O telefone celular toca no banheiro da casa, onde a mãe toma banho no chuveiro, enquanto o filho pequeno diverte-se com o aparelho. Ao atender a chamada, ela ouve, do outro lado da linha, a amiga, com a voz agitada, tentar explicar alguma coisa. Toda molhada, comenta: “Desculpe, estou no banho. Ligo já, já”. Então a amiga dá a resposta mais apavorante possível: “Eu sei que você está no banho. Aliás, todos os seus amigos sabem, porque o seu celular está transmitindo ao vivo”.
Pois é, o garotinho, com poucos anos de idade, sabia mexer no celular, inclusive para transmissão de vídeo em tempo real. Certamente, ele achou um barato mostrar que a mãe é limpinha; toma banho mesmo. São os novos tempos. A tecnologia permitiu avanços nas comunicações com velocidade incrível. A garotada aprendeu a trabalhar com os aparelhos eletrônicos. Já os adultos, na maioria das vezes tropeçam na quantidade de opções existentes, custam a entender os passos a dar, esquecem as senhas, tremenda loucura.
O caso da live (transmissão ao vivo, na linguagem dos iniciados) feita pelo cinegrafista ocasional está longe de ser fato isolado. Todos os dias, ouvimos relatos de travessuras de pequenos com o celular dos parentes. Bobeou, lá vem encrenca. Aliás, muitos pais desconhecem as funções de bloqueio de conteúdo em sites, medida ideal se você quer evitar problemas.
Outro dia, certa jovem confessava ter aprendido a ver as horas recentemente. Segundo seu relato, ela sempre consultou o celular para fazê-lo. É digital, fácil de visualizar e está sempre conectado com o satélite (hora certa garantida). O relógio no pulso serve como componente estético.
Os hábitos mudam, assim como o mundo. O progresso é inevitável; ainda bem. De qualquer maneira, tenha cuidado ao entrar no banho ou trocar de roupa no quarto. Antes confira se o celular está em lugar seguro ou desligado. Já imaginou, você pelado(a), ao vivo, para um Brasil de audiência?
A euforia da torcida é justificada pelos resultados expressivos conquistados pelo Flamengo no Brasileirão e Libertadores da América. O time entra em campo com vontade de ganhar, encurrala seus adversários, esbanja preparo físico e sobra no quesito criatividade.
Parte da imprensa e as mensagens nas redes sociais exaltam, com inteira justiça, o olho clínico dos atuais gestores da área do futebol como fator fundamental nas recentes conquistas do clube. Jogadores comprados encaixaram-se com perfeição no time.
Pouco se falou sobre a construção da base financeira responsável pelo sucesso. Ou melhor, no gestor cinco estrelas capaz de, em seis anos como presidente, sanear as finanças do então campeão de dívidas entre os clubes brasileiros: R$ 750 milhões, em janeiro de 2013.
Com a experiência de gestor público respeitado nos meios financeiros do país, o então presidente Eduardo Bandeira de Melo impôs modelo de gestão austero desde os primeiros dias de mandato. Fechou torneiras antes fartas no desperdício de dinheiro. Equacionou dívidas de curto, médio e longo prazos. Jamais deixou a emoção de torcedor superar o bom senso do administrador.
Ao fim do segundo mandato, Bandeira de Melo entregou o clube aos sucessores com o passivo reduzido para R$ 350 milhões, resultado comemorado pela FIFA como case de sucesso em administração esportiva. Ele pagou mais da metade da dívida original em seis anos.
Títulos? Bandeira de Melo tentou muito dar à torcida as conquistas desejadas. Infelizmente, o desempenho em campo ficou longe das tradições do clube. Mesmo com a gritaria, o dirigente priorizou a saúde financeira. O novo cenário permitiu à nova diretoria comprar bem, pagar bem e ganhar três campeonatos, por enquanto.
Faltou Eduardo Bandeira de Melo na festa do título ganho em Lima. A briga política falou mais alto e impediu o justo reconhecimento de quem pavimentou o caminho do sucesso.
Há dois anos, levei tremendo tombo na igreja de Santo Antônio, em Miguel Pereira (RJ), durante a missa, quando ia depositar a oferta na caixinha.