Colunistas

    Jornal Roraima Agora
    Aroldo Pinheiro, 56 anos, roraimense, comerciante, jornalista formado pela Universidade Federal de Roraima. Três livros publicados: "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente" (2003), "A MOSCA - Romance de vida e de morte" (2004) e "20 CONTOS INVERSOS E DOIS DEDOS DE PROSA - Causos de nossa gente".
    Tia Lyka

    Eleições: risco sexual

    Oi, gentem,

    O Barão resolveu me dar uma chance. Disse que, se eu me comportar, posso até voltar a escrever para o jornaleco.
    Saudade de vocês. Sem mágoa, acho que a Conceição Brilhante estava certa quando alertou sobre a possibilidade de meus textos caírem em mãos de crianças.

    Resolvi repensar a vida, mas estou sofrendo muito para segurar os pensamentos libidinosos e controlar a vontade de praticar os atos que – Graças a Deus! – nos foram legados por Adão e Eva. Ui!

    Depois de 45 dias em retiro espiritual, volto ao mundo dos vivos. Estou pensando em procurar ajuda psicológica. Acreditam que, no convento em que me internei, eu sonhei algumas vezes transando com Frei Damião e já andava meio desconfiada de que a madre superiora estava a fim de mim? Cruz, credo!

    O mundo está podre. No convento, descobri que umas noviças fazem mais questão da presença noturna de Bianor, o jardineiro, do que receber graças de Nosso Senhor Jesus Cristo. Lá, vi lances e ouvi gritos e sussurros que fariam muitas quengas ruborizar. 

    Aproveito minha estada aqui fora para, no domingo, cumprir com meu dever cívico: votar. Com as opções que temos, está muito difícil fazer uma boa escolha. Fico com bandidos antigos ou escolho futuros novos ladrões?

    Para presidente, eu até pensava em votar no Álvaro Dias. Acho o senador paranaense uma gracinha. Se aquele homem falasse só um pouquinho em meu ouvido com aquele vozeirão, eu daria tudo o que ele me pedisse y otras cositas más. Como a candidatura de Alvinho não decolou, vou com fazer como a maioria do brasileiros: vou de Bolsonaro 17.
    Sei que o Capitão é um tiro no escuro, mas é melhor arriscar do que ter que conviver com essa quadrilha vermelha roubando e atolando a Nação. 

    Seja o que Deus quiser. Vou votar em candidatos que não posso dizer serem os melhores, mas os menos ruins. É votar e manter o corpitcho limpinho, cheiroso e depilado, pois, se vierem nos enrabar, eu não quero que saiam falando mal de mim. 

    Boa sorte. Boa votação.

    Fui!!!

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    Aroldo Pinheiro

    Juiz ladrão

    Quase todo cidadão boa-vistense com mais de 50 anos de idade conheceu Áureo Cruz. Nem que seja de ouvir falar. Elegante, galanteador, Áureo era uma espécie de príncipe no reino da Macuxilândia. 

    Nascido de família abastada, as poucas vezes em que trabalhou foram para tirar algum proveito social ou investir em nova paquera. Áureo, entre outras coisas, foi diretor e locutor da Rádio Difusora Roraima. Apaixonado por esportes, fazia parte da Federação Roraimense de Futebol e do quadro de árbitros local. Ele também era torcedor fanático do Atlético Roraima Clube. 

    Nalguma tarde dos anos 1960, Estádio João Mineiro lotado: bem umas 30 pessoas ocupavam o palanque coberto de zinco; umas 80 se aboletavam no alambrado de madeira que isolava o campo de terra. De terra não: de barro. Naquela época, não existiam gramados em Boa Vista. O povo esperava o início do clássico: Baré X Roraima. Naquela época, só havia dois clássicos no território: Baré X Roraima ou Roraima X Baré.

    O primeiro tempo da partida terminou zero a zero. O segundo seguia modorrento, enquanto os atletas suavam a cachaça ingerida na noite anterior. Estavam mais pra tomar litros de água do que pra correr atrás da bola. O garoto que tomava conta do placar cochilava. Aos 32 minutos, Roberto recebeu um lançamento e, de trivela, chutou contra a meta guardada por Guilherme. Mário Rocha despertou e trocou um dos zeros pelo número 1. 

    Com o Baré ganhando de um a zero, Áureo Cruz, o árbitro, se desesperou. Ameaçou até expulsar o bandeirinha, porque este não tinha marcado o off side¹. Fim do primeiro tempo. 

    Da reposição de bola, depois do gol engolido por Guilherme, até os 45 minutos regulamentares, a equipe alvi-negra prendia a bola e administrava a vitória. A torcida festejava, antecipadamente, a conquista do troféu Governador do Território. 

    Quarenta e seis minutos. O árbitro, sem encarar o público, deixava a bola rolar. Quarenta e sete, quarenta e oito, quarenta e nove, 50 minutos... Abdala Fraxe ameaçava invadir o campo. Aos 57 minutos, Tracajá roubou a pelota do center half² barelista e, morrendo de cansaço, com meio metro de língua para fora da boca, chutou contra a meta de Zé Maria. Chute chocho. O goleiro escorregou, caiu e a bola entrou. O árbitro sorriu, deu um pulo com a mão fechada para cima para, em seguida, recolher a redonda e apitar o fim da partida. Pronto. A final do torneio ficou transferida para o próximo domingo. 

    Protegido pelos guardas territoriais, Maxixe, Duca, Coivara e Cento-e-seis, o juiz cruzava o portão do estádio sob protestos da torcida do Baré, quando Antônia Mariê aproximou-se de Áureo, meteu-lhe o dedo na cara e disparou:

    - Juiz ladrão!!!

    Áureo, com empáfia, antipatia, imponência, prepotência e ironia, respondeu à torcedora: "O juiz pode até ser ladrão, mas é soberano".

