Com a morte de Venceslau, dona Merandolina entrou em depressão. Aos 71 anos de idade, perdeu tesão pela vida. A respeitável senhora, que noutros tempos participava ativamente de tudo, passou a viver trancada no quarto. Não saía da cama. Até cuidados com a higiene foram para as cucuias. O único filho de Lina, Austregésio, sofria com a apatia da mãe.
Aconselhado, resolveu procurar ajuda com doutor Jack Areh, renomado psiquiatra.
Com muito custo, dona Merandolina foi convencida a acompanhá-lo à clínica.
No consultório, depois de conversar com a paciente, o médico prescreveu-lhe alguns antidepressivos e garantiu para o filho que logo, logo, a viúva voltaria à vida normal.
Passados alguns dias, o telefone do psiquiatra tocou:
- Alô...
- Bom dia, doutor... Aqui fala o Austregésio...
- Bom dia, Gésio... Como está sua mãe? Melhorou?
- Muito doutor. Bem mais do que esperávamos.
- E em que eu posso ajudar?
- Doutor, o tratamento que o senhor passou pra mãeinha fez efeito. Mas fez efeito exagerado, muito além do que a gente esperava. De uns quinze dias pra cá, um boyzinho, em carro rebaixado, para em nosso portão todas as noites e mãeinha sai de casa exageradamente maquiada, usando roupas que não condizem com a idade dela. No sábado, doutor, resolvi segui-la e dei com ela num inferninho... Mãeinha estava com os peitos de fora, dançando em cima da mesa e rodando o top acima da cabeça. Assim não dá, doutor. Quero que o senhor descure mãeinha...
Antes que o médico falasse alguma coisa, Austregésio acrescentou:
- É urgente, viu doutor!