Colunistas

    Jornal Roraima Agora
    Tia Lyka

    Com cuspe e jeito...

    Aquela senhora simpática que vende empadas deliciosas pelas ruas da cidade interpelou o Barão na Ville Roy e disse: "Tenho uma consulta para o Roraima Agora. É o seguinte: amiga minha gosta de coroas. Essa garotada só quer saber de montar e ela não se satisfaz só com um cavaleiro: ela quer um cavalgador que seja cavalheiro. O problema é que homens acima de 70 têm problema para levantar o rebenque; o que ela pode fazer para se satisfazer?"

    Complicado, amiga. Mas vamos tentar ajudar. Aprendemos que tudo o que sobe desce. Ninguém consegue ir contra as leis da natureza. Pense positivo. Pense em qualidade, não em quantidade. Ao conseguir um cavalheiro dentro da faixa etária que lhe dá tesão, descubra, devagar, com calma, elegância e disciplina, a maneira de despertar o gigante que o velhinho tem adormecido entre as pernas. Você vai descobrir que o que demora pra subir leva algum tempo pra cair. 

    Depois de deixar a espada de seu salvador no ponto, percam-se em carinhos antes de partir para as vias de fato. Vale tudo. Lambidas são imprescindíveis: todo homem gosta de ser feito de picolé. Invente sem deixar que seu idoso pense que você é avançadinha "e só falta começar a fumar". 

    Tratando seu velhinho com jeito, você vai descobrir que eles sabem fazer coisas que essa garotada só vai aprender quando chegar à idade deles. 

    Ah! Quando arranjar um velhinho pra você, veja se ele tem um amigo, na mesma faixa etária, disponível: eu também me amarro em coroas (e, se vier com a carteira recheada de garoupas, melhor).

    Fui!!!

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    Aroldo Pinheiro

    Festa surpresa

    Aniversário de meu compadre, 50 anos. Reuni-me com alguns amigos e decidimos fazer-lhe festa surpresa. Depois de muitas conjecturas, escolhemos a casa do aniversariante para o regabofe. 

    Como afastá-lo de casa para organizar a furupa? Fiquei com a tarefa de fazê-lo. Eu me encarregaria de prendê-lo na rua entre 18h e 20h.
    No final da tarde do dia programado, uma quarta-feira, dirigi-me ao escritório do aniversariante e convidei-o para tomar uma cerveja. Claro que ele estranhou, pois não sou de beber durante a semana nem sou de sentar em bar para tomar cerveja. Mesmo ressabiado, meu compadre aceitou.

    Sentamo-nos no Pit Stop e, ali em volta, enquanto pessoas faziam caminhada para manter a forma, nós largamos o pau a tomar cervejas para aumentar a barriga e jogar conversa fora. Meu compadre, inquieto, dava tratos à bola imaginando o motivo do convite e o fato de estarmos no barzinho por tanto tempo. 

    Pelo celular, me avisam que estava tudo no jeito, que havia chegado a hora de levar o aniversariante para sua festa. Pagamos a conta e, com meu compadre no carro, segui lentamente para a residência dele. Durante o trajeto, eu falava o tempo todo. Não podia deixa-lo raciocinar.

    Tomei a avenida Ville Roy, dobrei à esquerda na Severino Soares de Freitas e, depois de alguns quilômetros rodados, quando dobrei à direita e entrei na quadra da festa, o aniversariante, vendo a fumaça que saía de sua residência, comentou com sorriso maroto:

    - Compadre, se minha casa não estiver pegando fogo, estão fazendo churrasco por lá.


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    Aroldo Pinheiro

    O santo das causas impossíveis e a velhinha pidona

    Minha mãe sempre foi carola. Ao mudar-se para Brasília, na década de 1980, conheceu Santo Expedito e apaixonou-se pelo encarregado das causas impossíveis.

    A igreja de Expedito fica a poucos metros do apê de Neuzinha e ela, agora íntima, quando vai ao templo para suas orações, avisa: "Vou ali na casa do vizinho".

    Família grande sempre tem problemas. Saúde física, saúde financeira, amor, desamor, mamãe está sempre apelando para Santo Expedito pelos seus. Pior – ou melhor? – é que a maioria das preces dela, parece, são sempre ouvidas.

    Daniel, meu filho, foi aprovado em concurso para a Polícia Civil do Distrito Federal. O roubo de Agnelo, quando governador do DF, deixou a Segurança sem orçamento e Daniel, mesmo com os pedidos feitos a Santo Expedito, nunca foi chamado.

    Há algum tempo, sendo meu filho aprovado em concurso para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Neuzinha carregou nos pedidos para que Expedito intercedesse junto ao chefe supremo: Deus.

    Deu certo. Daniel assumiu vaga no TJDFT. A família reuniu-se em almoço para comemorar a vitória do meu menino. Mamãe preferiu não ir.

    Terminada a farra, quando cheguei ao apê, encontrei Neuzinha aos pés da imagem de Santo Expedito. Antes que mamãe desse por minha presença, ainda ouvi-a dizer: "Meu Santo, você deve estar de saco cheio de meus pedidos... Descanse e retome suas atividades, pois, por aí, deve ter muita gente precisando de sua ajuda. Eu, com essa vitória conseguida por meu neto, prometo que vou dar um tempo e passar pelo menos um ano sem lhe pedir nada..." 

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    Ulisses Moroni

    Bons enganos

    Era mais uma de muitas viagens de avião, tendo eu criado muitas e variadas referências sobre as aeronaves e sua tripulação. Uma característica que se mantém desde que voei pela primeira vez, para mim, é a idade média do jovem pessoal de apoio. Talvez porque este trabalho exige muitas horas fora de casa, além do desgaste físico natural da atividade. Isto não se aplica aos pilotos, que devem ser experientes!