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    Aroldo Pinheiro

    O tenente e as medalhas

    Criado em 1943, o Território Federal do Rio Branco recebia governadores escolhidos no Distrito Federal. No início da década de 1960, o novo governador trouxe, em sua equipe, um tenente que, na função de ordenança, fazia tudo o que seu mestre mandava. Insistente e persistente, tenente Palma Lima conseguiu ser nomeado prefeito de Boa Vista. 

    Palma Lima era apaixonado pelo Exército e tinha verdadeira adoração pela farda verde-oliva. Usando sempre impecável uniforme engomado e vincado, sapatos tão brilhantes que refletiam a luz do sol, óculos Rayban – independentemente do local e da hora do dia –, o tenente gostava de desfilar entre sua moradia, na Praça do Centro Cívico, a residência governamental, na avenida Jaime Brasil, e o Palácio do Governo, que ficava na esquina da rua Coronel Pinto com a avenida Getúlio Vargas. Narcisista ao extremo, ele imaginava que a população o admirava da mesma maneira que idolatrava os astros do cinema americano daquele tempo. 

    No peito, Palma Lima carregava muitas medalhas. Até hoje, não sei onde nem como o militar conseguiu tantas comendas. Diziam até que ele comprara alguns daqueles enfeites. 

    Na cidade, a empáfia do militar tornou-se motivo de piada e deu origem a algumas expressões. Se um cidadão comparecia muito elegante a qualquer acontecimento, alguém comentava: "Tu estás mais bonito do que a farda do tenente"; se uma mulher surgia com brincos, exagerados cordões e pulseiras de ouro, ouvia: "Tu estás mais dourada do que o peito do Palma Lima". 

    O tenente sentia tanto orgulho da farda que fazia questão de pendurá-la na janela de seu quarto no Hotel Boa Vista, hoje, Aipana Plaza. Com as medalhas cuidadosamente viradas para a entrada do estabelecimento, claro.
    Exonerado o governador, Palma Lima deixou Boa Vista. 

    Certo dia em Manaus, lanchando na Sorveteria Siroco, olhei para o lado e vi, na janela de quarto térreo do pequeno Hotel Ideal, uma jaqueta verde-oliva bem passada, bem vincada. Dezenas de medalhas naquela peça de roupa chamaram minha atenção. Pedi a conta e assuntei com o garçom:

    - Você sabe o nome do militar que mora naquele apartamento?

    Com sorriso maroto, o rapazola me respondeu:

    - Quem mora aí é o Tenente Medalhinha. – E arrematou: "Toda tarde, ele se fantasia de general e faz plantão na esquina pro povo admirá-lo".


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    Aroldo Pinheiro

    A deseleitora

    João Feitosa, empresário bem sucedido, vaidoso, resolveu entrar para a política e candidatou-se a deputado estadual. A convenção que aprovou o nome do comerciante trouxe também dezenas de pessoas que todos os dias amanheciam à sua porta com pedidos que, talvez, se transformassem em votos. Pede-se de tudo: pagamentos de contas atrasadas, sacos de cimento, botijas de gás, pneu de bicicleta, passagens de avião e de ônibus, dinheiro para medicamentos, roupa para a filha desfilar, equipamento para prática de esportes, dinheiro para festa de quinze anos...

    Sebastião Neto, pidão juramentado, acordava cedo e saía visitando candidatos e, deles, tomando dinheiro que, prometia, pagaria com dezenas de votos que tinha sob seu controle. Com o saldo bancário minguando na mesma proporção em que via suas possibilidades de ser eleito caírem, João Feitosa resolveu tomar tenência: "Se eu não me segurar, termino liso e sem mandato". Às seis da manhã de uma sexta-feira, antevéspera do dia de votação,
    da janela de sua sala, João Feitosa viu que Sebastião, o pidão, o esperava. Dali, naturalmente, viria mais um pedido. DIsposto a dizer não, o candidato foi assediado quando botou o pé na garagem.

    - Pelas minhas andanças, vejo que o senhor vai ser o mais votado da nossa coligação, deputado.

    O candidato sorriu um sorriso amarelo e, antes de entrar na cabine-dupla, ouviu:

    - Deputado, sou muito agradecido pela passagem que o senhor deu para a minha mãe ir fazer tratamento de saúde em Manaus. As coisas não deram certo e mãeinha morreu, deputado. Vim aqui pedir que o senhor nos ajude a trazer o corpo de mãeinha para ela ser enterrada na terra onde nasceu, deputado.

    O candidato contra atacou:

    - Tião, a campanha está saindo bem mais cara do que eu pensava. Eu, na verdade, estou até arrependido de ter entrado na política.

    - Mas...

    - A grana acabou, Tião. Do meu bolso não sai mais nenhum centavo pra a merda dessa campanha.

    - Mas...

    - E tem mais, Tião: pra que que eu vou trazer sua mãe se a porra da velha nem vota mais?

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    Aroldo Pinheiro

    Despedida de parente inconveniente

    Uma prima, que ela nunca vira, telefonou dizendo estar correndo a Região Norte para conhecer familiares. Candidatou-se a passar um fim de semana em Boa Vista e pediu-lhe para organizar almoço de reconhecimento e confraternização.

    Passou o domingo, passou a segunda, a terça, e a prima foi ficando. E incomodando. Só desocupava a rede atada no meio da sala para refeições. Lavar louças não era o forte dela. Varrer, passar um pano? Nem pensar. A presença da parenta mexia com o humor dos ocupantes da pequena residência. Maria Júlia, dona do imóvel e responsável por manter oito dependentes, sentia calafrios quando pensava em chegar à casa e encontrar "aquela coisa" aboletada na rede. Apesar de indiretas, a prima não se tocava.

