Muita gente pensa que ela era roraimense. Não era. Maria Luíza Vieira chegou ao então território federal em 1942, com um ano de idade. Posso garantir, entretanto, que Malu tinha mais amor por essa terra do que muitos roraimenses natos.
Fui parido em 1954, na rua Antônio Bittencourt. Malu, então com 13 anos, me viu nascer, pois nossa casa ficava bem pertinho da residência dela, ali pelas adjacências da Praça Barreto Leite.
Na pequena cidade, com poucas almas, Malu, desde a adolescência, agitava o meio cultural. Cirandas, quadrilhas e folguedos juninos eram com ela. Com apoio das madres do Colégio Sâo José, Malu formava grupos de jovens e fazia acontecer.
Tornei-me amigo de Malu Campos há algum tempo. Nela, descobri pessoa inteligente, bem humorada, determinada. Artes faziam parte da vida da paraense. Lembro-me de termos passado uma tarde juntos, vendo seus escritos, recortes de jornais e peças artesanais. Disse-me, naquele dia, que planejava escrever um livro com causos interessantes sobre Roraima e sua gente. Não teve tempo para isso; a ceifadora de vidas levou-a antes.
Há poucos anos, a diabetes forçou a amputação de uma das pernas de Malu. A ânsia de viver não deixou-a abater-se. Nem levou o seu bom humor. Disse-me, depois disso, que planejava ser enterrada inteirinha, "mas, se Deus quer assim, vou por partes".
Redes sociais que, em tese, deveriam aproximar as pessoas, provocam distanciamento. Acompanhando notícias sobre Malu Campos via Facebook, acomodei-me e não lhe fiz nenhuma visita nos últimos anos. Perdi muito, pois conversar com ela era, além de divertido, um verdadeiro aprendizado.
E Malu se foi. Com ela, foi-se parte boa da história de nossa terra.
Que Deus tenha um bom lugar pra ti, Malu.