Fernando Quintella

    Fernando Quintella

    Terça, 07 Dezembro 2021 08:18

    Euclides bate na porta do céu

    Ele já fez muitas coisas na vida. Jogou futebol, trabalhou como office-boy, cobrador (29 anos correndo atrás de caloteiros), escriturário, virou escritor e já pensa em ser palestrante em tempo integral.

    Aos 66 anos, Euclides Junges é agitado por natureza. Desde a infância em Selbach, pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, onde infernizou a vida de vizinhos, professores, inspetores e, principalmente, do padre Cláudio, diretor do colégio de onde foi expulso várias vezes.

    Chegou em Roraima em janeiro de 1981, a convite de seu falecido irmão, Olavo, sem sequer prever ter futuro como escritor. Antes, dedicou-se à arte da cobrança, em dobradinha com os times das empresas onde trabalhava. Ganhou campeonatos em todas, no futsal, no campo e no Society. Também acumulou inimizades ao cobrar quem devia. Ponta-direita veloz, ótimo driblador, na maioria das vezes escapava da fúria dessa turma.

    Depressão

    Já aposentado, Euclides entrou em depressão. Ele trata o período depressivo como exemplo de como alguém pode sair das portas do suicídio ao sucesso como escritor. Ele descreve o período em seu terceiro livro, Grito de Alerta, editado em 2017. Desesperado, deixa bilhete de despedida, passa a corda pelo pescoço, sobe na cadeira, ora a Deus pedindo perdão pelo gesto e, no limiar de saltar no espaço vazio e morrer, suas pernas travam. Ele não consegue derrubar a cadeira. Entendeu a dificuldade como aviso Divino. Desistiu. À noite, sonhou com um anjo. Este o aconselhou: “Escreva um livro”.

    Naquele momento, Euclides trocou a depressão pelos textos. Decidiu contar sua história. Teve sucesso com o livro Aventuras de Um Desconhecido (2014), lançado em Selbach e em Boa Vista. A partir daí, publicou livros quase todo ano, sobre assuntos diversos.

    Também passou a fazer palestras em escolas e entidades de prevenção ao suicídio. Transformou-se em arauto da recuperação psicológica. Mostra como é possível virar o jogo, mesmo nos piores momentos.
    Entrada do Céu será lançado no dia 10 de dezembro, às 20h, no Centro de Tradições Gaúchas Nova Querência (avenida Brigadeiro Eduardo Gomes). Ele havia decidido parar de escrever. Ao comentar a decisão com o amigo Nicholas, este dá a ideia de ele escrever outro livro, mas de ficção, com viés espiritual. Assim foi feito. Na obra, ele se vê dividido entre a Terra e o Céu. O livro também é fruto de sonho do autor. Ele se vê dividido entre a Terra e o Céu. O Euclides celeste encontra-se com diversas pessoas importantes em sua vida, todas já falecidas. Os momentos de ajuste de divergências emocionam o leitor. Tem até jogo de futebol com uma turma de primeira, tanto de Selbach quanto de Boa Vista. O resultado? Spoiler, nem pensar... Figura redundante na vida de Euclides, o padre Cláudio (sempre ele) é protagonista na trama.

    Longe de ser obra religiosa, Entrada do Céu busca resgatar valores, abordar o tema da morte com respeito e humor, além de permitir a Euclides catarse necessária depois de tantas mudanças.

    Os próximos desafios já estão definidos: escrever livro sobre a importância da leitura na formação da juventude e transformar a missão de palestrante em profissão. Quem já jogou contra ele conhece o final: gol de placa.

    A cabeça não pode parar

    “Escrever tem sido fundamental para manter a minha sanidade mental”, garante Euclides. Há anos ele tem tido lapsos de memória. Já conhece o problema. “A minha mãe morreu com o Mal de Alzheimer”, lembra. “Perdeu completamente a memória. Foi difícil para todos nós”.
    Os primeiros sintomas ligaram o sinal de alerta. “Quanto mais pesquiso para os livros, mais faço a minha mente trabalhar”, acredita. “Com isso, retardo a progressão da doença. Jamais vou me entregar. Lutarei por me manter são até o fim”, garante o autor.

    Obras de João Euclides

    2014 - Aventuras de Um Desconhecido - O livro narra as inconsequentes travessuras de um menino de interior que um dia saiu de um lugar de onde não pretendia ter saído.
    2015 - Caminhando Sobre os Sonhos – a obra junta fragmentos relevantes de histórias que foram colhidas através de vivências diversas.
    2017 - Grito de Alerta – 2017 - viagem pelo cenário da depressão.
    2019 - A Arte de Vender Livros e Suas Histórias - narra a batalha diária de um escritor, vendedor dos próprios livros, que vai ao encontro de seu futuro leitor.
    2020 - A Menina e o Poeta – retrata a relação transformadora entre a beleza da juventude e a experiência de um homem bem mais velho.
    2021 - Entrada do Céu - baseado em sonho do autor, ao imaginar-se dividido entre a Terra e o Céu.

