político que sem mais noção de suas charlatanices escapole pra fora do jogo e cai decadente.

    Quem escapuliu nunca contará a sensação de estar livre, pois, em tese, quem escapa de uma jamais quererá outra. Escapulir ou deixar algo escapulir pode bem ser empregado  com uma palavrinha da moda, desses tempos de marmotas e imposições insuspeitas, a meritocracia – mereceu tem, não mereceu não tem. Usado com afoito entre a classe empresarial, o termo é simplificado para justificar os fins do sistema capitalista.

    Na comunidade, quem vive sabe: tem roça, come; não tem, troca por outra coisa. E, se nada tem: solidariedade ou pega-se o alheio. Quando dito, com tanta naturalidade, que tem mais quem mais se empenha, numa linha rasa da interpretação imediatista, o lado mais humano de nossa humanidade pensa, a longo prazo, varrendo ecos das injustiças acumuladas. É um privilégio estender a memória a esse tempo. É um desafio ter tanta cultura para desromantizar os propósitos de cada argumento, quando o que se precisa mesmo é saber reordenar as coisas, visto que as mãos estão lisas, os músculos tesos e há de haver repouso para uma tentativa mais fatal, mais letal.

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    Érico Veríssimo

    Humanizando a relação com empresas

    Quando pensamos que Suely vai pôr as coisas nos trilhos e fazer o que não fez até agora, surge uma nova denúncia. A bola da vez é o secretário de Saúde, César Penna, aquele com a ‘missão de humanizar os atendimentos em hospitais’. Um desvio de R$ 2,7 milhões fez com que a Justiça determinasse seu afastamento.

    O rolo agora é com uma empresa de gases medicinais. O caso vai de fraude em licitação a enriquecimento ilícito. Será que a governadora escolheu mal seus subordinados ou eles são os adequados para os “propósitos” de governo? As denúncias de favorecimento a empresas “amigas” deixam claro que o caos não se deve apenas à “herança maldita” de outras gestões, afinal, já se passaram dois anos.

    O governo que decretou emergência em 2016 porque venezuelanos “sobrecarregaram” os hospitais é o mesmo que mete os pés pelas mãos quando o assunto é licitação. Que confiança se pode ter em quem estende o chapéu pedindo socorro ao Governo Federal, mas passa sorrateiramente a mão no bolso do contribuinte, conforme o MP?

    E não é de hoje que a mesma secretaria fica sob suspeita. Em 2015, já se apuravam irregularidades em aluguel de veículos, alimentação hospitalar e aquisição de equipamentos. O espaço aqui é curto para citar tudo que se noticiou sobre a Saúde nos últimos anos.

    O governo parece não ter pena de quem precisa de hospital público e sofre com o atendimento quase sempre miserável. Se tivesse, o trato com a coisa pública seria bem melhor, sem dar margem para especulações ou motivos para ser investigado.

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    Érico Veríssimo

    A culpa é do tamanho

    Volta e meia, algumas figuras do governo se destacam além de Suely e sua habilidade gerencial. A bola da vez é o secretário de Justiça e Cidadania, Uziel Castro, que demonstrou não ter muita paciência ao ser confrontado com a realidade.

    Em recente entrevista, Uziel tergiversou sobre números. Não soube dizer quantos são os presos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, quantos fugiram em 2015 e 2016, e nem quantos foram recapturados. Ele parecia nervoso. Quem lá estava, disse que seu queixo e boca tremiam.

    Como as principais perguntas eram de pelo menos dois repórteres, houve um momento em que Uziel, para se afastar da ‘parede’ na qual foi encostado, perguntou aos demais se eles não teriam o que perguntar.

    Ao ser interpelado por um repórter se policiais e agentes não ouviram gritos ou qualquer barulho enquanto presos eram decapitados e estripados, Uziel elevou um pouco o tom e deu uma resposta, no mínimo, atrapalhada.

    “Você conhece a penitenciária, já entrou lá dentro? Ali pode gritar, ali pra ouvir... é muito grande aquela penitenciária. Tem muitos policiais... ontem nós tínhamos reforço. Você não conhece, só diz isso quem não conhece a penitenciária. Vou convidar você pra fazer uma visita ali e a próxima pergunta que você fizer vai ser diferente (sic)”.