    Pois, naquele voo, fui recebido por uma aeromoça que aparentava mais de 60 anos. Uma 'aerovovó'! Achei-a com olhos cansados. Esticou os braços para ler meu bilhete. Mas não usava óculos.

    Decolamos e ela acabou ficando na minha frente. Involuntariamente passei a observá-la. Em solo, ela usou o telefone celular. Falou com algum telefonema. Foi mais enfática, dizendo que precisava estar junto ao interlocutor, mas não podia, pois tinha que trabalhar ali.

    Passou com o 'carrinho' oferecendo produtos pagos com cartão. Pediu para um colega passar o cartão na maquineta, dizendo que 'não conseguia aprender a usar aquilo!'

    Muitas pessoas na idade dela já estão aposentadas, ou têm um trabalho mais suave. E ela ali 'dando duro', igualmente a outros mais jovens. Fiquei sensibilizado.

    Fui ao banheiro e aproveitei para beber água na sala de apoio. Ali estava aquela senhora. Perguntei qual era o destino final do voo. Disse-me que era Recife, para onde ela já voava há mais de 20 anos!

    Falou que já tinha tempo para se aposentar como tripulante, mas aquele trabalho era 'sua cachaça'. Completou dizendo que tinha uma empresa com os filhos, de fornecimento de alimentos para aeronaves. Mas os filhos não faziam nada sem a opinião dela. Então, quando ela voava como aeromoça, se desligava dos problemas da empresa.

    Sem que eu perguntasse, foi dizendo que não iria usar óculos enquanto enxergasse 'as letrinhas', ainda que esticando os braços. E que detestava mexer com maquinetas de cartão de crédito. Tinha bons funcionários para isso. Ela apenas gostava de ver seu saldo bancário sempre aumentando! Já fazia anos que era tratada como investidora especial, completou.

    Fui conversar com aquela senhora com um tom pedioso, mas retornei um pouco, digamos, humilhado. Será que um dia eu seria um investidor bancário especial, pensei...

    No saldo final, fiquei feliz. Que meus enganos sobre as aparências das pessoas sempre sejam assim. Eu acho que uma pessoa é carente, e ela na verdade se mostra mais que suficiente! 

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    Aroldo Pinheiro

    Visitas íntimas

    Segunda-feira, cedinho, os policiais invadiam as alas, acordavam os presos e os encaminhavam para o pátio. Ali, eram obrigados a tirar a roupa e, de cócoras, esperar pela meticulosa revista que estava sendo feita nas celas.

    Aos poucos, sobre longo balcão de madeira, as mais inusitadas peças apreendidas eram amontoadas: tesouras, terçados, estiletes, cutelos, telefones celulares de última geração, garrafas de pinga, papelotes contendo drogas ilícitas... Até duas foices e um machado foram encontrados debaixo de uma cama.

    De repente, cabo Atanásio surgiu conduzindo, dois galos que tentavam escapar do forte cheiro exalado pelos sovacos do policial. Galos mesmo. Galos de verdade. Desses que dizem cu-cu-ru-cu. Duas aves fortes bonitas, esbeltas, multicoloridas. Pelo porte, pescoços pelados e esporões afiados, qualquer um, mesmo que nunca tivesse pisado numa rinha, sabia que ali estavam dois galos de briga.

    Popó e Éder Jofre, estes eram os nomes daqueles dois lutadores que preenchiam o tempo e valorizavam as apostas dos presidiários em seus poucos momentos de lazer.

    Carinhoso, condenado a 28 anos por ter matado a mulher com 59 facadas, apelou:

    - Doutor, por favor, não leve esses galos... Eles são de estimação.

    O representante do Ministério Público interpelou-o:

    - Por que não? O que esses galos fazem aqui dentro?

    - Eles são pra reprodução, doutor... – respondeu o presidiário.

    - Reprodução, né? E cadê as galinhas?

    - Elas só vêm às quartas e aos domingos, doutor... Dias de visita... As frangotas só vêm para visitas íntimas...

    Claro que Popó e Éder Jofre, agora, estão atrás das telas de outro galinheiro.

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    Tia Lyka

    Brigar com o destino pra quê?

    Oi, gentem,

    Olha eu aqui outra vez. Notícias da Terra de Maduro.

    Outro dia, acordei assustada. A meu lado, a megera, mãe de Ramon, se masturbava olhando para meu corpo nu, descoberto. A velha também se assustou. Disse que está apaixonada por mim. Disse que se senti u atraída desde que me viu pela primeira vez. Sente vergonha de mim e medo do fi lho. Pediu-me para ajudá-la a ficar atraente como eu.

    Ok. Cortei e pintei os cabelos da velha, raspei-lhe os pelos do sovaco, derrubei a floresta atlântica que ela cultivava no baixo-leblon e tosei os pelos que cobriam as varizes das pernas secas. A velha tá até apresentável.

    Agora, tenho que me dividir entre os afazeres da casa, as esfurubicadas de Ramon, as rapidinhas do japonês e o assédio da bruxa, que sempre passa roçando em meu corpo. De vez em quando, a gente dá uns amassos.

    Não me sinto ruim com esta situação, pois, tendo a megera como aliada, será mais fácil arranjar uma maneira de fugir desse inferno.
    Na semana passada, de Tumeremo, trouxe umas canelas de boi e fiz um cozidão. Garimpeiros de outras grotas experimentaram e pagaram pela comida. É mais um trocadinho para a minha fuga. Já agendaram: aos sábados, vou servir cozido para uns 20 homens.

    Mariano, um cearense, ficou de me arranjar duas meninas para me ajudarem com a cozinha. Sei que, com isso, ele tá querendo arranjar um trocado vendendo os corpos dessas mulheres para miseráveis como ele. Num tou nem aí. Acertei que, se der certo, quero um percentual do que elas faturarem.

