Colunistas

    Jornal Roraima Agora
    Aroldo Pinheiro

    Juiz ladrão

    Depois do fiasco contra a Alemanha na última copa e do fraco desempenho sob a batuta de Dunga, a Seleção Brasileira de Futebol parece estar achando seu caminho.  Assim sendo, o verde-amarelo da camisa de nossos jogadores volta a empolgar torcedores.

    Expectativas, críticas às convocações, a eterna disputa com a Argentina, o medo de que equipes menores possam surpreender, o receio de enfrentar seleções famosas e maceteadas, tudo isso faz parte do dia a dia dos papos em esquinas e mesas de bar. O esporte trazido por Charles Miller par o Brasil, enfim é papo recorrente.

    Causos também. Há muita coisa interessante no anedotário do futebol Brasileiro.

    Quase todo cidadão boa-vistense com mais de quarenta anos conheceu Áureo Cruz. Nem que seja de ouvir falar. Elegante, galanteador, ele era uma espécie de príncipe no reino da Macuxilândia.

    Nascido de família abastada, as poucas vezes em que trabalhou foram para tirar algum proveito social ou investir em nova paquera. Áureo, entre outras coisas, foi diretor e locutor da Rádio Difusora Roraima. Apaixonado por esportes, fazia parte da Federação Roraimense de Futebol e do quadro de árbitros local; Áureo, também, era torcedor fanático do Atlético Roraima Clube.

    Estádio João Minieor, alguma tarde dos anos 1960. Lotado. Mais de 30 pessoas ocupavam o palanque coberto de zinco; umas 80 se aboletavam no alambrado de madeira que isolava o campo de terra. De terra não: de barro. Naquele tempo, não existiam gramados em Boa Vista. O povo esperava o início do clássico: Baré X Roraima. Só havia dois clássicos no território: Baré X Roraima ou Roraima X Baré.

    O primeiro tempo da partida terminou zero a zero. O segundo seguia modorrento. Os atletas suavam a cachaça ingerida no sábado; estavam amis pra tomar água do que pra correr atrás da bola. Aos 32 minutos, Roberto recebeu um lançamento e, de trivela, chutou contra a meta guardada por Guilherme. Mário Rocha acordou para mexer no placar.

    Áureo Cruz, o árbitro, se desesperou. Ameaçou até expulsar o bandeirinha que não tinha marcado o off side¹. Do reinício do jogo até o fim dos 45 minutos regulamentares, o Baré prendia a bola e administrava a vitória. A torcida alvi-rubra festejava a conquista do troféu Governador do Território.

    Quarenta e seis minutos. O árbitro, sem encarar o público, deixava a bola rolar. Quarenta e oito, quarenta e nove, 50 minutos. Abdala Fraxe ameaçava invadir o campo. Aos 57 minutos, Tracajá roubou a pelota do center half² barelista e, morrendo de cansaço, chutou contra a meta de Zé Maria. Chute chocho. O goleiro escorregou, caiu e a bola entrou. O árbitro sorriu e deu um pulo com a mão fechada para cima; em seguida, recolheu a redonda e apitou o fim da partida. Pronto. A final do torneio ficou transferida para o próximo domingo.

    Protegido pelos guardas territoriais, Maxixe, Duca, Coivara e Cento-e-seis, o juiz cruzava o portão do estádio sob protestos da torcida do Baré, quando Antônia Mariê aproximou-se de Áureo, meteu-lhe o dedo na cara e disparou:

    - Juiz ladrão!!!

    Áureo, com empáfia, antipatia, imponência, prepotência e ironia, respondeu à torcedora:

    - O juiz pode ser ladrão, mas é soberano.

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    off side¹ - impedimento.

    center half² - meio de campo

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    Tia Lyka

    Dar ou perder?

    Olá, coleguinhas,

    Agora deu. Prima minha veio passar uns dias em Boa Vista e ficou apavorada porque me viu receber três homens diferentes em três saídas. Disse que eu sou muito fácil e que, assim, não vou arranjarninguém pra viver comigo. Mas, cá pra nós, quem disse que eu estou atrás de companheiro? Essa experiência eu já tive. Se pintarem dez homens, eu dou dez vezes. Sem remorso. Quem sabe se amanhã estarei viva? Por coincidência, a professora Anita dos Santos, 41 anos, consulta sobre isso de dar na primeira ou guardar a queca pra depois.

    Tia Lyka,

    Estou perdida. Conheci um cara no Facebook e ele vem passar o feriado de 1º de maio em Boa Vista. Em nossos papos, trocamos algumas intimidades. Pergunto: dou pra ele no primeiro encontro, ou me guardo para depois?

    Anita,

    Importante é o clima. Se rolar tesão, por que não dar? Você acha que o boymagia vem para uns jantarezinhos e fazer passeios turísticos com você?

    Se o cara enfrenta 700 quilômetros pra te ver, ele vem atrás de tua periquita. Se você não der, pode ser que ele encontre alguém e te delete do rol da amizades no Face.

    Veja que você já está nos enta e a concorrência é braba. Com essa falta de macho de verdade, as menininhas estão dando sem nem se preocupar se o caboco é feio ou se vai rolar um bis.

    Não leve meus conselhos como incentivo, mas, sem dar, o risco de perder o visitante é grande. E como é que ele pode querer bisar se não teve a primeira vez?

    Dê, minha filha. Dê e goze gostoso.

    Fui!

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    Aroldo Pinheiro

    O tenente e as medalhas

    Doutor Francisco Elesbão da Silva, médico baiano que adotou Boa Vista para viver e morrer, dizia não conhecer povo tão espirituoso, tão sacana, quanto o povo de Roraima. Bambão se divertia com o anedotário macuxi. Como se não bastassem as histórias protagonizadas por nossa gente, de vez em quando, pessoas vindas de longe tomam para si o papel principal de causos interessantes.