     

    NOITE DE AUTÓGRAFOS - Euclides Junges dedica uma de suas obras para o jornalista Fernando Quintella 

     

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    Dinossauro relata sua vida profissional com profundidade política

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    Sábado, 23 Outubro 2021 23:53

    Você já tentou ser escritor?

    Semana passada comemoramos o Dia do Escritor. As redes sociais destacaram a data com o reconhecimento de sempre, afinal, sem livros, qalquer país permanece ignorante. Mesmo com a discussão recente entre a leitura eletrônica ou no papel (anota meu voto aí para o papel), o importante é ampliar seus conhecimentos com um bom livro.

    Ser escritor exige talento, imaginação, pesquisa, revisões e mais revisões no texto, paciência para encontrar quem financie a obra, acompanhar o processo gráfico e, por fim, a venda do produto. Essa é a realidade da maioria absoluta dos profissionais do ramo no Brasil. Os campeões de venda precisam apenas dos primeiros tópicos. Os agentes encarregam-se dos demais.

    Agentes públicos também podem entrar no esforço de apoio aos escritores. A Justiça Federal em Roraima fez diversos lançamentos, quase todos na área jurídica. Iniciativa do juiz federal Helder Girão Barreto, ele mesmo autor do livro Direitos Indígenas-Vetores Constitucionais, sua tese de mestrado em Direito. O advogado João Fagundes, especialista em Direito Constitucional e Direito Militar, relançou a obra A Justiça do Comandante, considerada, durante décadas, a bíblia jurídica na área.

    Temos exemplos recentes de quem aventurou-se a escrever e conseguiu emplacar suas obras entre as bem vendidas. Euclides Junges, ex-cobrador de loja de eletrodomésticos por quase 30 anos, descobriu o talento e já está no sexto livro, faz mais: além da venda nas livrarias, aboleta-se nas portas dos supermercados, restaurantes, onde haja bom movimento. Vai para o corpo a corpo com o leitor, sempre em companhia do jornalista Bruno Garmatz, outro escritor recente. Segundo eles, os resultados são animadores.

    Tais exemplos incentivam os inibidos. Pessoas com talento escondido, mas sem coragem de testá-lo. Se for o seu caso, entre firme no desafio. Você pode se surpreender com o resultado.

    Instituição internacional não dá trégua à paralisia infantil

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    Quarta, 03 Março 2021 02:29

    Coisas da vovó

    Nossa sobrinha-neta Bianca, recém formada em medicina, era bem pequena quando desenhou a avó, Denize, com traços bem envelhecidos. Minha irmã protestou na hora:

    - Bianca, eu nem tenho 50 anos! Seu desenho está errado.

    A resposta primou pela lógica:

    - Toda vovó é velhinha.

    À época, livros infantis retratavam avós como pessoas bem idosas, muitas vezes com a indefectível bengala para suportar o peso dos anos. Os cabelos brancos eram obrigatórios.   

    O Terceiro Milênio mudou esse conceito. Recursos científicos modernos são responsáveis pelo aumento na longevidade dos avós atuais. Muita bisavó passa longe de bengala; bate o ponto nas academias da vida.

    Vovó Neném, mãe da minha mãe, desde o começo dos anos 1950 estava nesse grupo dos idosos com saúde debilitada. O médico de família determinava dieta pobre em gorduras e açúcares, evitar aborrecimentos, enfim, segurar a onda.

    Entre a ordem médica e a realidade, havia aquela cozinha sempre cheia de comidas convidativas, embora proibidas. Ela e vovô Quintella moravam com meus tios, Arandy e Zita. Havia sempre olhos atentos aos movimentos da dona Neném.

    Mas, tal qual os dribles certeiros do Garrincha, vovó usava e abusava da imagem da inofensiva. Com seu vestido longo, todo abotoado à frente, com dois grandes bolsos nas laterais, movimentava-se sorrateira próximo às panelas. Bobeou, ela beliscava algo fora do cardápio recomendado.

    O gol de placa teve início em casa e terminou no hospital. Era véspera de Natal. Vovó ficou de olho na cozinha, onde as comidas gostosas eram preparadas. Deu aquela voltinha de praxe, saiu de fininho e foi descansar na varanda. Pouco depois, sentiu-se mal. A pressão estava alterada.

