Crônica do Moroni

    Crianças sempre crianças

    Aqui em Boa Vista tenho visto algumas cenas que demonstram a força de “ser criança”, de sua forma de ver o mundo. Três cenas que presenciei com nossos irmãos venezuelanos,
    que vêm para cá tentar vida nova:

    Na porta de uma lanchonete ficavam aquelas índias, com filhos pequenos ao lado, pedindo esmolas. Inclusive parece que saíram de Boa Vista, não mais as vi nos semáforos. Entrei na
    lanchonete e me pediram uma esmola. Não daria dinheiro, mas um alimento sim. Comprei um pacote de balas para meu filho e uns salgados para aquelas crianças, eram duas. Dei os salgados para a mãe, sob o olhar indiferente dos infantes. Quando viram na minha mão o pacote de balas, os olhos delas brilharam e passaram pedir as guloseimas. A mãe até não gostou, parece que somente ela deveria pedir esmolas. Mas entendi a mensagam e dei as balas às crianças. Que alegria sincera em seus olhos e sorrisos!

    Caminhando para meu o carro estacionado, vi uma cena mais forte. Numa lixeira, uma família de venezuelanos mergulhava para buscar algo. Era um lixo grande, um tambor, de um
    establecimento comercial. Também havia duas crianças, e de repente uma delas achou ali dentre algo similar a um brinquedo. Foi o suficiente para a outra se aproximar e brincar junto, pela calçada, se afastando dos pais que se mantinham mergulhados na lixeira. 

    Num caixa eletrônico de um banco umas duas ou três famílias venezuelanas se protegiam do calor sob o ar condicinado. E aproveitavam para pedir esmolas. Dentre oa adultos, apenas
    mulheres. Parece que eram avó, mães e tias. Umas cinco ou seis crianças com elas. Os adultos, na porta, um local estratégico, pediam cédulas. Estratégico, pois quem vai ali via de regra saca dinheiro.

    Como os adultos logo recebiam um sonoro não dos clientes do banco, então era a vez das crianças ‘entrarem em ação’. Elas iam até os clientes já nos caixas e pediam algo, geralmente
    estendendo a mão. Mas, ali também logo falava mais alto sua principal característica: serem crianças! Uma vinha por trás e pulava nas costas da outra, que passava a correr. As outras aproveitavam que o espaço era grande e passavam a correr também, umas pulando e sobre as outras, brincando e se divertindo!

    Sob o olhar meio reprovador dos pais, que talvez desejassem delas que fossem bem sucedidas nos pedidos de esmolas. Mas talvez se esquecessem que crianças, antes de tudo, da condição econômica, da nacionalidade, ou qualquer outra coisa, são crianças! Sedentas de brincar, pular, sorrir e gritar.

    Hipocondria
    Morto é morto
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