    Criado em 1943, o Território Federal do Rio Branco recebia governadores escolhidos na capital do Brasil. Muitas vezes, esses governantes eram pessoas inconvenientes para o Executivo federal, que, para ver-se livre de aporrinhações, mandava-os para bem longe. Mais longe do que o Território do Rio Branco? Impossível.

    Lá pelo final dos anos 1950 – ou início da década de1960 –, o novo governador trouxe em sua equipe, um tenente que, na função de ordenança, fazia tudo o que seu mestre mandava. Insistente e persistente, tenente Palma Lima conseguiu ser nomeado prefeito de Boa Vista.

    Palma Lima era apaixonado pelo Exército e tinha verdadeira adoração pela farda verde-oliva. Sempre usando impecável uniforme engomado e vincado, sapatos tão brilhantes que refletiam a luz do sol, óculos Rayban – independentemente do local e da hora do dia –, o tenente gostava de desfilar entre sua moradia, na Praça do Centro Cívico, a residência governamental, na avenida Jaime Brasil, e o Palácio do Governo, na esquina da rua Coronel Pinto com a avenida Getúlio Vargas. Narcisista ao extremo, ele imaginava que a população o admirava da mesma maneira que idolatrava os astros do cinema americano daquele tempo.

    No peito, Palma Lima carregava muitas medalhas. Até hoje, não sei onde nem como o militar conseguiu tantas comendas. Dizem até que ele comprou alguns daqueles enfeites. Na cidade, a empáfia do militar tornou-se motivo de piada e deu origem a algumas expressões. Se um cidadão comparecia muito elegante a qualquer acontecimento, alguém comentava: “Tu estás mais bonito do que a farda do tenente”; se uma mulher surgia com brincos, pulseiras e cordões de ouro exagerados, ouvia: “Tu estás mais dourada do que o peito do Palma Lima”.

    O tenente sentia tanto orgulho da farda que fazia questão de pendurá-la na janela de seu quarto no Hotel Boa Vista, hoje, Aipana Plaza. Com as medalhas cuidadosamente viradas para a entrada do estabelecimento, claro.

    Exonerado o governador, Palma Lima deixou Boa Vista.

    Certo dia em Manaus, lanchando na Sorveteria Siroco, olhei para o lado e vi, na janela de apartamento térreo do pequeno Hotel Ideal, uma jaqueta verde-oliva bem passada, bem vincada. Dezenas de medalhas naquela peça de roupa chamaram minha atenção. Pedi a conta e assuntei com o garçom: - Você sabe o nome do militar que mora naquele apartamento?

    Com sorriso maroto, o rapazola me respondeu: - Quem mora aí é o Tenente Medalhinha. – E arrematou: “Toda tarde, ele se fantasia de general e faz plantão na esquina pro povo admirá-lo”

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    Érico Veríssimo

    O desocupado que se ocupa de ocupar terras

    O guerrilheiro bananeiro está mais entusiasmado do que nunca, como pudemos ver nas últimas semanas. Faradilson Mesquita, o desocupado que se ocupa de ocupar terras alheias prometendo mundos e fundos para almas nem tão inocentes, agiu nos bastidores (e fora deles) para arregimentar pessoas a fim de construir o que seria, segundo ele, o maior bairro popular de Boa Vista. Conforme noticiado, ele teve o oficioso apoio oficial da cúpula do governo de Suely Campos nesse projeto em que postulantes a um lote na área invadida foram comparados ao “povo de Israel na beirinha da terra prometida”.

    Faradilson, como já visto, é um agitador profissional. Joga com a inocência de pessoas humildes e conta com a ajudinha de figuras de “alta patente” na busca pelo Eldorado Macuxi.

    A denúncia de que ele estaria sendo apoiado por ocupantes de cargos públicos deve ser investigada Se houver comprovação do envolvimento dessas pessoas nas aventuras do bananeiro, elas devem ser enquadradas na lei.

    Faradilson não tem limites, como demonstrado em todos os cantos. Responde a processos na Justiça, mas, à medida que o tempo passa, parece que sua sede por baderna e enganação, além da clara tentativa de se tornar um líder sabe-se lá de que, aumentam mais e mais, conforme gravações de reuniões promovidas por ele.

    É preciso ter cuidado com essa vontade incontrolável de Faradilson de estar à frente do que ele considera um movimento social. Invasão de terras é crime, e ele bem sabe disso. Não é possível afirmar que todas as pessoas levadas pelo “desocupado profissional” a agir dessa maneira sejam iguais a ele. Prefiro crer que, muitas delas, levadas pelo desespero de ter um pedaço de chão e um teto para morar, são aliciadas pelas promessas dessa eminente “liderança”.

    Faradilson, o tempo da terra sem lei já passou, ainda que os que deveriam ser os primeiros defensores da lei estejam, sabe-se lá em que circunstâncias, ao seu lado!

    Alguém se habilita a apurar ou estão todos comprometidos com a “revolução” do “líder”?

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    Aroldo Pinheiro

    Hipocondria

    - Bom dia, dona Rosa, tudo bem?

    - Que nada meu filho, a coluna hoje tá incomodando tanto que dá vontade de morrer...

    - Oi, dona Rosa, há quanto tempo; alguma novidade?

    - Essa enxaqueca me incomoda demais. Já tomei três Cibalenas e a dor de cabeça não passa...

    - Ei, dona Rosa, a senhora por aqui? O que houve?

    - Vim trazer a mamãe pra fazer a hemodiálise. Enquanto ela está na máquina, aproveitei para bater uma chapa, pois ando sentindo umas dores muito esquisitas na parte superior do
    pulmão esquerdo. Acho que tenho algum problema na pleura.