    Reunidos, outros parentes resolveram acudir. Forjaram notícia de que a mãe da prima estava doente e fizeram vaquinha para comprar a passagem de ônibus que levaria a indesejável de volta para Manaus.

    Na data marcada. Maria Júlia chegou do trabalho às 18h30, estacionou a moto em posição de saída, pois nem queria ver a cara daquela coisa antes de deixá-la na rodoviária. Quando presumiu que a parenta havia ocupado a garupa da Bizz, engatou marcha e xispou rumo ao terminal de ônibus. Percorreu a avenida Carlos Pereira de Melo, parou na luz vermelha do semáforo do Ibama, onde disse diversos nãos a venezuelanos que queriam vender bugigangas; na avenida Venezuela, subiu e desceu o viaduto e, depois de conseguir cruzar a rotatória do Trevo, chegou à rodoviária.

    Parou a moto e viu que a prima não estava na garupa. "Ai, meu Deus". Lembrou-se que, no início do viaduto, uma depressão na pista quase fê-la perder o controle do veículo; concluiu: "A prima deve ter caído da garupa naquele lugar". Voltou prestando muita atenção e nada. Fez, de novo, o percurso até a rodoviária, e nem sinal da parente inconveniente. "Vou voltar pra casa e pedir que o mano me acompanhar até o Pronto Socorro, pois Geiseslany deve estar lá", pensou. Com remorso.

    Ao dobrar a esquina de casa, viu Geiseslany, tranquila, mochila nas costas, conversando com a vizinha. Deu-se conta de que a prima nem tinha sentado no selim da Bizz.

    Àquela hora, o último ônibus para Manaus já tinha partido. Ana Júlia teve que aturar a prima por mais 24 horas e desembolsar por nova passagem, pois aquela, comprada para a noite anterior, perdera validade. 

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    Tia Lyka

    Boquete da salvação

    Olá, meninos e meninas,

    Feliz por ver que esse jornaleco vai se tornando hábito de leitura em nossa cidade. Feliz, também, por ver que meus conselhos são lidos e, muitas vezes, seguidos. Há quem não goste do meu estilo escroto de ser; para esses (e essas): beijinho no ombro.

    Conhecida minha mandou um zap que me deixou preocupada. Depois de muito tempo sem arrumar macho, começou a namorar um oficial de justiça, mas o casal já enfrenta a primeira crise; pode?

    Tia Lyka,

    Estou namorando há seis meses, mas, ultimamente, estamos brigando a toda hora. Ele é muito ciumento. Pior é que gosto dele e já estava até pensando em casamento. Não tenho mais idade pra ficar pulando de galho em galho. Estou beirando os 50 e ainda penso em ser mãe. O que faço pra deixar o crush comendo na minha mão?

    Lana Tobias do Vento Rosa

    Querida, Lana

    Mulher que entra em crise com macho é porque não está sabendo fazer direito o borogodó. Se toda mulher soubesse o poder que tem na boca, não perderia homem nenhum nesta vida.

    Conselho: se o boy já chega em casa brigando, boquete nele. Se anda enciumado, boquete nele. Se enche o saco, boquete nele. É ele começar a falar, você já desce até o chão e enfia o pau na boca. Repete essa lição umas três vezes que você vai ver como ele vai ficar, mansinho, mansinho.

    Mas tem que saber chupar, menina. Estou cansada de dizer que esse negócio de dar beijinho no pau não tá com nada. Tem que enfiar o cacete na boca como se fosse engolir o cara todo. Pra treinar, compra uma banana prata dessas grandes, descasca e enfia na boca; quando a fruta sair sem nenhum arranhão de dentes, significa que você está pronta pra encarar uma rola e satisfazer o dono dela.

    Então, já sabe, né? O boy brigou, chupa a rola dele. Simples assim.

    Fui! 

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    Aroldo Pinheiro

    A morte do pistoleiro

    Paradoxalmente, a modernidade nos aproxima da antiguidade.

    Com as facilidades oferecidas pela internet, usuários de redes sociais de relacionamento estão sempre buscando coisas que os ligue ao passado. Buscam-se amigos dos primeiros anos de escola, buscam-se ex-namorados, buscam-se parentes com quem não se fala há muitos anos. Fotografias, músicas, filmes e livros antigos também ocupam muitos megabites nessa inconsciente volta aos tempos de outrora.

    Há poucos dias, um vídeo com Bob Nelson, famoso cantor de músicas do faroeste americano, que fez sucesso lá pelos anos 1950 e 1960, estava sendo divulgado em um dos grupos que frequento. Ouvindo o tiroleite, tiroleite, tiroleite do falso paladino e lembrei-me de Edmilson Lone.

    Para sobreviver, ele pintava paredes e abria letreiros no incipiente comércio de Boa Vista. Nas noites de quinta-feira, inspirado em Kit Carson, o correio das planícies, ele vestia calça Coringa, camisa quadriculada cheia de bolsos, fricotes e franjas e, no Programa Jaber Xaud, largava o pau a cantar os tiroleites em clara imitação do estilo Bob Nelson.

    Na cidade, ele era conhecido por Baiacu. Não me lembro de seu nome verdadeiro.

    Edmilson Lone, o alter ego, aos poucos foi tomando conta da mente de Baiacu. O pintor, de repente, passou a sair fantasiado de caubói para todos os lugares.

    Mesmo nos degraus de escadas rudimentares, nosso herói empunhava pincéis e broxas como se fossem Smith & Wessons ou Colts. Baiacu acreditava ter a missão de expulsar os malfeitores da pacata cidade boa-vistense.

    Uma noite, nosso xerife entrou na sinuca do Vicentão, levantou a aba do chapéu e, depois de correr a vista por todo o recinto, encarou João-bate-pronto e mandou-o retirar-se do meio dos homens de bem.
    Pessoa de pouca conversa, nervoso, João entornou o copo de pinga numa só talagada e, ato contínuo, desceu a porrada em Edmilson Lone.