    É isso. Enquanto me capitalizo para ir embora, exploro restaurante safado e, logo, um puteirinho improvisado no meio da mata. Fazer o quê? Seguir os desígnios de Deus. Ou do Diabo.

    Fui!

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    Aroldo Pinheiro

    Jipe velho (mas tinindo)

    E eis que aquela "linda criança que, na pia batismal", segundo Laucides Oliveira, em edição de março de 1954 do jornal O Átomo, "receberá o nome de Aroldo", chega aos 64 anos. Não doeu. Nem deu pra sentir. Como diria o papagaio: "Num tô tintindo nada".

    Olhando pra trás, vejo que cometi alguns erros. Mas quem não errou? Cristo, filho de Deus, nascido em Belém, cometeu seus deslizes; por que não eu, filho de migrantes cearenses que vieram para estas plagas em busca de dias melhores, aparado por mãos de parteira, passaria em branco? Na contabilidade da vida, vejo mais acertos do que erros. Passando a régua, estou no saldo. Minha norma é usar erros como base para acertos. 

    Espiritualmente, sou mais completo do que muita gente. Calma, Santa, eu explico. Criado sob orientação católica apostólica romana, recebi todos os sete sacramentos preconizados pelo Vaticano: batismo, confissão, arrependimento, comunhão, crisma, casamento e extrema unção. É, sou extremo ungido. Aos treze anos de idade, quando à beira da morte por causa de acidente, minha alma foi encomendada a Deus por padre Mauro Francello.

    Não sei se ainda vale, mas, se valer, tenho mais chances de aproximar-me Dele do que muita gente. Como diria Ibrahim Sued: "Sorry, periferia".

    Se escolhesse um carro para comparação, acho que eu seria um jipe. Não desses jipinhos furrecas fabricados por japoneses, chineses e coreanos; seria um daqueles robustos, com farol alto e para-choque duro.

    As peculiaridades de um motor quatro tempos estão tinindo: alimentação, ignição, explosão e escape. O sistema digestivo vai bem, obrigado: comendo de tudo. A vela lança centelhas de fazer inveja a muitos desses motores modernos. A explosão nunca falhou e sempre responde nas horas certas. O escapamento é zerado, do jeitinho que veio do fabricante. Salvo algumas incursões para revisões periódicas, o Kadron nunca recebeu corpos estranhos. 

    Lataria. Ah, a lataria. Esta, que nunca passou por lanternagem, tem alguns pequenos amassados no ferro e trincas na pintura. Em nome da originalidade, melhor não mexer. Pode ser que o resultado seja desastroso.
    Quase me esqueço da capota. Como diz Cearazinho, meu filósofo de boteco, a capota "tá um pouco 'distiorada'". A cor negra vinílica, de fábrica, vem cedendo lugar para manchas brancas. Aqui, acolá, uma falha. Mas, tudo bem; quem precisa de capota no calor miserável desta nossa terra querida?

    No dia de meu sexagésimo quarto aniversário, acordei pensando em me desfazer dessa máquina. Depois, raciocinando com calma, lembrei-me que não se troca o certo pelo duvidoso.

    Para alegria de uns e tristeza de outros, esse jipão, modelo 1954, ainda há de colher alguns cajus.

    Parabéns à Willys Overland do Brasil por ter colocado no mundo uma máquina assim.

    Obrigado a papai e mamãe por terem me feito, como dizem mineiros, "desjeitim".

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    Aroldo Pinheiro

    Sequestrador ciumento

    Poucos minutos depois de ter encerrado conversa pelo WhatsApp com meu filho, o telefone tocou. O nome da pessoa não apareceu no display. O número começava com 085. Pensei não atender, pois não tenho ninguém no Nordeste. "Tudo bem, vamos ver o que querem me vender", pensei.

    - Oi...

    Voz forte, com eco, ameaçou:

    - Estou com seu filho. Se quiser ter seu menino de volta inteirinho, faça o que lhe digo.

    - ????

    - Antes de mais nada: não desligue o celular nem fale com ninguém até a gente terminar a transação...

    Lá no fundo, uma voz gritava: "Pai, faça o que eles mandarem. Eles estão me torturando". Se eu não tivesse acabado de falar com Daniel, poderia pensar que, de fato, ele estava em poder de sequestradores. Mantive a calma e entrei no jogo.

    - Olha, você não sabe o trabalho que esse menino me dá. Se quiser, pode ficar com ele...

    - O senhor pensa que isso é brincadeira? Eu não tenho nada a perder. Se o senhor não seguir minhas instruções, pode chamar a família pro enterro do seu garoto.

    Balancei. É verdade ou trata-se de golpe do sequestro? Meu filho vive em Brasília e, com 36 anos, já não é nenhum garoto. Convenci-me de que era aplicação e resolvi sacanear com o vigarista.

    - Olhe moço, como já lhe disse, pode ficar com o menino. Na verdade, acho que estou fazendo um bom negócio... Sua mãe está aqui em casa e tem me dado muito prazer. Pense numa velhinha danada...

    - O quê?!!!

    - Estou dizendo que sua mãe está aqui comigo. E, com meu filho, eu nunca faria o que eu faço com ela. Rapaz, tu sabias que tua velha gosta de trepar?

    O cara me xingou de viado, me mandou tomar naquele lugar que eu nunca irei e desligou ou telefone.

    Enquanto me servia de uma dose de uísque, fiquei dando feições à velha que eu acabara de inventar.

     

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    Tia Lyka

    Carta do Exílio

    Tia Lyka, que foi colunista deste jornaleco,dando conselhos a quem buscava aconselhamento, fala sobre sua vida na Venezuela

    Barão, querido,

    Acostumada a ler e responder sobre dúvidas e sofrimentos de leitores do Roraima Agora, faço o caminho inverso para relatar sobre a fria em que me meti. Tomara que minha experiência sirva de exemplo para balzaquianas como eu e faça que mulheres evitem dar passos errados como eu dei.