    Cefaléia, otite, sinusite, gengivite, afta, bócio, bursite, artrite, hérnia de disco, bico de papagaio, prisão de ventre alternada com diarréias, corrimento, joanete, unha encravada, ela reclamava de tudo. Doença era com ela. Dona Rosa reclamava até de peido engatado. 

    Quando dona Rosa não tinha nenhum sintoma anormal, transferia para os parentes. Suas conversas eram sempre recheadas com doenças e tratamentos. Além da hipocondria, ela era
    de um pessimismo ímpar. Acho que, quando criança, assistiu muito aos desenhos de Hardy Har-har - aquela hiena que passava o tempo todo resmungando “Oh, dia..., oh, azar... Eu acho que não vai dar certo”.

    No dia seguinte ao seu quinquagésimo aniversário, dona Rosa decidiu fazer um check-up. O médico, ao estudar o calhamaço de exames, auscultar, e medir pressão, deu-lhe a inesperada e triste notícia:

    - Dona Rosa, a senhora tem saúde de ferro; nesse embalo a senhora chega fácil, fácil nos cem anos.

    A paciente caiu em desespero:

    - Esse doutorzinho é um incompetente. Já pensou: vem dizer que eu, logo euzinha, não tenho nada? Vou procurar outro médico, pois tenho certeza que minha saúde não anda nada
    boa... Pra cima de moá, jamé...?

    Visitou um, dois, quatro especialistas e o diagnóstico era o mesmo: “Saúde de touro, dona Rosa (ou seria saúde de vaca?)”.

    Desiludida com os médicos de sua cidade, dona Rosa decidiu consultar-se em Brasília, que considerava a referência da medicina nacional. Depois de visitar oito médicos e ouvir afirmações positivas sobre sua saúde, ela sentenciou:

    - A medicina nesse país tá uma vergonha. Esses médicos novinhos não tão com nada. Como é que não acharam nenhuma doença nesse corpo todo dolorido e alquebrado? Se eu morrer, minha filha, pode processar o plano de saúde.

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    Ulisses Moroni

    Crianças sempre crianças

    Aqui em Boa Vista tenho visto algumas cenas que demonstram a força de “ser criança”, de sua forma de ver o mundo. Três cenas que presenciei com nossos irmãos venezuelanos,
    que vêm para cá tentar vida nova:

    Na porta de uma lanchonete ficavam aquelas índias, com filhos pequenos ao lado, pedindo esmolas. Inclusive parece que saíram de Boa Vista, não mais as vi nos semáforos. Entrei na
    lanchonete e me pediram uma esmola. Não daria dinheiro, mas um alimento sim. Comprei um pacote de balas para meu filho e uns salgados para aquelas crianças, eram duas. Dei os salgados para a mãe, sob o olhar indiferente dos infantes. Quando viram na minha mão o pacote de balas, os olhos delas brilharam e passaram pedir as guloseimas. A mãe até não gostou, parece que somente ela deveria pedir esmolas. Mas entendi a mensagam e dei as balas às crianças. Que alegria sincera em seus olhos e sorrisos!

    Caminhando para meu o carro estacionado, vi uma cena mais forte. Numa lixeira, uma família de venezuelanos mergulhava para buscar algo. Era um lixo grande, um tambor, de um
    establecimento comercial. Também havia duas crianças, e de repente uma delas achou ali dentre algo similar a um brinquedo. Foi o suficiente para a outra se aproximar e brincar junto, pela calçada, se afastando dos pais que se mantinham mergulhados na lixeira. 

    Num caixa eletrônico de um banco umas duas ou três famílias venezuelanas se protegiam do calor sob o ar condicinado. E aproveitavam para pedir esmolas. Dentre oa adultos, apenas
    mulheres. Parece que eram avó, mães e tias. Umas cinco ou seis crianças com elas. Os adultos, na porta, um local estratégico, pediam cédulas. Estratégico, pois quem vai ali via de regra saca dinheiro.

    Como os adultos logo recebiam um sonoro não dos clientes do banco, então era a vez das crianças ‘entrarem em ação’. Elas iam até os clientes já nos caixas e pediam algo, geralmente
    estendendo a mão. Mas, ali também logo falava mais alto sua principal característica: serem crianças! Uma vinha por trás e pulava nas costas da outra, que passava a correr. As outras aproveitavam que o espaço era grande e passavam a correr também, umas pulando e sobre as outras, brincando e se divertindo!

    Sob o olhar meio reprovador dos pais, que talvez desejassem delas que fossem bem sucedidas nos pedidos de esmolas. Mas talvez se esquecessem que crianças, antes de tudo, da condição econômica, da nacionalidade, ou qualquer outra coisa, são crianças! Sedentas de brincar, pular, sorrir e gritar.

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    Aroldo Pinheiro

    Morto é morto

    O sul do Pará andava movimentado. Garimpeiros desenganados por riquezas de Serra Pelada procuravam ocupação, sobrevivência. Às margens de estradas mal feitas e perigosas, pipocavam novos núcleos habitacionais. Uma mercearia, um lugar que vendesse qualquer tipo de comida e um puteiro eram o suficiente para dar origem a uma nova cidade.

    Em Rurópolis, seu Manel se destacava como o maior empreendedor. Vendo derrubadas de enormes árvores – suas e à sua volta – comprou duas serras circulares e montou madeireira. Em seguida, comprou desempenadeira, tupia e plaina e montou movelaria. Móveis toscos, mas móveis. Para não desperdiçar aparas de madeira, seu Manel decidiu montar funerária que seria explorada por seu único filho, Tuisca.

    Tuisca reclamava da falta de clientes para a funerária. No mês de agosto, ele se lembrava que o último caixão feito tinha sido para dona Merandolina, em fevereiro, serviço pelo qual não recebera, pois a gorda senhora era sua comadre e ele teve vergonha de apresentar fatura para o viúvo. E olha que, para acomodar quase 200 quilos da matrona, o caixão levou muito freijó.