    Dias depois, antes de sair do hospital, Baiacu pediu para a mãe atear fogo nos acessórios e vestes de caubói e dar fim a todos os discos de Bob Nelson.

    Naquela data, morreu nosso herói do lavrado. Morreu o nosso pistoleiro

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    Tia Lyka

    Dois é bom; três é demais?

    Alô, torcida brasileira,

    Pena. Não deu. A maior parte do mundo passou a torcer para que os croatas vencessem a Copa do Mundo e levassem o troféu para seu país. Apesar da garra dos branquelos, não deu. Mas quem disse que eles ficaram tristes? O pequeno país deles viu a maior festa jamais ocorrida em solo onde, até pouco tempo atrás, só se ouvia o som de tiros, bombas, morteiros. Parabéns aos croatas pelo vice-campeonato conquistado com muita raça,

    Ainda bem que a Copa do Mundo 2018 chegou ao fim. Eu já não aguentava mais. Durante um mês, entre junho e julho, a macharada trocou os corpos macios e carinhosos de mulheres por pernas fortes e cabeludas que corriam atrás de bola via televisão. Um horror! Nós, que valorizamos uma furunfada ao vivo e em cores, tivemos que dar nosso jeito. Meu Ching-Ling, que ficou no fundo da gaveta do armário por muito tempo, ressurgiu para justificar sua existência e dar prazer a essa balzaquiana. Obrigado, Senhor.

    Mas vamos à singela consulta feita pela enfermeira Mariângela Falcão.

    Tia Lyka,

    Sou casada há três anos e amo o meu marido. Em março, recebemos sobrinha dele para morar conosco enquanto procura emprego. Ela é uma gracinha. Pelos acontecimentos, desconfio que meu companheiro está tendo um caso com ela. Pior é que eu sinto forte atração sexual pela guria. O que que eu faço?

    Ai, meu Deus: que enrascada. Pergunta número 1: como vocês encarariam um relacionamento a três? Pergunta número 2: a hóspede é maior de idade? Saídas: ou vocês devolvem essa menina para o lugar de onde veio, ou vocês abrem o jogo entre os três e desfrutam de um relacionamento moderninho.

    Fui!!!

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    Aroldo Pinheiro

    Dinheiro suspeito

    Roraimense, engenheiro, elegeu-se governador do Estado. No início, as coisas até andavam bem. Ao fim do segundo ano de mandato, porém, a roubalheira comeu no centro e qualquer moleque comentava e fazia troça sobre desmandos do mandatário.

    Botafoguense apaixonado, o chefe do Executivo também arriscava umas pernadas atrás da bola. Aos domingos, ele não dispensava uma pelada, situação em que bajuladores aproveitavam para dar-lhe os melhores passes. Até goleiros se deixavam levar pelo puxa-saquismo e facilitavam frangos para que a autoridade marcasse e festejasse gols.

    Numa dessas peladas de fim de semana, em disputa mais brusca, a autoridade foi ao chão. A pelegada reuniu-se para socorrê-lo e ao ver que o governador não poderia voltar ao campo, a partida foi encerrada por ali mesmo.
    Depois de massagens e fricções com géis, a autoridade foi levada para sua residência.

    Com dores, muitas dores, o governador decidiu mandar buscar médico ortopedista, servidor da Secretaria de Saúde, para avaliar e cuidar do machucado.

    Depois de cuidadosos exames e imobilização de ossos e nervos injuriados, o ortopedista sacou o receituário, escreveu algo que nem ele sabia ler, passou o papelucho para autoridade, fez-lhe algumas recomendações e quando fechava a maletinha, preparando-se para deixar o recinto, ouviu:

    - Muito obrigado, doutor.

    O doutor encarou a autoridade e falou:

    - Governador, hoje é domingo. Sou funcionário da Secretaria de Saúde, mas estou fora de meu plantão. Para atendê-lo, privei-me da companhia de meus filhos e de minha esposa. A visita e o tratamento ficam em R$ 3 mil reais.

    Mostrando-se surpreso, agora com cara de poucos amigos, o governador pediu que sua esposa fosse buscar dinheiro "daquele monte que estava no guarda-roupas". Ao receber os pacotes de oncinhas, repassou-os ao médico com a reclamação:

    - Aqui estão seus R$ 3 mil, mas saiba que isso é um roubo.

    Resposta do médico:

    - Não quero nem saber da procedência, governador. Só quero o que é meu...

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    Ulisses Moroni

    Caquinha do nariz e coceira no saco

    Temos que sempre observar nossas manias e instintos negativos buscando nosso polimento. Nesse contexto, já consigo não atender ao celular dirigindo automóvel, por exemplo. Ficou simples e automático dar seta, parar em local seguro e, ali, atender. Uma quase colisão e uma multa ajudaram nesta minha correção de rumo...

    Já cortei a mania de atender celular e telefone fixo na mesa de trabalho. Também deixei de falar ao celular e usar o computador ao mesmo tempo. Um fato muito me incentivou nesta correção: uma vez, falando ao celular, mandei um e-mail ao destinatário errado e quase me meti numa enorme confusão...

    Outro hábito negativo que, se ainda não 'domestiquei', ao menos estou lidando melhor com ele: tirar caquinha do nariz! Algo que me deixou em pânico. Um cavalheiro como eu jamais poderia fazer essas coisas. Mas, vira e mexe, me pegava na 'limpeza do salão'. Tentava me conter, falava comigo que isso deve ser feito apenas no banheiro. Mas, quando menos esperava, lá ia eu com o hábito pré-histórico.

