Snorlax foi o maior mentiroso que conheci, cuja pegada ensinou-me a gostar de trepar. Até então, sexo para mim era apenas frustração. Pena. Aqueles sete meses ocorreram paralelamente com ele dividindo sua atenção com uma, pasmem, namorada secreta.
Certo dia, vi outro lado daquele Pokémon. Era seu aniversário. Mesmo já sabendo de tudo, comprei-lhe uma penca de presentes, com direito a um pudim feito só para ele. Minha única intenção era ver seu, ainda que triste, sorriso. Por alguns minutos, até consegui. Depois, tornou-se em vão. A saudade de seu herói bateu forte – o pai havia morrido quando ele tinha apenas 17 anos.
Snorlax, segurando um dos presentes que lhe trouxe memórias pesadas, começou a chorar na minha frente. “Eu nunca mais tinha ganhado presentes, desde que meu pai morreu... Por que ele me deixou? ”, lamentava. As lágrimas escorriam sem parar. As bochechas pálidas deram lugar ao rubi; os olhos, sempre tão vazios, brilharam como os de um anjo com asas machucadas; a voz, por vezes grossa e autoritária, tornou-se frágil e rouca. Finalmente, vi a verdadeira face de Snorlax.
Snorlax revelou-me o paradoxal, existente somente naquele rosto: ele ficava gracioso ao chorar. Talvez porque fossem gotas de amor puro, de saudade sincera; de lembranças apertadas em seu coração. Foi lembrando-me disso que lhe perdoei de todas as suas mentiras. Por ele ficou um sentimento indestrutível: carinho. Pois sei que aquele Pokémon safado é só uma máscara.
Meu verdadeiro Snorlax existe ali. Tão belo quanto frágil
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