Colunistas

    Jornal Roraima Agora
    Aroldo Pinheiro, 56 anos, roraimense, comerciante, jornalista formado pela Universidade Federal de Roraima. Três livros publicados: "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente" (2003), "A MOSCA - Romance de vida e de morte" (2004) e "20 CONTOS INVERSOS E DOIS DEDOS DE PROSA - Causos de nossa gente".
    Aroldo Pinheiro

    Os ovos do juiz

    Território do Rio Branco, início da década de 1960. Em Mucajaí, incomodado com chifres ou com a suspeita de tê-los, agricultor, matou a mulher com golpes de enxada na cabeça. Naquele tempo, o crime mais violento ocorrido nesta Terra de Makunaima.

    Sem fórum na cidade, o julgamento de Nilo dar-se-ia no salão da União Operária Beneficente. A cidade parou para assistir ao embate entre o promotor, Aristarte Leite, e Nozinho, advogado de defesa.

    Na mesma hora em que os atores se posicionavam para o julgamento. Zeca Pato-rouco saía de casa com a missão de vender 12 ovos e, com o apurado, comprar carne para que sua mãe recheasse pastéis. Deliciosos, muito apreciados na pequena cidade.

    Enquanto Pato-rouco batia de porta em porta oferecendo a produção da galinha pedrês, testemunhas era m ouvidas no quente salão, desprovido de qualquer sistema de refrigeração. O juiz, doutor Trindade, tinha sido acomodado de costas para a janela, de maneira que a brisa da manhã refrescasse o corpo abafado por paletó e toga.

    Os nãos ouvidos por Zeca foram muitos. Na União Operária, o roteiro do julgamento de Nilo era seguido ao pé da letra. Doutor Aristarte, caminhando de um lado para outro, sobre a prótese de madeira que substituía membro inferior perdido em acidente, desancava o acusado, “monstro covarde que matou indefesa dona de casa”.

    Quase duas da tarde. No momento em que o rábula Nozinho apresentava seus argumentos para os jurados, Zeca voltava pra casa com os doze ovos dentro do já amarfanhado saco de papel. Ao ver muitos carros – bem uns oito – estacionados na frente da União Operária, o menino resolveu encostar: “Quem sabe vendo os ovos por aqui?”

    Público cansado, jurados sonolentos, o juiz pingava dentro das vestes. Doutro Aristarte, com o paletó de linho branco encharcado de suor, rebatia o advogado de Nilo: “Defesa da honra? Esse crápula não tem honra pra defender. O covarde tirou a vida da companheira sem dar-lhe de chance de explicar-se...”

    Sem entender o que se passava no salão, Zeca Pato-rouco pendurou-se na janela, esticou o bracinho e cutucou a costa daquele estranho usando estranho e negro vestido godê. O meritíssimo voltou-se para ver de quem partia a insolência e sensibilizou-se quando ouviu a voz fraquinha do menino magrelo:

    - Moço: o senhor não quer comprar uma dúzia de ovos? É só 20 cruzeiros...

    Faminto, sonhando com o almoço, o juiz levantou-se, levantou a saia, meteu a mão no bolso, entregou ao garoto uma nota de vinte cruzeiros, colocou o saco com ovos em cima da mesa e voltou a atenção para a fala do promotor. “Daqui a pouco, vou me esbaldar em farofa com arroz e feijão”, pensou.

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    Aroldo Pinheiro

    Meu vizinho

    Conheci o meu vizinho. Gente boa.
    Não, não é um novo vizinho. Há mais de dez anos moramos próximos um do outro.
    Nossas conversas, até segunda-feira, se resumiam a simples bons-dias, boas-tardes, boas-noites. Quando passou disso, no máximo, uma reclamação do calor.
    Com o apagão de segunda-feira, pela primeira vez coloquei cadeira na porta da rua e, enquanto fumava cigarros, abandonei-me em pensamentos vazios projetados na espirais de fumaça. De alguma forma, tentava não ficar nervoso com a falta que o Jornal Nacional me fazia.

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    Tia Lyka

    Grelo duro

    Olá, gente do bem!

    Sentiram minha falta? Nem sabem: na Páscoa, eu enfiei a cara nos ovos. Literalmente.Adooooro!

    Vixe, nem vou poder contar minhas sacanagens pra vocês hoje. Tenho uma pergunta daquelas e o Barão (mão de vaca) só me dá 400 palavras neste espaço, pode? Mas o tema é bom, vai deixar muito homem de orelha em pé. Vejam.

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    Plinio Vicente

    O tangedor de caranguejos

    Wagner Paiva da Silva - para os íntimos, para os colegas de farra, para as
    putas: Vaguinho. O caboco sempre foi bom de farra e adorava cabarés. Casou-se com Janaína, mas não se aprumou. Aproveitava todas as vantagens da vida conjugal: comidinha caseira, roupinha lavada e engomada, mulher cheirosa a esperar para carinho e vadiagem, etc., mas vivia o resto do tempo como se solteiro fosse.
    A esposa acostum

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    Aroldo Pinheiro

    A donzela e o despacho

    Passava pela mesma calçada e parava sob a mesma janela na esperança de que ela se debruçasse no umbral e lhe desse um sorriso. Nada, pois mesmo quando já estava enfeitando o batente com sua beleza, fazendo dele uma tela de pintura, bastava vê-lo para sumir. Procurou um pai de santo.

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    Plinio Vicente

    Prestação de contas--

    Era uma vez, num reinado imenso, um povo que se dizia feliz, apesar de cobranças de impostos absurdos, juros altíssimos, inflação fugindo ao controle e desmandos de toda sorte.

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