    Procurei médicos, videntes, macumbeiros, psicólogos, palpiteiros, até um veterinário, e nada de resolver. Colocar o dedo no nariz passou a ser a minha linha divisória entre eu ser um primata ou um homo sapiens. Como eu não consegui me domar, decidi morar numa floresta, junto aos macacos. Concluí que eu não era evoluído.

    Quando eu preparava a viagem só de ida, resolvi fazer uma consulta no 'Google Sabe-Tudo'. E fui procurar no país certo, onde pesquisam sobre tudo: os Estados Unidos. Lá, descobri minha libertação! Eles dizem que o hábito de levar os dedos para limpar o nariz é algo mais instintivo que racional, tal qual respirar, por exemplo. 

    Quer dizer, eu e todo mundo não conseguimos controlar totalmente tal hábito. Com atenção, podemos 'agir' longe do público.

    E vi mais. Nos Estados Unidos eles têm diversas pesquisas sobre caquinha: da costa leste e da oeste, de acordo com a renda do cidadão, pelos esportes que praticam, etc. Eles conhecem as características das caquinhas dos grandes personagens da sua história. Aqui no Brasil, a gente dá risada com uma pesquisa assim, mas lá eles não têm preconceito em estudar. Talvez por isso sejam mais desenvolvidos. Caquinha lá é coisa séria!

    Foi uma revolução em minha vida, voltar a ser um cavalheiro quando eu já me considerava mais primata do que homo-sapiens. Depois disso, já penso em outro aprimoramento radical. Estou vendo a tradução em inglês para "coçar o saco" e ver o que os norte-americanos têm a respeito!

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    Tia Lyka

    Sexo e futebol

    Alô, torcedores croatas!
    Pois é. Grande parte dos brasileiros decidiu torcer pela Croácia. Por que será? O que sei é que aqueles meninos estão jogando um bolão. Os branquelos têm mais determinação do que técnica ou tática. O jogo de quarta-feira foi, talvez, o melhor da Copa na Rússia. A partida de domingo, entre Croácia e França, promete. Eu nem entendo muito de futebol, mas sou torcedora croata desde quando eu ainda tinha cabaço. E faz tempo...
    Apesar de tanta literatura a respeito, ainda há quem tenha lá suas dúvidas. Vamos ao e-mail de Erineia Costa, professora, 43 anos.
    Tia Lyka,
    Não sou virgem e tenho até bastante experiência com sexo. Passei um tempo sem transar e, agora, estou interessado num gaúcho que está me cercando. Já demos uns pegas, mas não sinto nada volumoso entre as pernas dele. Estou com medo de encará-lo e me decepcionar. Qual o tamanho ideal de pênis?

    Erineia,
    Não existe um tamanho ideal para pênis. Existem pintos minúsculos, pintos aceitáveis e pintos não encaráveis. Tudo depende da maneira que o casal utiliza esse pedaço de nervo (ou será de carne?). Minha madrinha, que, por sinal, tem um bucetão, afirma que tamanho de rola é coisa secundária. Diz que mais vale um pequeno brincalhão do que um grande bobalhão. Eu, há pouco tempo me envolvi com um três-pernas colombiano, cujas recordações me fazem brotar lágrimas nos olhos. Não de saudade, mas de sofrimento. Assim, amiga, cada caso é um caso; cada manjuba é uma manjuba. Conselho? Faça um test-drive com o paquera; se não rolar prazer, parta pra outro.
    Divirta-se. E goze bastante.
    Fui!!!
    Desculpe-me, Erneia, conversaremos sobre o assunto na próxima edição. Já são quase dez horas, a Seleção de Tite está entrando em campo e eu, como boa brasileira, também vou tocer pelos nossos meninos.
    Fui!!!


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    Aroldo Pinheiro

    Zé Leitão, comentarista de futebol

    Mister Drops. Conheci-o quando eu ainda era criança. Nosso vizinho de frente, Zé Leitão era uma festa. Inteligente, culto, bem humorado; dava prazer conversar com ele. Não sei a origem do apelido. Lembro-me que ele viajava frequentemente para Georgetown, onde comprava de tudo para abastecer a Boa Vista dos anos 1960. O cognome certamente veio da então Guiana Inglesa.

    Meu primeiro contato com Ray Charles deu-se por meio de Zé Leitão. Numa dessas viagens ao exterior, ele trouxe um compacto 45rpm, daqueles com buracão no centro; o sucesso: I can't stop loving you.

    Cresci, tornei-me adulto e desfrutei do prazer de ter Mister Drops como amigo. Fomos parceiros de canastra durante muitos anos. Sortudo, bom jogador, Zé Leitão era obcecado por canastras de ases. Posso dizer que ele tinha orgasmos ao fazer uma dessas completinhas de sete cartas.

    Hoje, assistindo a jogos da Copa do Mundo, lembrei-me de meu amigo e de fato interessante.

    Lá pelos anos 1980. Durante um campeonato mundial de futebol, dirigi-me à serraria de seu Zé para comprar madeiras. Solzão de três da tarde. Ao ser atendido por Oziel, pedi-lhe água para matar a sede.Conduzido à residência dos Leitões – uma edícula atrás do escritório da empresa –, entrei ouvindo mais uma fantasiosa mentira do vendedor. O dono do estabelecimento, sentado à frente do televisor reclamou:

    - Por favor, façam silêncio: quero prestar atenção no jogo...

    Para assuntar e passar por cima de nossa falta de respeito, perguntei:

    - Quanto está o jogo, seu Zé?

    O empresário tirou os óculos e, dirigindo a voz para porta aberta em outro cômododa casa, gritou:

    -Silvan: quanto está o jogo, meu filho?

    De lá, uma voz:

    - Dois a um!

    Seu Zé me retransmite a mensagem:

    - Tá dois a um.

    Curioso, resolvi me inteirar:

    - Dois a um pra quem, seu Zé?