    Conheci Ramon em festa de confraternização no final de dezembro. Encantada com o charme e com a trolha que ele traz entre as pernas, larguei tudo para tentar vida nova aqui na Venezuela. O sonho acabou; hoje, junto um dinheirinho escondido, roubado desse colombiano bandido, para, na primeira oportunidade, voltar para minha terra.

    Fui enganada. Eu, puta velha, fui passada pra trás e hoje estou comendo do pão que o diabo amassou. A casa que esse bandido me descreveu não existe. Moro em barraco de madeira coberto com palhas de inajá no meio do mato, longe de tudo e de todos. Água só de poço - que eu tiro - e fogão de lenha - que eu busco no mato. Para conversar, só a bruxa velha, mãe do homem que me trouxe pra esse inferno. Acho que dona Dolores se encarrega de me vigiar, pois a monga está sempre conferindo o que estou fazendo. Até pra cagar a megera me controla.

    Durmo tarde e acordo cedo. Minha rotina é trabalho. Lavo, passo, cozinho, tomo conta de dois meninos catarrentos que Ramon tem de outros relacionamentos. E costuro. Não costuro pra fora como gostaria, estou costurando numa velha máquina Singer de pedal, produzindo calções e camisas que Ramon vende para uns miseráveis que vieram procurar riqueza nessa terra nojenta.

    Pra comer, sardinha todo santo dia. Sardinha com massa de milho. Meu Deus, como tenho saudade de farinha! Às vezes, sonho comendo um feijão suculento com farinha d'água. Daquelas bem grossonas, tipo piçarra.

    Outro sofrimento: eu, que gosto tanto de transar, estou sendo comida só quando Ramon tem vontade. Pior é que ele dispensa a carne dianteira e só se interessa pelo meu rabo. Com uma rola daquele tamanho, tem dias que eu não posso nem me sentar. Gozar? Faz tempo que eu não sei o que é isso.

    Nesses dois meses em que estou aqui, nunca vi um xampu; fazer unhas, nem pensar. Sem me depilar, tenho vergonha de levantar os braços e ver os sovacos cabeludos. De tão grandes, dá pra fazer trança com os pentelhos da minha pequeca.

    Chega de falar de sofrimentos. Quero dizer que, a qualquer hora, sem avisar, hei de voltar para nosso querido Brasil e perguntar se, quando voltar, ainda posso contar com minha vaga como consultora do Roraima Agora.

    Amo vocês. Beijos no Neguinho e na Abelhinha de Cheetos.

    Lyka 

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    Aroldo Pinheiro

    OVNI de água doce

    No sábado de carnaval, acordo com telefonema. Não vou citar o nome de quem me ligou para não ter problema com a Justiça. O que esse arquiteto, nascido no Piauí, formado em João Pessoa, morador em Roraima há muitos anos queria falar comigo? Sei que ele está comemorando um ano de sobrevida com coração novo e turbinado. Resolvo atender:

    - Bom dia, cara...

    - Aroldo, tu gostas de disco voador?

    Que diabo é isso? Pegadinha? Convite para sair fantasiado em algum bloco carnavalesco? Alguma notícia sobre OVNI (Objeto voador não identificado) para meu jornaleco? Arrisquei:

    - Não tenho nada contra. Sobre o assunto,muita curiosidade...

    - É que vai ter um aqui em casa ao meio-dia e meia. Convidei só os amigos queridos e mais chegados...

    Agora deu. Aterrissagem de disco voador com hora marcada? Com comissão de recepção? Não sabia que meu amigo era chegado a essas coisas meio sobrenaturais. Aquiesci:

    - Tá bom. Posso levar meu fotógrafo junto?

    - Não. Sem câmeras. Sem registro.

    Pensei: "Puxa, tenho um furo à mão e não posso registrar?" Antes que eu me fizesse mais alguma pergunta, meu interlocutor acrescentou:

    - E não precisa trazer cerveja. O congelador está atopetado de garrafas vestidas de noiva.

    Pirei. Vão receber ETs com bebida? Que conceito os extra terrenos vão levar sobre terráqueos? Para ter certeza do que estávamos falando, resolvi mostrar minha ignorância sobre o assunto.

    - Cara, num tou intendeindo nada...

    Ele riu e disparou:

    - Porra, falar cifrado com quem não entende de cifras é foda. Tou falando de tartaruga, cara. Quelônio!!! Tartarugada com sarapatel, batidinho, farofa de casco com farinha do Uarini e molho com pimenta olho de peixe... – Acrescentou: "E se algum homem da lei estiver gravando esse telefonema, vai todo mundo preso".

    Rimos muito. O almoço estava delicioso. Bom reencontrar amigos em torno de um crime tão revigorante.

    Em tempo: Esta é uma história de pura ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. E ocorreu em Lethem, na Guiana – onde pode-se comer tartarugas à vontade.

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    Érico Veríssimo

    Uma Quarta-feira de Cinzas ad infinitum

    Suely Campos (PP) bem que tentou começar 2018 com o pé direito, mas foi pega por alguns infortúnios que jogaram ainda mais o seu governo na lama. Desde a nomeação de parentes e protegidos para o primeiro escalão de seu governo, seu mandato teve de tudo um pouco daquilo que não se deve ter para o bem da moralidade da coisa pública e bem-estar da população.