    Tragédia! A caminho de Itaituba, na saída de Rurópolis, uma caçamba capotou. Mais de 50 feridos, 14 mortos. O prefeito do município tomou providências para que os peões tivessem enterros decentes. Depois de reunir-se com delegado, médicos, padre e pastor, determinou que seu Manel fabricasse caixões para os desgraçados que tiveram o azar de morrer naquele fim de mundo.

    Seu Manel e Tuísca festejaram. Em um só dia, venderiam mais caixões do que venderam nos últimos cinco anos. Garantindo pagamento antecipado, compraram combustível, contrataram peões e largaram o pau a construir ataúdes. 

    Com os caixões acomodados em surrado Mercedes 1111, o pessoal chegou ao galpão onde estavam, lado a lado, os cadáveres. Combinados sobre o sistema a ser usado no reconhecimento e acomodação, seu Manel gritava: “Aroldo Pinheiro de Souza!” Tuísca, entre os corpos, localizava o nominado e, ironicamente,respondia: “Presente!” O corpo era acomodado em caixão e recebia papel de identificação.

    Um, dois, três, oito defuntos reconhecidos, prontos e acomodados em seus respectivos paletós de madeira; seu Manel seguia na chamada: “Moisés Brasilino Filho!” Tuisca se aproximou de gordo, careca e feio defunto, vestindo estranha calça rosa de lycra, camisa em azul degradê, com lenço de seda ao pescoço, e respondeu: “Presente!” 

    Ao tentar arrastar o corpo, ouviu um sussurro efeminado:

    – Moço, eu não tou morto...

    – Papai, venha cá: esse cara diz que tá vivo! – Apavorou-se Tuísca.

    Seu Manel, papéis à mão, aproximou-se e ouviu o caboclo bodejar:

    – Eu tou vivo.

    – Vivo? Tu tá doido? – Questionou seu Manel, com medo de ter que devolver dinheiro por caixão não utilizado e, vendo o jeito estranho daquela aberração, acrescentou: “Olha, mana, tu pelo menos sabe escrever?” O empresário suspirou, puxou o moribundo pelos braços, acomodou-o no ataúde e encerrou: “Moisés, o doutor estudou muito pra se formar e disse que tu tá morto; o papel que o doutor assinou diz que tu tá morto... Agora, tu quer discutir com o doutor e com o atestado de óbito? Tu tá morto e vai ser enterrado, pronto!”Com dificuldade, acomodou o gordo no caixão, jogou-lhe a tampa em cima e determinou:

    – Tuisca, aparafusa aí bem apertado, pois parece que esse qualira é meio teimosinho!

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    Tia Lyka

    Consolo de corno

    Meninas, Hoje eu estou com o cão no couro. Em festinha pra lá de íntima, me apareceu um alemãozão todo grande. Eu me engracei e levei aquele deus pra tirar-lhe o sumo em minha humilde residência.

    Ices consumidas, uns amassos, quando venho do banheiro, depois de me assear, o homem me diz que “está com dor de cabeça”. Pode? Despachei-o e, naquela noite, me socorri com um consolo que guardo para essas horas solitárias.

    Depois daquilo, amiga me disse que minha Coca-Cola era Fanta. Ela me garantiu que aquele homão tem um caso com um capitão. Cabe denúncia ao Procon?

    Mas o caso de Lindinalva Silva, professora, mãe de uma menina é mais sério:

    Tia Lyka, Eu e minha irmã nos casamos com dois belos rapazes lutadores de Jiu-Jitsu. A amizade entre os concunhados crescia de forma natural. Muitas vezes, eles, nos tapetes de nossas casas, treinavam golpes aprendidos na academia. Até aí, tudo bem. No sábado passado, voltei um pouco mais cedo do trabalho e dei com os dois, nus, se agarrando em cima de minha cama. Apesar da insistência de meu marido, sei que aquilo não era luta. E agora?

    Lindinalva, A coisa anda muito séria. Homem, com agá maiúsculo, está cada dia mais difícil. Se você for moderninha, abra o jogo com sua irmã e vivam felizes, os quatro, para sempre; agora, se quer levar vida nos padrões ditos normais, dê as contas do boymania e arranje um que preste mesmo. Escolha alguém que lute boxe ou caratê.

    Fui!

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    Érico Veríssimo

    Guerrilheiro bananeiro

    Manifestação encomendada, patrocinada por gente com os interesses mais escusos e usando a boa vontade do povo não é novidade pra ninguém. Organizar meia dúzia de gatos pingados não é difícil quando se tem por trás o vil metal, uma marmita ou o simples pão com mortadela e suco de caixinha para juntar o que, na cabeça de alguns, é anunciado como “multidão”.

    Relatos de pessoas que participaram de protestos sem saber contra o que se estava protestando são comuns. Os mais humildes são sempre os que pagam o pato e se tornam figurantes de cenas que se repetem cada vez mais, comandadas por gente de índole duvidosa.

    Roraima também tem o seu Guilherme Boulos, que responde pelo nome de Faradilson Mesquita!

    Ninguém sabe de que esse sujeito se ocupa, além da famigerada atuação de baderneiro e agitador, atuando contra quem quer que seja desde que atenda aos interesses daqueles que o bancam. Ao que tudo indica, o homem é uma espécie de “coordenador de manifestações”, seja lá o que isso signifique!

    No fim de semana, Faradilson foi acusado por alguns “manifestantes” de tê-los enganado. Segundo os participantes de um pretenso protesto contra o governo federal e sua base de apoio, eles foram aliciados pelo agitador profissional com a promessa de que receberiam terrenos em um bairro que seria construído pelo governo do Estado. Surgiu ainda a informação de que custeando Faradilson e sua suposta vocação para atrair “multidões” estava o chefe da Casa Civil, Oleno Matos.
    A verdade tem de vir à tona! Dizem que, por tal serviço, o “coordenador de manifestações” receberia R$ 30 mil.