    Ele, sem desviar os olhos da telinha, recolocou os óculos e, novamente, gritou:

    - Meu filho: quem está jogando? 

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    Aroldo Pinheiro

    Saudade de quem não conheço

    Não gosto de conversar com estranhos. Quando viajo, levo comigo algumas revistinhas de palavras cruzadas e, para evitar papos chatos, me entrego aos quebra-cabeças.

    No saguão do aeroporto de Brasília, esperando chamada para embarque, eu estava atracado com minha "Recreativa". "Cidade paulista, 15 letras". "Itaquaquecetuba? É, pode ser". Levantei a vista e meus olhos se encontraram com os olhos de um cara sentado à minha frente. Ele acenou. Eu respondi ao cumprimento. Abaixei a vista. "Conheço esse cara de onde?" Rei do furo, péssimo fisionomista, decidi ignorá-lo. Senti que a peça continuava me olhando. "Não vou levantar a vista. Acho que não conheço esse sujeito".

    Esqueci-me de Itaquequecetuba. Já estava incomodado com o fato de não poder levantar a vista. Sentia-me preso. Preso, mas não queria dar chance ao mico.

    Sede. O cara levantou-se e encaminhou-se ao banheiro. Aproveitei para enfrentar a fila da lanchonete em busca de água. Uma mão toca meu ombro. Olho. "Socorro, é ele!".

    - Tudo bem? Mundo pequeno, né? – Começou o intruso.

    - É isso aí, cara. – Respondi laconicamente. Minha vontade era voltar para minhas palavras cruzadas.

    - Tem uns vinte anos que a gente não se vê, né? A última vez foi aqui mesmo neste aeroporto.

    "Pronto. Quem é esse cara?" A mente começou a dar voltas pelo passado. Nada. Ele acrescentou:

    - Encontrei-me com Narinha na semana passada. Ela ainda é apaixonada por você. Não sei porque não deu certo. Todo mundo achava que vocês iam se casar...

    - Como ela está? – Arrisquei, mesmo sem me ter caído a ficha. Eu continuava sem saber quem era aquele sujeito. Também não sabia quem era essa menina apaixonada por mim

    De repente, chamada para embarque no portão 9. Ele diz que é o voo dele, me dá um abraço e, antes de cruzar porta, grita:

    - Tou no Face. Procura... A turma toda tá lá.

    - Ok, cara, boa viagem!

    Não consegui mais me concentrar em meu quebra-cabeça. Não sei mesmo quem era aquele sujeito, mas embarquei com uma vontade danada de conhecer a Narinha. 

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    Ulisses Moroni

    Mocinho ou bandido?

    Há vinte anos, fui a Brasília em férias com uns amigos. Primeira vez ali. Fomos de ônibus, desembarcando na rodoviária do Plano Piloto. Logo, vimos a Esplanada dos Ministérios e o Congresso. Foi amor à primeira vista, registro para sempre na memória. Dali em diante, fomos a todos os locais indicados nos guias turísticos.

    Foi a primeira que aluguei um automóvel. Para nossa surpresa, nem saiu caro. Na época, usava-se muito as travas de segurança, que prendiam a direção na embreagem ou freio e, depois, eram trancadas. E neste caso da minha primeira locação, o carro tinha uma destas travas.

    A locadora do veículo nem falou sobre seguro, não se usava isso. O seguro dela foi me atemorizar, dizendo que lá furtavam-se muitos carros. Então, onde eu parava, colocava a trava.

    Fomos a uma casa noturna, próxima do Banco Central. Muito cheio o lugar, tive que estacionar bem distante. Ao final, lá pelas quatro da manhã, fui sozinho buscar o carro para voltar e pegar o pessoal.

    Entrei no veículo e fui soltar a trava de segurança. A Lei de Murphy entrou em ação: mexi a chave de todo jeito e nada de abrir. Naquele tempo não havia celular para chamar por ajuda nestas horas.

    Não é que o pior acontece? Uma pessoa se aproxima! Um homem, de uns vinte anos, nos meus estereótipos aparentava ser um ladrão. Chegou até a porta e perguntou o que aconteceu, eu disse que a trava "travou"! Com um linguajar inconfundível das páginas policiais, disse-me: "Você me ajuda que eu te ajudo".

    Imediatamente aceitei. Levantei-me e saí do carro. Ele sentou e movimentou as mãos na direção da fechadura da trava. Quando fui perguntar o que ele faria, a trava já estava solta nas mãos dele! Ele gastou menos que dez segundos para abrir a geringonça. E sem qualquer ferramenta! Levantou-se e me entregou a trava aberta, sob meu olhar de espanto e satisfação. Dei a ele um trocado, acho que foi justo o valor, ele saiu feliz.

    Fui-me embora pegar o restante do povo. Preocupados e morrendo de raiva de tanto esperar, a turma já pensava em chamar a polícia! Quanto contei o ocorrido, senti que não botaram muita fé na minha história.

    Efetivamente fui-me embora feliz, pois saí ileso de corpo e bolso daquela situação potencialmente problemática. E qual seria a "moral desta história"? Facilmente selecionei três frases, mas até hoje não defini qual especificamente é a ideal: "Deus realmente é onipresente"; ou "A solidariedade aparece de onde menos esperamos"; ou, ainda, "Ninguém melhor que o rato para conhecer os segredos de segurança do gato"! 

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    Érico Veríssimo

    O lixo aparente e a ‘sujeira’ sob o tapete

    O secretário estadual de Saúde, Ricardo de Queiroz Lopes, embora esteja há pouco mais de um mês à frente da pasta, demonstra que aprendeu bem a lição de como se livrar de problemas atribuindo-os a terceiros. Convocado para prestar esclarecimentos na Assembleia Legislativa de Roraima sobre as (in) ações de sua secretaria, ele deixou a desejar e não agradou os deputados com suas respostas genéricas sobre assuntos específicos. E chegou à desfaçatez de afirmar que a sujeira nos corredores do HGR se deve à falta de educação de pacientes e seus acompanhantes, que, em vez de usar lixeiras, jogam o lixo no chão.