    Embora atribua ao tamanho da Pamc a dificuldade de se evitar o pior, ele afirma que havia reforço naquele dia. Se havia, era porque desconfiavam de que algo pudesse ocorrer. Homens foram colocados lá para que esse algo não acontecesse. Mas, o secretário não soube explicar por que, mesmo com a segurança reforçada, houve o massacre.

    Para que perguntas diferentes sejam feitas da próxima vez, Uziel convida o repórter a conhecer a Pê-á.

    Parece que o secretário é um dos poucos que conhecem a Pamc a fundo. Mesmo assim, não se sabe por que até hoje ele nem o governo foram capazes de evitar fugas em massa e chacinas. Talvez o problema maior seja o tamanho do presídio, como o próprio Uziel reconhece!

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    Tia Lyka

    Beijo na Xota

    Olá, meus discípulos e discípulas!!
     
    Tô quase abrindo a Igreja da Sacanagem de Todos os Dias tantos são os seguidores de tia Lyka. No lugar do dízimo, vou cobrar dez por cento dos boquetes. O que acham?
     
    Por falar em “boc-boc”, tenho um babado (nada bom pras xoxotinhas de plantão) que tá dando o que falar nas redes sociais. Um doido aí, lá da casa do caraio, fez uma enquete para saber porque os homens não gostam de chupar as “bandadinhas” e, pasmem, as respostas foram as mais absurdas possíveis. Ainda bem que essa pesquisa não foi no Brasil.
     
    Ainda assim, a gente sabe que muitos homens têm nojinho de cair de boca no serviço. Uns alegam que o cheiro é forte; outros, que parece uma gosma e por aí vai. Não se chega a um consenso.
     
    Sobre um assunto, me perguntaram no grupo de “zap-zap” – as putinhas do Caburaí – o que eu tinha a dizer sobre essas criaturas antiboquete. Respondo:
     
    Pra mim, homem que não gosta de chupar uma bucetinha tem um pé na viadagem. Macho que é macho cai de boca e só larga se a gente puxar pelos cabelos.
     
    Caso você tenha um bofe que só passe a língua por cima e a enxugue nas suas coxas, despache-o enquanto é tempo. A gente pode até ficar sem perfume francês uns dias, mas sem ganhar um beijinho na perereca não dá.
     
    E mais: quem não chupa, não fode!
     
    Fui!
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    Aroldo Pinheiro

    Traficante de amor

    O pai morreu. Como herança, o rapaz recebeu pequeno comércio de miudezas e armarinhos. Logo, Fofão cansou de vender zíperes, botões, colchetes, fitilhos, sianinhas e colibris. Pouco dinheiro, muito pingado. Ele queria mais.

    Descobriu que comprar produtos na cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén traria retorno mais rápido. Tornou-se sacoleiro. Capitalizou. Resolveu crescer. Comprou duas picapes Pampa, da Ford, e passou a investir em distribuição de petróleo.

    Cinco vezes por semana, cruzava a fronteira e, na volta, trazia gasolina descaminhada da terra do eterno Hugo Chávez. Riscos de sofrer acidente fatal ou de ser preso pela Polícia Federal levaram-no a abandonar a profissão de importador informal.

    Mas ele gostava de ganhar dinheiro. Se fosse com facilidade e dentro da ilegalidade, melhor ainda. Passou a trazer uísques, vinhos e vasodilatadores do país vizinho. Dava preferência à “ração pra pinto”, pois, em grande quantidade, podia ser acondicionada em pequenos pacotes e os ganhos eram altos. Lucro garantido e risco de ser pego quase zero.

    Em cada viagem, ele trazia centenas de cartelas com milagrosos comprimidos de Viagra e Cialis. Em viagem para repor estoque, Fofão chegou ao balcão da principal farmácia de Santa Elena e, usando portunhol caprichado, pediu:

    - Tienes Viagra y Cialis?

    - Si, señor; quantos? – Respondeu a balconista, brasileira de Uiramutã, na mesma linguagem do empreendedor.

    - Dá-me lo que tienes.