    Com toda a pose de guerrilheiro bananeiro, usando uma jaqueta camuflada e ladeado por seu séquito, que certamente recebeu uma “pontinha” pra protestar de “forma espontânea”, Faradilson saiu caminhando pelo Centro Cívico como se estivesse acima de qualquer suspeita e de nariz empinado como se fosse um sujeito com a mais das ilibadas condutas.

    O protesto foi um fiasco! Não durou sequer uma hora! O homem das “multidões” foi vaiado pelas pessoas que foram enganadas e não conseguiu seu grande intento: derrubar do poder os políticos aos quais ele se “opõe” quando lhe pagam bem.

    É bem provável que o feitiço tenha se voltado contra o feiticeiro e outro grande intento de Faradilson também não tenha sido alcançado: pelo fracasso de sua atuação, é certo que aqueles R$ 30 mil não lhe cheguem às mãos!

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    Aroldo Pinheiro

    Noite de terror: barraco com plumas e paetês

    Depois de insistentes toques na campainha, abro a janela. Através das grades do portão, vejo as portas de um carro se abrir e, dele, uma profusão de cores cintilantes e gestos espalhafatosos. Figura gorda, traços indígenas – de longe, não dá pra saber se homem ou mulher –, trajando camisa rosa em degradê, grita com voz afetada:

    – Estamos aqui para reclamar em nome da classe; podemos entrar?

    Não sei a que classe a pessoa se refere. Sou contra visitas não anunciadas. E o que vizinhos falariam depois de ver aquelas coisas invadindo meu espaço em plena madrugada?

    Acendo um cigarro e peço-lhes que me liguem pela manhã. Proponho fazermos lanche em lugar discreto, onde eu pudesse ouvir reclamações e argumentos.

    De lá detrás, um dos visitantes, alto, sessentão, cabelos acaju e barba bem desenhada, propõe: “Vamos embora, meninos. Esse velho não tá com nada”.

    Antes que puxasse a última baforada de meu cigarro e fechasse a janela, outro veículo estaciona ao lado do primeiro. Dele, surge uma mulher feiosa, cara-de-cachimbo-cru, corpo talhado com machado, que grita: “É com o senhor mesmo que nós queremos falar!”

    “Ai, meu Deus, será que esse povo tá na porta certa?”, pensei. Digo à parente de Madame Min que estava dormindo, informo-lhe o número de meu celular e peço-lhe que me ligue pela manhã. “Não muito cedo, claro”.

    Os ocupantes do primeiro carro iniciam discussão com a bruxa do segundo. Acho que se conhecem. A mulher se diz defensora dos direitos e dos bons costumes; a figura estranha – aquela que eu não sei se é homem ou mulher – afirma ser homossexual assumido e que ninguém tem nada com isso. O bate-boca continua. E eu continuo sem saber se a figura foi registrada como macho ou como fêmea, pois, sabemos, homossexual pode pertencer a qualquer gênero.

    O barraco está armado. Imagino que tipo de comentários esse quiproquó vai render a meu respeito.

    Resolvo ignorar a pequena turba. Puxo nova tragada de novo cigarro que acendi sem me dar conta e, antes de jogar fora a guimba, vejo estacionar à frente de minha casa um terceiro veículo; nele, a inscrição “Associação dos Sambistas e Pagodeiros de Roraima”. Conversei com meus botões: “Agora deu. O carnaval está feito...”

    Algumas luzes se acendem nas casas vizinhas, silhuetas se desenham em cortinas, cachorros latem. Meu celular toca escandalosamente. Estiro o braço e, ao procurar identificar a origem da chamada, vejo piscando no display: “ALARME, 8H30; OPÇÕES: DESLIGAR, SONECA”. Desperto, desligo o despertador, olho pro teto, e eu, que não creio, dou graças a Deus por tudo não ter passado de pesadelo. 

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    Érico Veríssimo

    Um dia especial?

    Na semana em que se celebra o Dia da Mulher, nada melhor do que receber como homenagem uma atenção especial do governo: a suspensão de cesarianas na única maternidade do Estado, que atende também pacientes da Guiana e Venezuela. É chato bater na mesma tecla, mas é preciso que se faça isso para que as autoridades sejam cobradas e os erros não continuem se repetindo. Falo isso porque, volta e meia, o Hospital Nossa Senhora de Nazareth vira notícia pelas coisas erradas que lá acontecem. Alguns desses problemas, inclusive, já foram relatados aqui neste espaço.

    Na terça-feira, pacientes denunciaram a um jornal local que as cirurgias estavam suspensas por falta de material cirúrgico. Uma delas ficou internada por três dias. Na data em que deveria se submeter à cesariana, os médicos cancelaram por não haver os instrumentos necessários. A Secretaria de Saúde informou que os procedimentos cirúrgicos seriam retomados no dia seguinte. Espero que isso realmente tenha acontecido, pois, como de costume, os menos favorecidos é que sempre pagam o pato.

    Na semana passada, era no hospital de Rorainópolis que faltava material. Lá, como em Boa Vista, uma grávida foi mandada de volta pra casa porque não havia anestesia para que ela pudesse dar à luz.

    O que adiantam homenagens estampadas em outdoors e páginas de jornal, se na “vida real” e no dia a dia as homenageadas ficam a ver navios quando o assunto é acesso ao serviço público mais básico?

    Dia da Mulher é hoje, amanhã e depois. Seria muito melhor se, em vez de lembranças esporádicas e flores, elas tivessem o que de fato precisam. Já seria um presente bem recebido em qualquer época a maternidade funcionar como deve e atender essas mulheres “vítimas” do Estado mal administrado. Elas não precisam apenas de um “dia especial”, mas de atenção o ano todo.