    Sobre o calote do governo nas prestadoras de serviço nas unidades de saúde, ele tergiversou, e afirmou aquilo que todos já estão carecas de saber: a falta de profissionais da limpeza se deve ao encerramento de contratos com as terceirizadas e uma nova licitação para contratação já está em andamento. Ele só não explicou quando as empresas que estão sem receber do Estado e, consequentemente, seus empregados, terão o prazer de ter a grana em mãos.

    Tentando explicar o inexplicável, Lopes informou aos parlamentares que a recente interrupção dos serviços no recém-inaugurado Hospital das Clínicas (que levou sete anos para ficar pronto e custou mais de R$ 32 milhões), se deveu a uma pane na rede elétrica. A consequência é que pacientes tiveram de ser removidos para o Lotty Íris e HGR. Mas, sejamos justos: não se deve atribuir a culpa por esse problema específico ao atual secretário, tendo em vista que ele está há pouco tempo no cargo.

    Também seria injusto culpar única e exclusivamente o atual governo, pois se trata de uma obra iniciada na gestão anterior, ainda que esta que aí está tivesse tido tempo suficiente para entregar o prédio funcionando em perfeito estado, o que, percebemos agora, não ocorreu.

    Outro ponto levantado pelos parlamentares e questionado ao secretário diz respeito à frequente falta de medicamentos e material básico nas unidades de saúde, reclamação recorrente, não apenas de pacientes e acompanhantes, mas dos próprios profissionais da área que se veem sem condições de prestar um serviço decente a quem precisa. Lopes garantiu que o estoque de remédios e de outros itens essenciais ao bom funcionamento de um hospital será "normalizado" nos próximos dias e, como não poderia deixar de ser, ainda que tudo isso esteja ocorrendo há muito tempo, jogou a culpa no colo dos caminhoneiros que, com sua greve de dez dias, impossibilitou que os produtos chegassem ao Estado na data esperada.

    Se os pacientes e acompanhantes são os verdadeiros causadores da sujeira nos corredores do HGR, como nos tenta fazer crer o secretário, há de se dar um desconto, pois o lixo aparente é bem menos grave do que aquele escondido embaixo dos tapetes.

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    Tia Lyka

    Falta de rola

    Oi, gentem 

    Não recebi nenhuma carta na semana passada. Acho que, com esse friozinho gostoso, a moçada está aproveitando pra furunfar debaixo das colchas de chenile. Mas, de repente, abro minha caixa de entrada e encontro e-mail de Annalucya Bezerra, 34 anos, terceirizada na limpeza do HGR.

    Tia Lyka,

    Parece que eu vim ao mundo pra sofrer. No último Natal, arrumei um caboco ajeitadinho. O macuá é acadêmico de Comunicação, tem 23 anos e, até pouco tempo, era puro amor e tesão. De janeiro pra cá, ele tem inventado umas desculpas meio esquisitas na hora em que eu quero transar. Até dor de cabeça, que é coisa de mulher fujona, ele tem arranjado. O que eu faço para trazer meu caboquinho de volta pro bem bom?

    Annalucya,

    Tua situação é complicada. Primeiro, eu diria que esse negócio de muita letra dobrada e inclusão de psilone no nome dá azar, mas não quero arranjar problema entre você e seus pais, que lhe batizaram com essa aberração. Segundo, eu pensaria na porra desse emprego que você arrumou: será que os constantes atrasos de repasses do Governo do Estado e consequente atraso de salários não estão afugentando teu picante? Existe, ainda, a possibilidade do caboquinho estar caçando periquita em poleiro alheio.

    Se a terceira opção for a mais apropriada, meu conselho é que você vá à luta, se arrume bem arrumada e dê um rolê pela cidade em busca de outra pica operante. Não esquente a cabeça. Apesar de homem (com agá maiúsculo e que goste de mulher) estar meio em falta, pode ser que você encontre sua metade da laranja pelos points da city. Nada de procurar a Terapia do Amor da igreja desses crentes, pois você corre sério risco de ficar mais lisa do que já é.

    Boa sorte,

    Fui!!! 

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    Aroldo Pinheiro

    A descura

    Com a morte de Venceslau, dona Merandolina entrou em depressão. Aos 71 anos de idade, perdeu tesão pela vida. A respeitável senhora, que noutros tempos participava ativamente de tudo, passou a viver trancada no quarto. Não saía da cama. Até cuidados com a higiene foram para as cucuias. O único filho de Lina, Austregésio, sofria com a apatia da mãe. 

    Aconselhado, resolveu procurar ajuda com doutor Jack Areh, renomado psiquiatra.

    Com muito custo, dona Merandolina foi convencida a acompanhá-lo à clínica.

    No consultório, depois de conversar com a paciente, o médico prescreveu-lhe alguns antidepressivos e garantiu para o filho que logo, logo, a viúva voltaria à vida normal.

    Passados alguns dias, o telefone do psiquiatra tocou:

    - Alô...

    - Bom dia, doutor... Aqui fala o Austregésio...

    - Bom dia, Gésio... Como está sua mãe? Melhorou?

    - Muito doutor. Bem mais do que esperávamos.

    - E em que eu posso ajudar?

    - Doutor, o tratamento que o senhor passou pra mãeinha fez efeito. Mas fez efeito exagerado, muito além do que a gente esperava. De uns quinze dias pra cá, um boyzinho, em carro rebaixado, para em nosso portão todas as noites e mãeinha sai de casa exageradamente maquiada, usando roupas que não condizem com a idade dela. No sábado, doutor, resolvi segui-la e dei com ela num inferninho... Mãeinha estava com os peitos de fora, dançando em cima da mesa e rodando o top acima da cabeça. Assim não dá, doutor. Quero que o senhor descure mãeinha...

