Dinheiro suspeito

    Roraimense, engenheiro, elegeu-se governador do Estado. No início, as coisas até andavam bem. Ao fim do segundo ano de mandato, porém, a roubalheira comeu no centro e qualquer moleque comentava e fazia troça sobre desmandos do mandatário.

    Botafoguense apaixonado, o chefe do Executivo também arriscava umas pernadas atrás da bola. Aos domingos, ele não dispensava uma pelada, situação em que bajuladores aproveitavam para dar-lhe os melhores passes. Até goleiros se deixavam levar pelo puxa-saquismo e facilitavam frangos para que a autoridade marcasse e festejasse gols.

    Numa dessas peladas de fim de semana, em disputa mais brusca, a autoridade foi ao chão. A pelegada reuniu-se para socorrê-lo e ao ver que o governador não poderia voltar ao campo, a partida foi encerrada por ali mesmo.
    Depois de massagens e fricções com géis, a autoridade foi levada para sua residência.

    Com dores, muitas dores, o governador decidiu mandar buscar médico ortopedista, servidor da Secretaria de Saúde, para avaliar e cuidar do machucado.

    Depois de cuidadosos exames e imobilização de ossos e nervos injuriados, o ortopedista sacou o receituário, escreveu algo que nem ele sabia ler, passou o papelucho para autoridade, fez-lhe algumas recomendações e quando fechava a maletinha, preparando-se para deixar o recinto, ouviu:

    - Muito obrigado, doutor.

    O doutor encarou a autoridade e falou:

    - Governador, hoje é domingo. Sou funcionário da Secretaria de Saúde, mas estou fora de meu plantão. Para atendê-lo, privei-me da companhia de meus filhos e de minha esposa. A visita e o tratamento ficam em R$ 3 mil reais.

    Mostrando-se surpreso, agora com cara de poucos amigos, o governador pediu que sua esposa fosse buscar dinheiro "daquele monte que estava no guarda-roupas". Ao receber os pacotes de oncinhas, repassou-os ao médico com a reclamação:

    - Aqui estão seus R$ 3 mil, mas saiba que isso é um roubo.

    Resposta do médico:

    - Não quero nem saber da procedência, governador. Só quero o que é meu...

    Dois é bom; três é demais?
    Caquinha do nariz e coceira no saco
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