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    Tia Lyka

    Só pensa naquilo

    Olá, queridos!

    A mulherada tem me perturbado querendo saber truques para prender macho. Simples: põe um saco de maconha debaixo da cama dele e chama a polícia.

    Ora, suas mal-acabadas, o que prende homem é boquete, caldinho de caridade e escalda-pés. Não precisa ser nessa ordem. Conheço muita mulher que perdeu marido para outro homi. Também, não tem quem chupe melhor um pau do que outro macho.

    Cuidem de aprender a chupar (tia Lyka tem ensinado o passo a passo aqui). O resto é bônus. Mas hoje vou acudir a professora Teresa M. Osório, 42 anos, maranhense de Barra do Corda.

    Tia Lyka,

    Nunca me casei, tive só uns namoricos. Com a idade, tenho sentido uns calafrios e não paro de pensar em sexo. No trabalho, gosto de ficar me esfregando no canto da mesa, acho que meus colegas já perceberam. Colocaram um apontador de lápis no lugar, mesmo assim, eu me enrosco de vez em quando. O que faço para deixar de sentir essa bulinação?

    Querida Teresinha,

    Senhora é a mãe. Sou velha, mas trepo mais do que as novinhas.

    Seguinte: Filha, você tem urgentemente que dá essa queca!! Se não liberar o gozo contido aí dentro, você vai explodir no meio da rua - que nem o pintinho sem cu (já ouviu essa piada?). Vou te enviar uma piroca amestrada que tenho aqui. Melhor que marido. Só não se esquece de comprar pilha.

    Fui!

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    Aroldo Pinheiro

    Jogo do bicho (modalidade síria)

    Nos anos 1940, depois de desmembrado do Estado do Amazonas e chegado à condição de território federal, o Rio Branco – esse foi o nome dado a uma das novas unidades da Federação – recebeu migrantes de diversos lugares. A grande maioria tinha deixado suas terras natais para buscar dias melhores cá nessas plagas. No meio de nordestinos, alguns sírios também descobriram a nova fronteira brasileira.

    Comerciantes se estabeleceram na rua principal de Boa Vista, a capital. Entre novos moradores, um desses sírios, ao ouvir falar sobre fortunas que banqueiros do jogo do bicho faziam no Rio de Janeiro, resolveu, ele mesmo, criar sua loteria zoológica. Sem conhecer os mecanismos usados na capital federal, Efraim, utilizando os mesmos 25 animais escolhidos por Barão de Drumond, escolhia, pela manhã, o nome do bicho a ser dado na apuração, escrevia-o em pequeno pedaço de papel, colocava esse papelucho numa caixinha de madeira e, por meio de barbante, deixava-a no topo de um mastro. Ao entardecer, a caixa era arriada e todos ficavam sabendo o resultado.

    Naquela época, no Maracangalha, barzinho onde se serviam cervejas mornas e bebidas quentes pegando fogo, a canalha resolveu contratar Agamenon, adolescente que vivia sob a tutela de Efraim para que, sem desconfiança do velho, visse o nome do bicho a ser escolhido para a tarde de sexta-feira.

    Cedinho, quando Efraim desenhava letras no papelucho, Agamenon esgueirou-se para ajudar os frequentadores do bar e defender um trocado para si. Pelas onze da manhã, no barzinho, o menino, sem jeito, tentou justificar-se:

    - Olha gente, não deu pra ver direito... Mas eu garanto que o bicho começa com B.

    Com propósito de quebrar a banca do neófito bicheiro e fazer farra com a grana do prêmio, os clientes de Abel Mesquita carregaram apostas no burro e na borboleta – únicos animais pertencentes ao jogo a iniciar-se com a letra B.

    Velho Efraim estranhou o grande volume de concorrentes naquele dia.

    Ao final da tarde, mais de 100 pessoas em volta do mastro, todos com sorrisos marotos estampados nas faces, viram o velho descer a caixinha, abri-la, desdobrar o papelucho e anunciar:

    - Brimas, deu biru!

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    Érico Veríssimo

    Com as barbas de molho e de olhos bem abertos

    Raryson Nakayama, ex-prefeito de Iracema, “deu o ninja” em documentos públicos, omitiu informações ao TCE e conseguiu fazer com que duas motos e uma ambulância a serviço da Secretaria de Saúde desaparecessem como num passe de mágica.

    As irregularidades foram descobertas durante mais uma fase da operação Jatevu.

    Embora não tenha tido o mesmo destino de seu colega de Uiramutã, preso em janeiro deste ano em outra etapa da mesma operação, é bom que Nakayama abra bem os olhos (sem trocadilho com suas características nipônicas) e ponha as barbas de molho, pois a polícia vai continuar as investigações para descobrir os “reais culpados” pelos desvios ocorridos na sua administração.

    A “batida” policial ocorreu em casas de ex-subordinados de Nakayama que, certamente, não fizeram nada ou deixaram de fazer sem o seu conhecimento. Afinal de contas, ele era a autoridade máxima do município.

    Já conhecido por ocultar documentos, o ex-mandatário de Iracema foi “importunado” pelo TCE por, pelo menos, quatro anos, mas nunca entregou absolutamente nada. Foi impossível o julgamento de suas contas por falta de dados.

    Mesmo autuado quatro vezes, ele preferiu pagar R$ 80 mil de multa por descumprir a determinação da Justiça. Restou o pedido de cassação de seu mandato em março de 2016.

    No mês seguinte, oficiais de Justiça, acompanhados de auditores fiscais do TCE e de policiais militares, fizeram uma varredura na casa de Nakayama. Uma hora de detenção foi suficiente para que os primeiros documentos começassem a aparecer.

    Outra sacudidela desse tipo talvez o faça repensar e largar o osso que não lhe pertence mais!