    - Señor, se lleva todos, como fícan los venezolanos? Ele, que não gosta dos hermanos, atacou: “Que se danen. Se ellos todos brochan, no más producirán venezolanitos”.

    Trinta e duas caixas de Cialis;quarenta e sete de Viagra. R$ 1.100 de lucro. “Bom demais”, festejou.

    Na alfândega brasileira, ele deu azar de, por amostragem, ter o veículo revistado. Os homens da lei encontraram os vasodilatadores. Até pensou em oferecer uma propina para os federais. Achou melhor não. “Perco a mercadoria, mas recupero o prejuízo na próxima viagem”, consolou-se.

    No entanto, a coisa não seria tão fácil assim. O chefe da fiscalização resolveu indiciá-lo como contrabandista de medicamentos. Ao ouvir a qualificação, ele aproximou-se da autoridade e, cheio de empáfia, bradou:

    - Contrabandista de medicamentos não. Meu trabalho tem cunho social. Sou um traficante de amor.

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    Tia Lyka

    Beijo grego

    Olá, pessoas!

    Até que enfim, chegou novembro, né? Se bem que muita gente parou no mês de setembro, graças à mamys Sussu que “se esqueceu” de pagar o salário. Mas eu não tô aqui pra falar de gente caloteira, não. Fecha a porta do quarto que o assunto de hoje é quente e faz cosquinha na bunda.

    Vocês já conhecem o beijo grego? A Alessandra do Passarinho K. Grande, 36 anos, professora universitária, nunca ganhou um.

    Tia Lyka, Vi um filme pornô esses dias e fiquei doida. O cara enfiava a boca no traseiro da mulher e só largava quando ela caía ciscando. A posição chama-se: beijo grego. Como faço pro meu marido fazer em mim?

    Fofa, O primeiro passo, é lavar bem a bunda e passar lenço umedecido pra tirar as caquinhas. Depois, botar os meninos pra dormir na casa da avó, comprar a bebida que ele gosta, caprichar no boquete e dizer que está doida pra dar o cu – sem esse último item fica difícil convencê-lo de cara.

    No mais, é só ficar numa posição favorável. A melhor delas é você ficar deitada sobre uma mesa de costas (claro), empinar o bumbum, deixar as pernas levemente abertas pro boymagia enterrar a cara. Feito isso, relaxa os esfíncteres (pregas), deixa o macho chupar à vontade e espera a queda. Só não relaxa demais (pode sair gases e estragar tudo).

    Fui

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    Ulisses Moroni

    Ficaram seis vidas para o gato

    Mudei-me para uma casa certa vez, e lá havia um gato morando. Era uma moradia coletiva, e um vizinho disse-me que era do antigo morador. O dono se foi, e o gato ficou, como diz a lenda. Era todo branco, parecia que tomava banho diariamente. Sinceramente, não gostei da ideia no início. Com o tempo fui me acostumando.

    O bichano era na dele, não fazia sujeira e não entrava em casa.

    Depois de um tempo, passei a comprar ração e colocar na varanda a noite.

    Moradia coletiva, estacionamento coletivo. Havia um portão motorizado, e cada morador tinha seu controle. Pintaram tudo de branco, o portão, capa do motor e o muro. Ficou da cor do gato.

    Uma manhã fui sair de carro e acionei controle para abrir o portão. Foi quando escutei uns gritos fortes, tipo pedido de socorro misturado a muita dor. Um enorme susto, vinha do portão. Até cheguei a pensar que tivesse prensado uma criança, tamanho meu pânico. Mas eu não via nada.

    O portão em movimento, tentei parar, mas não deu, abriu até o final.

    Olhei com muita atenção e descobri a causa: um gato todo branco ficou preso em meio ao portão, parede e trilho de movimentação. Como era branco, e o portão também, eu me confundi.

    A situação era trágica, o felino estava esmagado pelo trilho. Tentei tirá-lo, mas não teve jeito. Então a solução foi fechar o portão. O gato estava imóvel, aparentando morto. O portão fechou-se e o gato ficou livre. Tombou para o lado, caindo imóvel no chão.

    Cheguei perto para pegá-lo, quando tomei outro susto. O bicho soltou um miado forte, deu um saldo sobre o portão e caiu na rua. Correu como uma bala de revólver, logo sumindo.