    O tempo passou e ficou cada vez mais difícil imputar a outros governos as consequências de erros que todos agora sabem muito bem por quem foram provocados. Em entrevista no fim de 2017, ao fazer uma espécie de balanço, Suely admitiu ter sido eleita no rastro daquilo que seu marido, o ex-governador Neudo Campos, havia feito. Mas, ao tentar a reeleição neste ano, ela afirmou esperar ser levada ao Palácio Hélio Campos em 2019 por aquilo que fez durante sua administração. Como diriam, só faltou combinar isso com os russos! Ou, melhor, com os eleitores, vítimas de um estelionato escancarado.

    A renúncia do vice-governador Paulo César Quartiero, um dos reveses sofridos por Suely neste começo de ano, ainda é um mistério. Ao se despedir do governo, ele fez questão de reforçar a necessidade de que Suely seja apeada do cargo por diversos motivos, entre eles, incompetência e "traição" ao Estado. O homem afirmou ainda que, ao renunciar, tinha a intenção de que a Assembleia Legislativa tomasse as rédeas da situação e levasse adiante um processo de impeachment da governadora.

    No mesmo dia da renúncia, o governo, por meio de um espalhafato promovido pela Secretaria de Segurança, afirmou ter encontrado na vice-governadoria um cheque de R$ 500 mil , além de farto material, que comprovaria que Quartiero vendeu o cargo e tudo se tratava de um complô para tirar Suely da jogada. 

    O governo de Suely, que sempre foi um verdadeiro Carnaval, com destaque para as comissões de frente familiares, alegorias de tremendo mau gosto e um enredo representando bem toda a bagunça institucionalizada que aí está, vai seguir num clima de Quarta-feira de Cinzas ad infinitum, com aquela estranha sensação do sujeito que passou dos limites, tomou todas, está com uma baita ressaca e, no fim das contas, se pergunta se valeu mesmo a pena tanta farra.


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    Aroldo Pinheiro

    O desconvidado

    Era como uma confraria. Todos se conheciam há muito tempo e tinham muito em comum. Oito casais de classe média que conservavam ótima convivência. Fins de semana, piqueniques, acampamentos, festas, barzinhos, boates, algumas viagens... Tudo eles faziam em conjunto.

    Na cidade, invejosos teciam mil histórias a respeito do grupo. Normal que fosse assim, como assim era na fábula da raposa e as uvas. Os comentários inventados com muita maldade não abalavam aquele relacionamento. Às vezes, até se divertiam sabendo que o grupo ocupava a crista da fofocagem cultivada pelos maliciosos.

    Surgiam histórias do tipo: "Ali rola cocaína!"; "Eles sempre se reúnem para um troca-troca"; "Ali, ninguém é de ninguém" "O caseiro do Alberto disse que a sala está sempre suja de pó branco depois das reuniões." Eles não estavam nem aí. Levavam suas vidas saudável e prazerosamente, aproveitando, comendo e bebendo do bom e do melhor... E se divertindo muuuuiiito.

    No carnaval, como sempre, reservaram duas mesas para as três noites de folia no melhor e mais tradicional clube da cidade. Escolheram fantasias, programaram onde seriam os "esquentas" e os "caldões da ressaca", estocaram uísque, cerveja, Engov, Sonrisal e Epocler para o período momesco e caíram na farra.

    Na última noite, terça-feira, lá estavam eles ora brincando nas mesas, ora dando voltas no salão, ora visitando mesas de amigos, ora dançando no meio da banda... Normal. A festa era só animação. Já tinha tocado o Zé Pereira, Mulata Bossa-nova, A Jardineira, Lambretinha, Máscara Negra, Bandeira Branca, Bibelô Chinês, Mamãe Eu Quero, alguns sambas-enredo...

    O dia amanhecendo e o carnaval comendo no centro. João Fernando, inconveniente, mau caráter, invejoso, fofoqueiro, casado com Marília, mulher, feia e mal enjambrada, encontrava-se no clube e, desde o início da festa, forçava uma situação para aproximar-se daquele animado grupo de amigos. Eles, conhecedores da fama e inconveniências do casal despeitado, não davam abertura.

    Lá pelas seis da manhã, já ao som de Cidade Maravilhosa - tradicionalmente última música do carnaval, João chegou-se a um dos integrantes daquela turma e, alto, ao seu ouvido, perguntou:

    - Escuta, a que horas vocês vão começar o troca-troca?

    Pedro, muito espirituoso, só pra sacaneá-lo, respondeu num tom que poderia ser ouvido por todos os presentes:

    - O nosso troca-troca vai começar daqui a pouco, logo que acabar a festa... Mas tem uma coisa, João, tu não podes ir conosco não. A tua mulher é feia pra caralho e quem ficar com ela leva desvantagem!!!

    Dada a resposta, Pedro José abriu largo sorriso de satisfação, sorveu reforçado trago de uísque e caiu, dedos levantados, no meio da folia:

    – ...cheia de encantos mil/Cidade Maravilhosa, coração do meu Brasil... 

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    Érico Veríssimo

    Os novos bodes expiatórios de um sistema falido

    O governo estadual há muito tempo já está no buraco. A situação da Pê-á é a representação máxima de uma administração que se perde em números e nas mais comezinhas informações. Ilustra, de forma inconteste, a falta de clareza e transparência que permearam os quase quatro anos de Suely no comando do Estado.

    A fuga anunciada de quase uma centena de presos poderia ser mais um duro golpe no governo da pepista, não fosse ela alvo constante das mais diversas críticas aos mais variados erros de sua administração, portanto, acostumada a levar porrada de todos os lados. Vale lembrar que eles fugiram por um túnel descoberto uma semana antes da ousada empreitada. Ele deveria ter sido fechado, mas, na mais absoluta imprevidência, não o foi.