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    Tia Lyka

    O pequeno que satisfaz

    Olá, meninos,

    Todo mundo feliz? Muito beijo e muita transa nesse carnaval?

    Eu tou morta de contente. Arranjei um canaimé na primeira noite e o negão só saiu de minha casa na quarta-feira. Tou tão esfurubicada que, agora, só quero saber de rola no Sábado de Aleluia.

    Não se esqueça. Você que foi com muita sede ao pote e transou sem camisinha, dependendo do caso, ainda há tempo para a pílula do dia seguinte. Melhor gastar 23 contos agora do que ter menino chorando no pé do ouvido e botando pai liso na Vara de Infância.

    Mas vamos atender a clientela. A manicure Jônia Maria Brasil reclama e não sabe se mantém relacionamento com um possível pica-de-pano:

    Conheci um sujeito grandão, sarado, simpático e cheiroso. Dentro da calça dele, um volume de dar água na boca.

    Fomos prum motel e, na hora do vamos ver, ele só queria transar em completa escuridão. Gosto de fazer sexo no claro, vendo nos espelhos o que rola em cima da cama. Mas tudo bem.

    Ele até me satisfez, só que o volume do material apresentado era bem menos do que eu tinha imaginado pela saliência na calça. 

    Tou com vontade de despachá-lo.

    Calma, Joninha. Mais vale uma pomba na mão do que duas voando. No seu caso, mais vale meia pomba na queca do que uma grandona na prateleira.

    A filosofia popular diz que é melhor ter um pequeno brincalhão do que um grande bobalhão.

    Te adapta à situação: no lugar de usar o meião,  aprende a beirardear.

    Fui!

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    Ulisses Moroni

    Acessibilidade: sentindo os obstáculos

    Eu estava caminhando, e também correndo um pouco, numa praça aqui em Boa Vista. Um dos muitos bons espaços públicos que temos, nem todas as cidades são assim. Praça agradável, havia muita gente por lá. Já apresenta sinais de deterioração, pede manutenção. Espero que não deixem se acabar.

    Eu corria, quando de repente acabou a energia. Ficar no escuro, sem energia, também outra peculiaridade local... Tudo escuro por alguns momentos. Mas, durar alguns segundos não quer dizer instantâneo. Alguns segundos podem ser momentos infinitos. E foram.

    Corria, estando bem aquecido. Tinha pegado um bom ritmo, boa velocidade para a ocasião. Aquela praça tem sarjetas altas, e várias rampas que rebaixam na calçada, para cadeirantes. Também havia algumas obras, havendo objetos nas pistas.

    Crianças brincavam, e ciclistas pedalavam. Outras pessoas correndo e caminhando.

    Quando a energia cessou, apagando a iluminação, até que a minha “ficha caísse”, eu ainda corri um pouco. E confesso me senti plenamente vulnerável! Vi-me correndo a pé no escuro total. Nos primeiros momentos é pior, pois ocorre a adaptação da visão. Já me preparei para um acidente tipo: cair em buraco, na sarjeta, colidir com criança ou ciclista, colidir e me esfolar nos objetos das obras que estavam espalhados, colidir com alguma das várias pessoas que ali estavam também correndo ou caminhando. E outras incontáveis formas de acidentar-se!

    Logo, parei. A minha visão se adaptou à reduzida luminosidade. Controlei a situação, e as demais pessoas também assim fizeram.  Fizemos todos um contrato silencioso de cautela. Os faróis dos veículos passaram a servir de guia. Não tive como não me colocar no lugar de um deficiente visual. SEM LUZ, O MUNDO PARECIA UM LABIRINTO DE ARMADILHAS! Ainda que eles se adaptem à sua condição física, deu para ter uma impressão das suas dificuldades.

    Também coloquei-me no lugar de quem utiliza muletas. Precisam manter o máximo de equilíbrio, podendo cair com mínimo degrau no solo. Recordei-me de Herbert Vianna, músico que se acidentou e hoje é cadeirante. “Para quem utiliza cadeira de rodas, degrau de um centímetro torna-se um muro!”, disse ele.

    Fui-me embora caminhando, me guiando pelas luzes dos automóveis. Funcionou, exigindo muita atenção. Nada melhor para entender as barreiras do outro do que estar no seu lugar. Todos que lidam com arquitetura urbana deveriam caminhar e empurrar carrinhos de bebê pelas ruas. Serão mais eficazes na sua atividade!

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    Jaider Esbell

    Masoquismo – Maloquismo

    Um dado assunto não é um assunto dado e, jogado o dado, sua chance ainda está no ar. Você tem sorte ou algum consorte? É estratégia, o bom uso das semelhanças.

    Olha para o que ainda há de natureza e vê! Quem nunca, por desconhecimento, matou uma falsa coral pensando estar certo?

    Lembra-se de Ruth e Raquel, as semelhantes em fisionomia e antagônicas no caráter.

    É claro que estou falando de política, essa que vem antes da politicagem. Você já deveria saber que política e politicagem andam juntas desde a concepção.

    Você também já deveria saber que está em uma delas mesmo que ainda não saiba. De sonsos a descarados, tudo o que existe na política é por seu próprio poder de saber se fazer.

    Quem tem poder inventa moda, que antes foi tendência, surto de um habilidoso.

    Sentir prazer com a própria desgraça, para quem está de fora, é um absurdo. Por outro lado, quem está em estado orgástico, nem vê o que há ao redor. Para este, a opinião do mundo é algo que não lhe interessa e jamais interessará.

    Política e politicagem foram paridas juntas e juntas correm soltas no mundo desde sempre. Tende uma a prevalecer sobre a outra, a politicagem pra ser exato.

    O Maloquismo é algo como ter o maior prazer do mundo em morar na maloca, e ponto final. O que diabos o político politiqueiro tem que se empenhar em mudar o Parente de lá? Onde estão a política e a politicagem e onde mesmo estamos e o que viemos fazer? Qual nosso papel nessa novela? Já passou? Nem vi! 

