O secretário estadual de Saúde, Ricardo de Queiroz Lopes, embora esteja há pouco mais de um mês à frente da pasta, demonstra que aprendeu bem a lição de como se livrar de problemas atribuindo-os a terceiros. Convocado para prestar esclarecimentos na Assembleia Legislativa de Roraima sobre as (in) ações de sua secretaria, ele deixou a desejar e não agradou os deputados com suas respostas genéricas sobre assuntos específicos. E chegou à desfaçatez de afirmar que a sujeira nos corredores do HGR se deve à falta de educação de pacientes e seus acompanhantes, que, em vez de usar lixeiras, jogam o lixo no chão.
Sobre o calote do governo nas prestadoras de serviço nas unidades de saúde, ele tergiversou, e afirmou aquilo que todos já estão carecas de saber: a falta de profissionais da limpeza se deve ao encerramento de contratos com as terceirizadas e uma nova licitação para contratação já está em andamento. Ele só não explicou quando as empresas que estão sem receber do Estado e, consequentemente, seus empregados, terão o prazer de ter a grana em mãos.
Tentando explicar o inexplicável, Lopes informou aos parlamentares que a recente interrupção dos serviços no recém-inaugurado Hospital das Clínicas (que levou sete anos para ficar pronto e custou mais de R$ 32 milhões), se deveu a uma pane na rede elétrica. A consequência é que pacientes tiveram de ser removidos para o Lotty Íris e HGR. Mas, sejamos justos: não se deve atribuir a culpa por esse problema específico ao atual secretário, tendo em vista que ele está há pouco tempo no cargo.
Também seria injusto culpar única e exclusivamente o atual governo, pois se trata de uma obra iniciada na gestão anterior, ainda que esta que aí está tivesse tido tempo suficiente para entregar o prédio funcionando em perfeito estado, o que, percebemos agora, não ocorreu.
Outro ponto levantado pelos parlamentares e questionado ao secretário diz respeito à frequente falta de medicamentos e material básico nas unidades de saúde, reclamação recorrente, não apenas de pacientes e acompanhantes, mas dos próprios profissionais da área que se veem sem condições de prestar um serviço decente a quem precisa. Lopes garantiu que o estoque de remédios e de outros itens essenciais ao bom funcionamento de um hospital será "normalizado" nos próximos dias e, como não poderia deixar de ser, ainda que tudo isso esteja ocorrendo há muito tempo, jogou a culpa no colo dos caminhoneiros que, com sua greve de dez dias, impossibilitou que os produtos chegassem ao Estado na data esperada.
Se os pacientes e acompanhantes são os verdadeiros causadores da sujeira nos corredores do HGR, como nos tenta fazer crer o secretário, há de se dar um desconto, pois o lixo aparente é bem menos grave do que aquele escondido embaixo dos tapetes.