    O sistema penitenciário é uma incógnita, assim como o é o governo de Suely. Não se sabe ao certo quantos presos há na Pê-á, quantos fugiram no dia 19 de janeiro, nem quantos, que deveriam estar encarcerados, estão por aí perambulando pelas ruas. O desencontro de informações pôde ser constatado nas declarações da Secretaria de Justiça que, no dia da fuga, em três ocasiões diferentes, informou números de fugitivos que variavam de 6 a 95, mesmo que policiais e agentes, sob sigilo, afirmem que eles, os fujões, ultrapassem os 200.

    Outro fato emblemático envolve a morte de um detento três dias após a fuga em massa e uma hora após ele dar entrada no presídio, logo depois de ter passado por uma audiência de custódia. A primeira informação da Sejuc foi a de que ele estava em uma sala de contenção com 11 presos que seriam investigados como suspeitos de tê-lo assassinado, ressaltando que essa execução nada tinha a ver com a debandada de sexta-feira.

    No dia seguinte, a própria secretaria informou que na tal sala havia 25 presidiários que estavam lá para prestar esclarecimentos sobre a fuga e deveriam depor, também, sobre a morte de Kayke Braga da Rocha. E tudo isso em meio à tentativa de atribuir aos agentes da Força Nacional a culpa pela fuga em massa. Se o mesmo acontecer com os homens da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária que deverão vir para o Estado, não será surpresa. Eles serão apenas os novos bodes expiatórios de um sistema falido. 

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    Aroldo Pinheiro

    Morto é morto

    Em Rurópolis, sul do Pará, aproveitando derrubadas de enormes árvores – suas e à sua volta – seu Manel adquiriu equipamentos e montou funerária que seria explorada pelo filho, Tuísca.

    De repente, uma tragédia! Na saída da cidadezinha, uma caçamba capotou. 14 mortos. O prefeito determinou que seu Manel fabricasse caixões para os desgraçados que tiveram o azar de morrer naquele fim de mundo.

    Seu Manel e Tuísca festejaram. Em um só dia, venderiam mais caixões do que venderam nos últimos cinco anos. Com pagamento antecipado, largaram o pau a construir ataúdes.

    Com os caixões acomodados no Mercedes 1111, o pessoal chegou ao galpão onde estavam os cadáveres. Combinados sobre o sistema a ser usado no reconhecimento e acomodação, seu Manel gritava: "Aroldo Pinheiro de Souza!" Tuísca, entre os corpos, localizava o nominado e respondia: "Presente!" O corpo era encaixotado e recebia papel de identificação.

    Um, dois, três, oito defuntos reconhecidos, prontos e acomodados em seus respectivos paletós de madeira; seu Manel seguia na chamada: "Moisés Brasilino Filho!"

    Tuísca se aproximou de defunto vestindo calça rosa de lycra, camisa azul degradê, com lenço de seda ao pescoço, e respondeu: "Presente!"

    Ao tentar arrastar o corpo, ouviu um sussurro efeminado:

    – Moço, eu não tou morto...

    – Papai, venha cá: esse cara diz que tá vivo! – Apavorou-se Tuísca.

    Seu Manel, papéis à mão, aproximou-se e ouviu o caboclo bodejar: – Eu tou vivo.

    – Vivo? Tu tá doido? – Questionou seu Manel, com medo de ter que devolver dinheiro por caixão não utilizado e, vendo o jeito estranho daquela aberração, acrescentou: "Olha, mana, tu pelo menos sabe escrever?" O empresário suspirou, puxou o moribundo pelos braços, acomodou-o no ataúde e encerrou: "Moisés, o doutor estudou muito pra se formar e disse que tu tá morto; o papel que o doutor assinou diz que tu tá morto... Agora, tu quer discutir com o doutor e com o atestado de óbito? Tu tá morto e vai ser enterrado, pronto!"

    Fez força, acomodou o gordo no caixão, jogou-lhe a tampa em cima e determinou:

    – Tuisca, aparafusa aí bem apertado, pois esse qualira é meio teimosinho!

    �Lw�@�_,. 

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    Aroldo Pinheiro

    Cabaré familiar

    Baiano, de Feira de Santana, Barroncas veio para Boa Vista em busca de dias melhores. Aqui ficou rico e empolgou-se. Ele, que era um exemplo de homem, entregou-se à farra, trocando Rotary, Maçonaria, patroa e filhos pela vida mundana. Dona Marieta não aguentou.

    Depois do divórcio, para tirar o peso da consciência, Barroncas jogava a culpa de seus desatinos em cima da sociedade que o acolhera. Fazia pouco caso e criticava as festas provincianas de que, outrora, fizera questão de participar.

    Por ocasião do carnaval, o empresário resolveu que tinha chegado a hora de dar o troco à sociedade hipócrita. Na terça-feira gorda, começou tomando cerveja e uísque no Cauamé e, de tardezinha, estava rodeado de mulheres em famosa casa de tolerância da, ainda, pequena cidade. No cabaré, convidou três quengas para acompanhá-lo ao baile no clube mais badalado de Boa Vista.

    Lá pela meia-noite, de braços dados com as três meninas graciosas, bem maquiadas, vestindo roupinhas que dariam tesão até no mais sério dos sacerdotes, Barroncas chegou à portaria do Iate.

    Ao ver a trupe, o porteiro não quis chamar pra si a responsabilidade de barrar ou a irresponsabilidade de deixar entrar o quarteto. Apelou para seu Alemão, um dos diretores do clube, para resolver o problema. Jeitoso, buscando evitar escândalo ou confusão, a autoridade iatiana conduziu o baiano para um canto e abriu-lhe o jogo:

    - Barroncas, você é gente boa e muito querido por todos nós. Nesse momento, queremos que você use o bom senso e, se quiser entrar no clube, devolva essas meninas para o lugar a que elas pertencem...

    - Mas por quê? – Desafiou o bebum.

    Seu Alemão resolveu ser direto:

    - É que aqui nesse clube, você sabe, só entram moças de família...

