Crônica do Moroni

    Nada como o tempo

    Certa pessoa enfim foi pleitear o BPC – Benefício de Prestação Continuada. Este o nome correto do benefício concedido aos maiores de 65 anos. Chamamos impropriamente de aposentadoria. É concedido a todos, mesmo sem ter contribuído para a previdência. Basta ser considerado economicamente carente, de acordo com a lei.

    Lembrando que o BPC tem o valor de um salário mínimo.

    Nosso protagonista é um brasileiro honrado, cidadão exemplar. Trabalhou mais de quarenta anos, até que passou a ter problemas de saúde, e teve que reduzir as atividades. Ficou contando os minutos para chegar aos 65 anos e conquistar um pouco de tranquilidade.

    Trabalhou tanto na vida que até deixou de pagar suas contribuições previdenciárias. Se assim tivesse feito, já teria se aposentado. Mas, sempre pensou na família, criou e formou sete filhos. Também conseguiu que a esposa não precisasse trabalhar enquanto os filhos eram pequenos.

    Para receber o Benefício de Prestação Continuada, necessário analisar a renda de todos que moram na casa. Quando ele preencheu o cadastro, colocou ela como sua companheira em união estável. Quando foram analisar os dados dela, constou que ela era casada, mas com outro homem! Isto parou o processo, esclarecimentos seriam necessários.

    Eles viviam juntos já mais de trinta anos, em união estável. Apenas com a força do amor, e sem papeis, como ele se orgulha de afirmar. Na juventude, ela foi casada formalmente com um sujeito trinta anos mais velho. Era ainda uma menina e, de hora para outra, foi viver com um estranho como sua esposa. Não deu certo e, antes que viessem filhos, ela foi-se embora, sem olhar para trás. Para não ver mais o antigo marido, nem foi atrás de fazer o divórcio legal. No ‘papel’, ela permaneceu casada com ele a vida toda. Sofreu demais, tanto que tentou esquecer tudo. O que gerou o problema para o homem de sua vida.

    Necessário identificar seu esposo, para resolver a situação previdenciária. Algo burocrático, mas inafastável. Ela dizia que o ex-marido chamava-se TIÃO DE TAL. Então, buscou-se incansavelmente um SEBASTIÃO. Até que ela encontrou um documento antigo, e constatou que o nome do ex-marido era JOÃO DE TAL!

    Fizeram pesquisas no órgão previdenciário, e constatou-se que JOÃO DE TAL tinha falecido há apenas um ano. Tudo esclarecido, foi deferido pedido do BPC. Disse que aquele período foi tão triste para ela, que resolveu esquecer tudo que conseguisse. Depois de um tempo, nem mesmo recordava o nome do ex-marido! Como diz o ditado, “o tempo cura todos os males!”

    Perigos dessa vida
    Volta logo, amarelo seboso
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