Colunistas

    Jornal Roraima Agora
    Ulisses Moroni

    Redação, uma dívida eterna

    Observo pessoas repetindo histórias de sua vida. Cheguei a achar isto  falta de inovação. Hoje, entendo. Se vivêssemos eternamente, talvez nem teríamos passado. Como não é assim, nossa passagem por este mundo se torna um somatório de momentos. Daí os momentos marcante são contados repetidamente.

    Tenho algumas histórias de vida que sempre contarei. Uma destacada  certamente é sobre um detalhe no concurso de ingresso no Ministério Público de  Roraima. Um desvio intenso e ao mesmo tempo definidor da minha trajetória.              

    Devo a aprovação a isto que faço agora: ESCREVER. Claro que devo a meus pais, ao meu esforço, aos estudos, livros e professores e, evidentemente, à sorte. Mas, o diferencial foi a redação. Explico.

    Em 1997 eu fazia todos os concursos que apareciam. Queria um cargo de operador do Direito, e especificamente promotor de justiça. Saiu o edital,  e fiz inscrição para o concurso de promotor em Roraima. Tudo era difícil e concorrido. 

    Voltando mais no tempo, tive o privilégio de ter um curso específico de redação onde eu morava. Era semestral. Gostei tanto que cursei três vezes. Recomendavam aos alunos fazer duas redações por semana. Eu fazia uma ou mais por dia! Um amor eterno ali surgiu com o manuseio das palavras.

    Retornando ao concurso, faria num sábado prova de múltipla escolha. No domingo haveria uma dissertação, que deveria ocupar todo o espaço disponível. Seria corrigida pelo conteúdo jurídico e qualidade do texto.

    Eu até que era preparado, mas o conteúdo das matérias era extenso. Na quinta-feira anterior, li um texto de apenas uma página sobre HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL. São critérios para interpretar uma constituição. Literalmente,  apenas analisando o texto. Sistematicamente, analisando-a como um todo. Históricamente, conforme o momento em que foi elaborada. Teleologicamente, conforme o objetivo de cada dispositivo. Entre outros critérios. Algo amplo e complexo. 

    O tema da dissertação foi justamente Hermenêutica Constitucional! Um tema que conhecia pouco, mas tinha aquela pequeno texto na cabeça. Graças à prática de escrever, preenchi todo o espaço. E, do pouco que li, pude desenvolver extensos e lógicos raciocínios. Com pouca tinta, pintei uma área extensa!

    Resultado: obtive a nota mínima necessária na dissertação. Foi o suficiente para seguir e desenvolver as outras fases. No fim,  aprovação e rápida nomeação. É assim, então, que devo à redação, uma arte ou técnica, a um dos principais momentos de minha vida. Isso há 19 anos!

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