    Barrroncas contra atacou:

    - Companheiro, esse clube tá cheio de quengas. Olha, Alemão, ali naquela mesa da frente estão sentados seu Joaquim e as quatro putas que ele chama de filhas...

    Pra não perder a parada e não discutir com o bebum, o diretor sentenciou:

    - Tá bom, Barroncas: elas são putas conhecidas e putas conhecidas podem entrar ace =��_GՂ) 

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    Érico Veríssimo

    Entre os salários atrasados mais bem pagos do País

    Suely Campos (PP) começou o ano sacaneando o funcionalismo público de uma maneira especial. Sem pagar os servidores na data anunciada - 29 de dezembro -, ela reagendou o pagamento para 10 de janeiro, mas sem afiançar em público que isso de fato ocorreria.

    Sem dar as caras para falar a verdade a quem depende de salário para viver, a mandatária se esconde atrás de assessores e redes sociais para criar a sua ilha da fantasia, uma espécie de bolha própria em que o Estado teve "três anos de mudanças" e os professores, essa categoria tão desprestigiada, é uma das mais bem pagas do País - mesmo que não tenha seus recebimentos em dia.

    Nesse intervalo de incertezas, o que se tem em excesso são as especulações que pipocam nas redes sociais e angustiam cada vez mais o servidor público do Estado. Chegada a segunda data prometida, apenas os funcionários da Educação e Saúde receberam seus salários, aos 45 minutos do segundo tempo. E a justificativa para o atraso? Não há! E ainda mais quando se sabe que os recursos para a primeira categoria vêm do Fundeb, repassado mensalmente nos dias 10, 20 e 30. O mesmo ocorre com os da segunda, socorrida pelos repasses do SUS. Quanto às outras, sabe-se lá quando terão a mesma sorte!

    Enquanto Suely corre da sala pra cozinha para tentar pagar os servidores e fornecedores, numa aparente demonstração de esforço de que está querendo colocar o Estado (falido!) no rumo certo, dificuldades não há para pagar R$ 8.400 de diárias a Danielle Campos, sua filha, que ocupa o cargo de secretária da Representação do Governo de Roraima em Brasília.

    Daniella, segundo as más línguas, passa mais tempo em terras macuxis do que em solo candango, mas, mesmo assim, consegue levar dos cofres públicos essa dinheirama por permanecer 17 dias fora de sua "sede de trabalho". Enquanto isso, quem tem o seu local

    de labuta conhecido pelos credores, fica a ver navios toda vez que chega o fim do mês. Mas, o que importa, se os professores de Roraima estão entre os mais bem pagos do País? Como dizem, Educação é a base de tudo!

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    Aroldo Pinheiro

    O milagre dos pães

    E o novo governador chegou ao, ainda, Território Federal de Roraima. Como de praxe, prefeito e boa parte de auxiliares vieram na bagagem do chefe do Executivo. Homem de visão, vendo a possibilidade de fazer-se politicamente em terras macuxis, o coronel determinou que o novo administrador da capital contratasse valores locais para auxiliá-lo.

    Depois de sondagens, o prefeito contratou, entre outros nativos, Romualdo Pereira para a Comissão Permanente de Licitação e a esposa deste para a Tesouraria. O casal viu ali a chance de ganhar dinheiro fácil e fazer o pé de meia. Ansiosos por especializar-se na arte de roubar, como ratos, viam, na verdade, a possibilidade de encher muitos meiões com dinheiro tomado de fornecedores da prefeitura.

    Na maior cara de pau, Romualdo cobrava comissão de quem fornecia para a prefeiturae Edinete achacava esses mesmos fornecedores na hora de fazer pagamentos.

    Ao final do primeiro ano em cargos chave da administração, Romualdo e Edinete compraram enorme terreno em área nobre e deram início à construção de mansão com qualidade e toques de luxo que só os mais abastados possuíam na cidade.

    No segundo ano, em dezembro, o casal resolveu, aproveitando o aniversário de Romualdo,inaugurar a bela e luxuosa mansão. A alta sociedade local foi convidada para o regabofe. Governado, prefeito e todos os seus secretários também.

    Com música ao vivo, impecável serviço de bufê, bebidas importadas rolando solta, os convivas se divertiam como nunca. O prefeito, ´serio, encafifado, prestava atenção naquilo tudo; em determinado momento, segurou no braço de Romualdo, puxou-o para um cantinho, e assuntou:

    - Meu filho, nós tomamos posse juntos, meu salário é duas vezes o que você ganha, tenho mordomias que você não tem: que tipo de aplicação ou que mágica você faz para seu dinheiro render tanto? Enquanto você construiu essa mansão, tudo que eu consegui foi dar entrada num apartamentozinho de três quartos em Niterói. 

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    Tia Lyka

    Peido brochante

    Olá, ticos e ticas!

    Um abraço nos hermanos, especialmente àqueles que ficam limpando vidros de carros nos semáforos. Todos queridos e eu sei que estou devendo um monte de moedinhas pra vocês, mas não tenho culpa se recebo on-line e não tenho cofrinho pras moedas. Qualquer hora dessas pego vocês para gente tomar um caldo de bodó, tá?!

    Mas o papo aqui é de sacanagem, não de caridagem, portanto, gatinhos, vamos amolando a pica que tem papo na cuia. E hoje vamos falar de peido. Vixe, fedeu!

    Tia Lyka,

    Saí com um boymagia que conheci no Forró dos Velhos. O cinquentão era bem fogoso, trepamos a noite toda. Em dado momento, ele me pediu o 'anel de couro' e eu, chapada que estava, não neguei o roscofe. Só que o inesperado aconteceu. Quando o negão estava metendo a primeira, eu não aguentei a pressão e soltei um peido tão alto e forte que não teve tosse que disfarçasse o barulho. Resultado: o cara brochou na hora. Pior foi a catinga que ficou no quarto. Haja riscar fósforo pra acabar o fedor. E o bofe? Pense num homem que foi triste pra casa.