    Fui trabalhar e no caminho lembrei do “meu gato”. Aquele gato prensado se parecia com ele. A noite eu teria certeza, pois o encontraria - ou não - em casa.

    Cheguei do trabalho e fiquei aguardando, mas o bichano não veio. Isto se repetiu nos dias seguintes. Hipótese: matei meu amigo de quadro patas!

    Dias depois, ouço um barulho na varanda, vou lá e quem encontro? O gato pedindo comida! Ele estava inteiro, aparentemente sem lesões.

    O leitor poderá questionar: será que meu gato realmente era aquele que foi esmagado no portão? Há muitas semelhanças entre gatos brancos... Realmente o questionamento tem lógica. Porém, minha certeza do gato esmagado ser o meu era absoluta.

    Quando chegou em casa, o gato parecia uma zebra, com as marcas do trilho do portão sobre o corpo. Então, nesta história teve apenas um gato. A conclusão é que a lenda é verdadeira: GATOS TÊM SETE VIDAS!

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    Aroldo Pinheiro

    Dança da chuva no Centro Cívico

    Na segunda-feira, bela manhã ensolarada, na frente da Assembleia Legislativa, um furdunço. Alto falantes a todo vapor, barulho demais, muito preto e muito vermelho, pensei: “Será que flamenguistas estão festejando o empate de 2 a 2 com o Corínthians?”

    Chegando mais perto, vi que dois grupos distintos se misturavam em manifestações e  reinvindicações diferentes: índios, por falta de tinta, usaram carvão para pintar os corpos de preto e exigiam algo do Ministério da Justiça; de camisetas e chapéus vermelhos, CUT e sei lá mais que agremiações de insatisfeitos protestavam contra a PEC 241.

    A farra era grande. Das duas aparelhagens de som saíam gritos de ordem – ou de desordem – simultâneos, ferindo ouvidos, além de índios cantando e gritando numa língua que só eles entendiam (se é que entendiam). O espaço na frente da “Casa do Povo” transformou-se em ensaio para a confusão de uma torre de babel.

    Estacionei meu carro e me aproximei da baderna decidido a fazer fotos. Quem sabe poderia até colher informações importantes para reportagem em meu jornaleco?

    Sob apreensivos olhares de policiais militares, curiosos, fotógrafos,cinegrafistas e jornalistas se perdiam naquela confusão. Pode até ser que esse cronista esteja errado, mas ali, alguns jovens pintados de preto, com as marcas Zorba e Calvin Klein bem destacadas em cuecas que sobravam um palmo acima de bermudões, pareciam ter sido recrutados na periferia da cidade para fazer número e barulho com silvícolas de verdade. Quer dizer: tinha índio genuíno misturado com índio “hecho en Paraguay”.

    Por falta de comando, índios e não índios se confundiam e ninguém mais era de ninguém. Tinha gente de camiseta e boné vermelhos segurando em pau de índio e índio botando a boca em butica de mulher de camiseta e boné vermelhos.

    De repente, sem que nenhuma autoridade tivesse surgido para, pelo menos, tentar ouvir reinvindicações daquela turba, imensa nuvem negra formou-se sobre a Praça do Centro Cívico e derramou milhares de litros de água, pondo fim, por algum tempo, àquela esculhambação.

    Com a roupa ensopada, sentei-me na calçada e pensei: “Os deuses devem ter achado que essa bagunça era um arremedo de dança da chuva e mandaram água pra amenizar o calor infernal que vinha fazendo em nossa cidade”.

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    Aroldo Pinheiro

    Boa memória X vaga lembrança

    Cem anos de vida é muita coisa. Há poucas décadas, não se vivia tanto. Nos anos 1950 e 1960,  um homem com 50 anos era considerado um homem velho. E poucos chegavam a essa idade.

    Com o progresso da ciência, mais e mais pessoas chegam facilmente aos 80, 90, 100 anos. Daniel Sapateiro completou 100 anos de vida com saúde e lucidez de fazer inveja a muito Rui  Figueiredo.