    Alguma coisa estava errada. No carro, a caminho do hospital, ela jurava ao tio Arandy ser inocente no quesito estripulias na cozinha. Negou até o fim. Só entregou os pontos quando o médico, depois de examiná-la na emergência, trouxe a prova do crime: vários bolinhos de bacalhau encontrados nos bolsos. Dona Neném era demais...

     

    Sexta, 20 Novembro 2020 20:17

    Respeita o juiz, Rivaldo

               Uma historinha com Rivaldo Neves, o peladeiro

    Quinta, 12 Novembro 2020 10:08

    As cravinas proibidas

    Meu tio Custódio, já falecido, adorava contar histórias da infância vivida nos primeiros anos do século passado, no Rio de Janeiro. Garoto levado, como se dizia à época, deixava seus pais apavorados com suas trapalhadas. Se o assunto fosse pipa, então, era com ele mesmo. Sabia fazê-las com extrema habilidade.

    O caso das cravinas proibidas marcou sua memória. Aqui explico o cenário antes de prosseguir. Até hoje há quem tenha pavor de cemitérios. Pessoas morrem de medo (sem trocadilho) de entrar nos antes chamados de campos santos ou mesmo ter consigo objetos lá recolhidos.

    Vida dura de garoto de subúrbio, tio Custódio se virava para conseguir alguns trocados. Vendia pipas, levava encomendas, capinava jardins, enfim, se havia algum pequeno serviço, lá estava ele disponível.

    Próximo ao Dia de Finados, nosso personagem ficava na porta do Cemitério do Caju, o maior do Rio de Janeiro. Bastava aparecer algum parente de pessoas lá enterradas e ele oferecia seus serviços de limpeza de túmulos e jazigos.

    Certo dia, ao limpar as proximidades de um túmulo, o tio viu um pé de cravina carregado de flores. Antes de ir embora, arrancou um galho e levou para casa. Plantou no jardim sem dar explicações à mãe. Já com a muda bastante crescida, a família recebeu visita em casa. Ao passar pelo jardim, a visitante elogiou as cravinas exuberantes. Curiosa, quis saber de onde a muda viera. Dona Miquelina, portuguesa, questionou o filho sobre a origem da muda. Tio Custódio, sem pensar nas consequências, cometeu o sincericídio:

    - Peguei no Cemitério do Caju, no dia de Finados.

    As duas tiveram um chilique. Depois de se benzerem, dona Miquelina decretou o fim das cravinas em tom elevado:

    - Arranca tudo! Tudo!

    Morreu Augusto Cardoso.

    Terça, 28 Julho 2020 03:18

    Bom humor no ar

    Esqueci os nomes dos personagens, mas só sei que foi assim:

    Segunda, 29 Junho 2020 15:47

    Dia de desfile

    Você já viu tartaruga a motor? Quem estava naquele desfile em um 13 de setembro qualquer nos anos 1980 viu. A data marcava a criação, em 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas, do Território Federal do Rio Branco, denominação mantida até 1962, quando passou a ser Território Federal de Roraima, por projeto de autoria do deputado roraimense Valério Caldas de Magalhães.

    Explicado o motivo da comemoração, vamos aos fatos. As escolas preparavam-se durante meses para o desfile. A avenida Ene Garcez ganhava grande público, animado com o garbo dos desfilantes e criatividade de alegorias, representativas das mais variadas áreas da vida roraimense.

    O público divertia-se com as bandas escolares, onde preponderava o Ginásio Euclides da Cunha (GEC), sob a batuta do cabo músico do Exército Guerreiro. Há quem discorde e prefira outras bandas, mas a ideia é essa. O contraditório.

    Agora que você já está na avenida, lá vem a tartaruga a motor. Ideia das sempre criativas irmãs Maria das Dores e Petita Brasil, era um fusquinha coberto por capa de pano desenhado como quelônio, que circulava pela Ene Garcez em “visita” a ambos os lados da pista. O público vibrou com a engenhosidade da dupla. Sucesso absoluto.

    Na saída do desfile, Maria das Dores lamentava problema ocorrido com o som instalado no fusca, com as mensagens de preservação ambiental preparadas por elas. Os alto-falantes falharam. Mesmo assim, foi espetacular. 

    Pouco tempo depois, Maria das Dores Brasil faleceu. Tabeliã titular do Cartório de Imóveis, artista plástica cinco estrelas, tinha consciência ambiental na medida certa. Na parceria com Petita, no desfile, saiu de cena com o brilho de sempre.

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