O pai morreu. Como herança, o rapaz recebeu pequeno comércio de miudezas e armarinhos. Logo, Fofão cansou de vender zíperes, botões, colchetes, fitilhos, sianinhas e colibris. Pouco dinheiro, muito pingado. Ele queria mais.
Descobriu que comprar produtos na cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén traria retorno mais rápido. Tornou-se sacoleiro. Capitalizou. Resolveu crescer. Comprou duas picapes Pampa, da Ford, e passou a investir em distribuição de petróleo.
Cinco vezes por semana, cruzava a fronteira e, na volta, trazia gasolina descaminhada da terra do eterno Hugo Chávez. Riscos de sofrer acidente fatal ou de ser preso pela Polícia Federal levaram-no a abandonar a profissão de importador informal.
Mas ele gostava de ganhar dinheiro. Se fosse com facilidade e dentro da ilegalidade, melhor ainda. Passou a trazer uísques, vinhos e vasodilatadores do país vizinho. Dava preferência à “ração pra pinto”, pois, em grande quantidade, podia ser acondicionada em pequenos pacotes e os ganhos eram altos. Lucro garantido e risco de ser pego quase zero.
Em cada viagem, ele trazia centenas de cartelas com milagrosos comprimidos de Viagra e Cialis. Em viagem para repor estoque, Fofão chegou ao balcão da principal farmácia de Santa Elena e, usando portunhol caprichado, pediu:
- Tienes Viagra y Cialis?
- Si, señor; quantos? – Respondeu a balconista, brasileira de Uiramutã, na mesma linguagem do empreendedor.
- Dá-me lo que tienes.
- Señor, se lleva todos, como fícan los venezolanos? Ele, que não gosta dos hermanos, atacou: “Que se danen. Se ellos todos brochan, no más producirán venezolanitos”.
Trinta e duas caixas de Cialis;quarenta e sete de Viagra. R$ 1.100 de lucro. “Bom demais”, festejou.
Na alfândega brasileira, ele deu azar de, por amostragem, ter o veículo revistado. Os homens da lei encontraram os vasodilatadores. Até pensou em oferecer uma propina para os federais. Achou melhor não. “Perco a mercadoria, mas recupero o prejuízo na próxima viagem”, consolou-se.
No entanto, a coisa não seria tão fácil assim. O chefe da fiscalização resolveu indiciá-lo como contrabandista de medicamentos. Ao ouvir a qualificação, ele aproximou-se da autoridade e, cheio de empáfia, bradou:
- Contrabandista de medicamentos não. Meu trabalho tem cunho social. Sou um traficante de amor.
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