    Conheço seu Daniel desde que me entendo por gente. No balcão da loja de meu pai, muitas  vezes vendi-lhe ilhoses, botões rápidos, tachinhas, tinta Tic-Tac, mantas de vaqueta e saltos para sapatos.

    Há sete anos, quando seu Daniel comemorava 65 no ofício de sapateiro, eu, jornalista, fui  entrevistá-lo para reportagem no jornal Roraima Hoje. Tarde agradável conversando com o  paraibano de Cajazeiras.

    Falou-me sobre sua vida no Nordeste, sua vinda para Boa Vista, o casamento, a aquisição do  imóvel onde vive até hoje, a alegria com o nascimento do único filho, a felicidade de ainda ter irmãos.

    Na época, com 93 anos, seu Daniel disse-me ter ido a Brasília, onde participou da festa de 100  anos de sua irmã mais velha. Família longeva, Santa, a mana, morreu em 2014 com 108 anos de idade.

    Durante a entrevista, seu Daniel explicou-me que raramente algum freguês deixava de vir  buscar os sapatos deixados para serem reparados: “As pessoas se apaixonam por sapatos de qualidade e querem que eles durem a vida inteira”, explicou-me.

    Ele não soube me dizer como fazia para encontrar um calçado deixado há muito tempo, mas disse que a mão ia certa na prateleira e buscava o que ele queria.

    Lá pelas tantas, seu Daniel me perguntou:

    - Você é ou foi casado com dona Maura - uma mulher bonita que trabalha na Educação?

    - Sim...

    - Faz tempo “que não vejo ela”...

    - É, seu Daniel: Maura está morando em Brasília desde 2005; por quê?

    Seu Daniel levantou-se e pegou um saco plástico na prateleira. Entregou-me o pacote e, nele, estava escrito: MAURA PINHEIRO, 03/08/2004, R$ 16,00. Sorri e rcomentei:

    - Maura sempre foi desligada. Vou pagar pelo seu serviço e levar os sapatos pra ela em minha  próxima viagem ao Distrito Federal.

    ....

    Dias depois, em Brasília, abri minha mala e entreguei aquele pacote para Maura. Ela abriu o  saco plástico e, ao ver o velho par de sapatos, sacudiu os ombros:

    - Não entendi...

    - Tu mandaste consertar esses sapatos em 2004. Seu Daniel Sapateiro me alertou sobre o  esquecimento. Paguei pelo serviço e  trouxe-os pra ti, pois devias gostar muito deles.

    Maura não se lembrava dos sapatos. Claro, também não se lembrava de tê-los mandado para conserto e afrimou ter uma vaga lembrança de seu Daniel.

    Se ela chegar aos 100 anos, certamente não terá a mesma lucidez de Daniel Sapateiro.

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    Tia Lyka

    Dedo podre

    Queridos e queridas!

    As “muié” pensam que eu sou casamenteira, querem que eu dê um jeito de tirá-las do caritó (solteirice). Não arrumei nem pra mim, quanto mais pra vocês, que não sei nem a cor do grelo.

    Tudo bem! O conselho de hoje vai pra todas as solteiras - as largadas também - que querem arrumar um macho pra chamar de seu, mas têm o dedo podre.

    Primeira atitude: gostar de si mesma. Andar cheirosa, calcinha limpa, boca escovada; depois, procurar macho no lugar certo. Vejo mulher doida pra casar, procurando homem em forró, pagode, Pit Stop, seresta... Me poupem!

    A única coisa que vão arrumar nesses lugares é rola. E suja. Vamos ter mais critério, exigir pelo menos que o cabra tenha nível superior pra não ouvir um “a gente fumo”, “moro no Tranquedo”, “vou pra Guiana Inglesa”.

    Procure saber se ele é bom filho, se tem trabalho fixo, algum parente preso (se for de facção, foge e muda de endereço), se atirou fogo em gato quando criança.

    Os cabras chamam vocês de gostosa e vocês já vão abaixando a calcinha. Não dá! Experimentem frequentar lugares decentes como ir à missa aos domingos, fazer caridade. Depois de laçar o macho, é só dá uma surra de perereca. Garanto que no outro dia, ele compra as alianças.

    Homem não quer casar. Nossa sorte é que eles não vivem sem buceta.

    Fui!

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