    Conversando com uma amiga, ela me disse que, se você peidar no pau de um macho ele brocha e nunca mais levanta. Fiquei apavorada com essa informação. É verdade?

    Josimária Antero S. Neto, 46 anos, balconista.

    Querida Josi,

    Tou aqui pensando na força desse peido pra derrubar um cacete. Deus me livre! Imagino você cagando. Seguinte, fofa: na literatura médica da tia Lyka não tem nenhum relato ou comprovação de que um peido no pau tenha causado brochamento irreversível. Como o seu caso é inédito aqui, sugiro que você mantenha contato com o boymagia, adiante que já tratou das tripas e nada de pôr cu no meio. Vá observando se a manjuba dele amolece durante a transa. Talvez, ele tenha brochado só pelo susto do trovão mesmo. De todo modo, você fica proibida de dar esse rabinho peidão pelos próximos 20 anos, tá?

    Fui!

    ble_zg`��, 

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    Érico Veríssimo

    Pior do que está, não fica! Boa viagem, Tiririca!

    No dia em que o Datafolha divulgou pesquisa mostrando que 60% da população reprova o Congresso Nacional, Tiririca resolveu, pela primeira e última vez, segundo ele, subir à tribuna para informar que vai abandonar a política tão logo termine seu mandato, afirmando, ainda, estar decepcionado com o que viu na Câmara nesses quase oito anos.

    Um dos deputados mais votados na história recente do País, o palhaço ressaltou seu desapontamento com os colegas, mas não relatou o que viu nesse período. Seria bom compartilhar com o público que tanto estima as sujeiras vistas no parlamento. Quem sabe, ao se afastar da vida política, Tiririca conte sua trajetória parlamentar em um livro?

    Apesar de ter feito muito barulho durante a campanha com o slogan "pior do que está não fica, vote em Tiririca", ele nunca se destacou no Congresso, exceto pelo fato de ser um dos parlamentares mais assíduos da Casa e não faltar às sessões. Mas, em dois mandatos, conseguiu aprovar apenas um projeto, que beneficiou sua categoria ao incluir espetáculos circenses na Lei Rouanet. Fora isso, a atitude de maior repercussão do deputado foi a de agora, quando fez seu "primeiro e último discurso".

    E, apesar de todo o caráter moralista, com um forte viés populista e demagógico na despedida, o palhaço assumido não fugiu das facilidades do cargo. Segundo a revista Veja, ele soube fazer bem feito o que seus colegas fazem rotineiramente: usar verba da Câmara para fins particulares. De acordo com a publicação, Tiririca viajou e fez show no interior de Minas Gerais com os recursos.

    Se os que estão nessa estrada da vida política há muitos anos dificilmente conseguem nos representar, alguém inexpressivo no papel que lhe cabe, certamente não o fará. Com a licença da rima, realmente, pior do que está, não fica! Boa viagem, Tiririca!

    RdK��5

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    Aroldo Pinheiro

    Velho escroto

    Fim de expediente, cinco e quarenta da tarde; apesar da hora, o calor roraimense está de espantar o capeta. Na lotérica, parece que resolveram desligar aparelhos de ar condicionado para economizar energia. Ninguém está aguentando o roubo praticado pela Eletrobras.

    Ali dentro, cerca de dez pessoas suam, se abanam e suspiram em fila que, para eles, é interminável. No segundo caixa, reservado para pessoas com deficiências físicas, uma velhinha se atrapalha com dinheiro trocado e todas as contas do mês.

    De repente, sujeito alto, barriga proeminente, vestindo calças jeans bem surradas que combinam com a camiseta desbotada, chapéu de pescador na cabeça, cruza a porta de entrada. Pés grandes, descalços, chamam a atenção dos presentes. Com papéis e dinheiro na mão, o novo cliente posta-se atrás da velhinha que tem dificuldade para fechar a conta.

    Caboclo alto, gordo, mal encarado, que ocupa a terceira posição na fila ao lado, olha agressivamente para o recém chegado e, ameaçadora e nervosamente, começa a sacudir-se sobre as pernas.

    Assim que a velhota acomoda papéis e troco na bolsa de pano e se afasta do guichê, o recém-chegado ocupa o espaço deixado, passa contas e dinheiro para a atendente e determina: "Faça também três Mega-Senas, por favor".

    O homão da fila ao lado, agora à véspera de ser atendido, brada:

    - Se eu não fosse o próximo da minha fila, eu ia tirar você desse caixa!

    O homem de chapéu olha para o ameaçador e pergunta: "É comigo?"

    - Sim. Quem você pensa que é pra chegar aqui assim e ser atendido na frente de todo mundo?

    - Sou só um cidadão que procura beneficiar-se de seus direitos.

    - Que direitos? Você é aleijado? É cego? Está grávido?

    - Não, meu amigo. Tenho 63 anos e, com essa idade, as leis me dão preferência.

    - Sessenta e três anos? Me engana que eu gosto...

    - É meu amigo: sessenta e três. Você acha que pra ter essa idade a gente tem que ficar feio e decrépito? Tenho 63 anos. Não vou lhe mostrar documento porque o senhor não é fiscal de idades nem merece minha atenção. Tenho prioridade e vou fazer uso dela.

    Chegou a vez de o agressor ser atendido e ele deixou o assunto de lado. Nisso, um velhote careca e encurvado que tinha entrado na lotérica quase sem ser notado aproxima-se do agredido e fala:

    - Ei, Abigobaldo! Vi tudo, cara. Bom saber que tu estás velho, mas continuas bonito e escroto. 

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