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    Érico Veríssimo

    Barrigas cheias e cabeças ocas

    O que acontece com a única maternidade do Estado? Semanalmente, há reclamações sobre o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré. As denúncias procedem ou pacientes costumam entrar numa alucinação coletiva e saem a desfiar horrores sobre o atendimento e a estrutura da unidade?

    Há três semanas, as péssimas condições de quartos que abrigam recém-nascidos foram notícia. Buracos em paredes serviam de “lar” para lacraias.

    Agora, a denúncia é de que falta material para cirurgias simples. Muitas mães dizem temer uma infecção generalizada e acabar indo direto para o necrotério do Estado, que também não é lá essas coisas.

    Uma paciente, que estava grávida de três meses, teve um aborto “espontâneo” na sexta (10) e, quatro dias depois, ainda batalhava por uma curetagem. Por falta de material, ela e muitas outras que procuraram a maternidade foram mandadas de volta para casa.

    O governo diz que está tudo normal e melhorias estão sendo feitas. É a mesma resposta pronta para todo e qualquer tipo de denúncia que surja contra unidades médico-hospitalares estaduais.

    O Estado até admite estar faltando um ou outro medicamento, afirma que vai fiscalizar empresas que prestam serviços de limpeza e as que fornecem refeições, mas as reclamações não param e são sempre os mesmos alvos.

    Se não soubéssemos como o atual governo lida com Saúde, Educação e Segurança, acreditaríamos que de fato se trata de um delírio coletivo e as grávidas não passam de umas desvairadas reclamando de barriga cheia (com o perdão do trocadilho) de administradores com cabeças tão ocas para solucionar os mais simples problemas

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    Aroldo Pinheiro

    Consolo

    Ah, o anedotário brasileiro! Esse é riquíssimo. Com o advento da internet, coisas ocorridas – ou não – nos cafundós-do-judas chegam aos lugares mais distantes do Planeta.

    Pouquíssimas pessoas devem ter ouvido falar que, no Rio Grande do Norte, existe uma cidade chamada Equador. Sem relação alguma com as linhas que cortam o Planeta Terra horizontal e verticalmente, até hoje não consegui explicação do nome Equador para a cidadezinha de Equador.

    Mas, em Equador, vivia Chico Fumeiro. E, de lá, vem o causo.

    Chico Fumeiro não nasceu: surgiu. Adotado por família de posses, fez-se homem honrado por si mesmo. Do trabalho e persistência, tornou-se empresário onde qualquer taberneiro seria empresário, e, por bem querência, chegou a prefeito do lugarejo. Muito querido, por sinal.

    Chico Fumeiro botou muita gente no mundo. E essa gente ganhou mundo. Chico Fumeiro tem filhos em diversos estados do Brasil – Roraima, inclusive. Chico Fumeiro tem até um filho morando na China.

    Honrado em seus negócios, Chico Fumeiro não resistia a um rabo de saia e, de vez em quando, dava vazão a seus instintos masculinos no único puteiro da cidade. A esposa sabia, mas fazia vista grossa: “coisas de homens”, pensava.

    No ano passado, a prole de Chico Fumeiro decidiu reunir-se para uma grande festa na casa paterna. Por ironia do destino, o velho Chico Fumeiro morreu poucos dias antes da data programada para o regabofe. Filhos que viriam para uma grande evento se reuniram para velar e enterrar o patriarca.

    Morte rápida. A viúva de Chico Fumeiro não se conformava. Os filhos, a todo custo, tentavam mostrar à mãe que os desígnios de Deus são sabidos só pelo criador. Cristãos, tentavam confortar a mãe de qualquer jeito.

    Por ocasião da missa de sétimo dia de falecimento de Chico Fumeiro, os filhos, mais uma vez, se reuniram em torno da mãe para cortar choro e sofrimento. Ela, abatida, desfazia-se em prantos.

    Lá pelas tantas, a viúva entrou no banheiro e, de lá, saiu sem nenhuma lágrima a escorrer pelo rosto marcado por rugas deixadas pela vida. Surpreendeu os filhos quando disse:

    - É. Tá certo. È melhor ele ter sido levado por Deus do que por essas quengas aqui da cidade.

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    Tia Lyka

    Perigos dessa vida

    Oi, meninos e meninas dessa terra de gente fogosa.

    Com a chegada do carnaval, esses pessoal ficam com as partes do baixo-leblon pegando fogo.

    Antigamente, quem mandava durante os três dias de folia, era Momo; hoje, quem domina o pedaço é o capeta. Nesse período, a sacanagem perde limites e os perigos que ela traz afluem por todos os poros de quem tem o cão no couro.

    Vejam o e-mail que o “Sou o que sempre fui” me mandou. Por motivos óbvios, ele pede anonimato.

    Tia Lyka Sou casado há três anos. Sempre procuramos manter um relacionamento de respeito mútuo, mas aberto. Depois de muito conversarmos, minha esposa me convenceu a termos experiência sexual com outro casal.

    Um primo dela e a noiva dele aceitaram participar da novidade.

    Depois de três encontros de pura sacanagem, descobri que estou apaixonado pelo rapaz. E ele diz que está apaixonado por mim. Já tivemos dois encontros às escondidas. E agora: o que devemos fazer?

    Ihhh, rapá! O negócio é complicado. Esse é um dos riscos de participar dessas coisas. As mulheres de vocês desconfiam dessa paixão? E elas, como estão depois da suruba que vocês fizeram? Será que não está rolando sentimento entre as muchachas também?

    Meu conselho é abrir o jogo. Quem sabe vivendo os quatro juntos vocês não serão mais felizes do que têm sido até agora?

    Fui!

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