Carta do Exílio

    Tia Lyka, que foi colunista deste jornaleco,dando conselhos a quem buscava aconselhamento, fala sobre sua vida na Venezuela

    Barão, querido,

    Acostumada a ler e responder sobre dúvidas e sofrimentos de leitores do Roraima Agora, faço o caminho inverso para relatar sobre a fria em que me meti. Tomara que minha experiência sirva de exemplo para balzaquianas como eu e faça que mulheres evitem dar passos errados como eu dei.

    Conheci Ramon em festa de confraternização no final de dezembro. Encantada com o charme e com a trolha que ele traz entre as pernas, larguei tudo para tentar vida nova aqui na Venezuela. O sonho acabou; hoje, junto um dinheirinho escondido, roubado desse colombiano bandido, para, na primeira oportunidade, voltar para minha terra.

    Fui enganada. Eu, puta velha, fui passada pra trás e hoje estou comendo do pão que o diabo amassou. A casa que esse bandido me descreveu não existe. Moro em barraco de madeira coberto com palhas de inajá no meio do mato, longe de tudo e de todos. Água só de poço - que eu tiro - e fogão de lenha - que eu busco no mato. Para conversar, só a bruxa velha, mãe do homem que me trouxe pra esse inferno. Acho que dona Dolores se encarrega de me vigiar, pois a monga está sempre conferindo o que estou fazendo. Até pra cagar a megera me controla.

    Durmo tarde e acordo cedo. Minha rotina é trabalho. Lavo, passo, cozinho, tomo conta de dois meninos catarrentos que Ramon tem de outros relacionamentos. E costuro. Não costuro pra fora como gostaria, estou costurando numa velha máquina Singer de pedal, produzindo calções e camisas que Ramon vende para uns miseráveis que vieram procurar riqueza nessa terra nojenta.

    Pra comer, sardinha todo santo dia. Sardinha com massa de milho. Meu Deus, como tenho saudade de farinha! Às vezes, sonho comendo um feijão suculento com farinha d'água. Daquelas bem grossonas, tipo piçarra.

    Outro sofrimento: eu, que gosto tanto de transar, estou sendo comida só quando Ramon tem vontade. Pior é que ele dispensa a carne dianteira e só se interessa pelo meu rabo. Com uma rola daquele tamanho, tem dias que eu não posso nem me sentar. Gozar? Faz tempo que eu não sei o que é isso.

    Nesses dois meses em que estou aqui, nunca vi um xampu; fazer unhas, nem pensar. Sem me depilar, tenho vergonha de levantar os braços e ver os sovacos cabeludos. De tão grandes, dá pra fazer trança com os pentelhos da minha pequeca.

    Chega de falar de sofrimentos. Quero dizer que, a qualquer hora, sem avisar, hei de voltar para nosso querido Brasil e perguntar se, quando voltar, ainda posso contar com minha vaga como consultora do Roraima Agora.

    Amo vocês. Beijos no Neguinho e na Abelhinha de Cheetos.

    Lyka 

    Sequestrador ciumento
    OVNI de água doce
    Comment for this post has been locked by admin.
     

    By accepting you will be accessing a service provided by a third-party external to https://jornalroraimaagora.com.br/

    Colunistas

    Literatura psicodélica - Hudson Romério
    0 post
    Literatura psicodélica - Hudson Romério ainda não definiu sua briografia
    Consulte seu advogado - Alcides Lima
    0 post
    Consulte seu advogado - Alcides Lima ainda não definiu sua briografia
    Querido diário - Diva Gina Peralta
    2 posts
    Querido diário - Diva Gina Peralta ainda não definiu sua briografia
    Fernando Quintella
    0 post
    Fernando Quintella ainda não definiu sua briografia
    Menina de rua
    9 posts
    Biografia
    Érico Veríssimo
    15 posts
    Em construção
    Tia Lyka
    59 posts
    Tya Lika
    Ulisses Moroni
    23 posts
    Ulisses Moroni Júnior é promotor de justiça no ...
    Aroldo Pinheiro
    76 posts
    Aroldo Pinheiro,  roraimense, comerciante, jorn...
    Jaider Esbell
    5 posts
    Jaider Esbell veio da terra indígena Raposa Ser...
    Plinio Vicente
    36 posts
    Nascido há 71 anos em Nova Europa, re...
    © 2022 Criado e mantido por www.departamentodemarketing;com.br

    Please publish modules in offcanvas position.