    Antes que o médico falasse alguma coisa, Austregésio acrescentou:

    - É urgente, viu doutor!

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    Tia Lyka

    Impingem de bunda

    Oi, gentem,

    Não sei onde minha cabeça estava no dia em que me envolvi com o colombiano. Foram três meses de vida perdidos. Graças a Deus e à ajuda de alguns novos amigos, consegui fugir do inferno em que me encontrava e voltar para minha Boa Vista querida. 

    Quando eu penso que meu sofrimento se acabou e que os caminhos para a paz estão abertos, acordo às três da manhã e dou com o peste à minha porta. Bêbado, o animal misturava promessas de amor com ameaças. Tive que chamar a polícia, mas os PMs, sem nem querer saber direito do que se tratava, disseram que não podiam fazer nada contra refugiados venezuelanos, "a não ser que estejam em flagrante delito". 

    Me encaralhei. Ali, na frente dos homens da lei, esperneei, gritei, acordei a vizinhança e só voltei à minha tranquilidade depois que o Três-pernas sumiu prum boteco. 

    Juro que estou com medo e vou me mudar para a casa de amiga no bairro Nova Cidade. 

    Para mostrar a Ramón que não tenho mais nenhum interesse nele, abri o jogo e menti. Disse-lhe sobre as preferências sexuais da mãe dele e, para provocá-lo, disse-lhe que só voltaria para a Venezuela se fosse para viver com Mercedes – minha ex-quase-sogra. 

    O cara saiu daqui fumaçando e bufando. Tomara que minha atitude tenha afastado de vez esse impingem de bunda. 

    Queridas e queridos, desculpem-me por usar esse espaço para desabafar sobre assunto que não lhes diz respeito. Quero dizer aos meus leitores que estou de volta ao baronato, pronta para tirar dúvidas e aconselhar sobre coisas do sexo. Entrem em contato.

    Beijos,

    Fui!

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    Aroldo Pinheiro

    E Deus levou Malu

    Muita gente pensa que ela era roraimense. Não era. Maria Luíza Vieira chegou ao então território federal em 1942, com um ano de idade. Posso garantir, entretanto, que Malu tinha mais amor por essa terra do que muitos roraimenses natos.
    Fui parido em 1954, na rua Antônio Bittencourt. Malu, então com 13 anos, me viu nascer, pois nossa casa ficava bem pertinho da residência dela, ali pelas adjacências da Praça Barreto Leite.
    Na pequena cidade, com poucas almas, Malu, desde a adolescência, agitava o meio cultural. Cirandas, quadrilhas e folguedos juninos eram com ela. Com apoio das madres do Colégio Sâo José, Malu formava grupos de jovens e fazia acontecer.
    Tornei-me amigo de Malu Campos há algum tempo. Nela, descobri pessoa inteligente, bem humorada, determinada. Artes faziam parte da vida da paraense. Lembro-me de termos passado uma tarde juntos, vendo seus escritos, recortes de jornais e peças artesanais. Disse-me, naquele dia, que planejava escrever um livro com causos interessantes sobre Roraima e sua gente. Não teve tempo para isso; a ceifadora de vidas levou-a antes.
    Há poucos anos, a diabetes forçou a amputação de uma das pernas de Malu. A ânsia de viver não deixou-a abater-se. Nem levou o seu bom humor. Disse-me, depois disso, que planejava ser enterrada inteirinha, "mas, se Deus quer assim, vou por partes".
    Redes sociais que, em tese, deveriam aproximar as pessoas, provocam distanciamento. Acompanhando notícias sobre Malu Campos via Facebook, acomodei-me e não lhe fiz nenhuma visita nos últimos anos. Perdi muito, pois conversar com ela era, além de divertido, um verdadeiro aprendizado.
    E Malu se foi. Com ela, foi-se parte boa da história de nossa terra.
    Que Deus tenha um bom lugar pra ti, Malu.

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    Tia Lyka

    Com cuspe e jeito...

    Aquela senhora simpática que vende empadas deliciosas pelas ruas da cidade interpelou o Barão na Ville Roy e disse: "Tenho uma consulta para o Roraima Agora. É o seguinte: amiga minha gosta de coroas. Essa garotada só quer saber de montar e ela não se satisfaz só com um cavaleiro: ela quer um cavalgador que seja cavalheiro. O problema é que homens acima de 70 têm problema para levantar o rebenque; o que ela pode fazer para se satisfazer?"

    Complicado, amiga. Mas vamos tentar ajudar. Aprendemos que tudo o que sobe desce. Ninguém consegue ir contra as leis da natureza. Pense positivo. Pense em qualidade, não em quantidade. Ao conseguir um cavalheiro dentro da faixa etária que lhe dá tesão, descubra, devagar, com calma, elegância e disciplina, a maneira de despertar o gigante que o velhinho tem adormecido entre as pernas. Você vai descobrir que o que demora pra subir leva algum tempo pra cair. 

    Depois de deixar a espada de seu salvador no ponto, percam-se em carinhos antes de partir para as vias de fato. Vale tudo. Lambidas são imprescindíveis: todo homem gosta de ser feito de picolé. Invente sem deixar que seu idoso pense que você é avançadinha "e só falta começar a fumar". 

    Tratando seu velhinho com jeito, você vai descobrir que eles sabem fazer coisas que essa garotada só vai aprender quando chegar à idade deles. 

    Ah! Quando arranjar um velhinho pra você, veja se ele tem um amigo, na mesma faixa etária, disponível: eu também me amarro em coroas (e, se vier com a carteira recheada de garoupas, melhor).

    Fui!!!

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