Desculpe o início da crônica sem qualquer criatividade, mas a notícia trouxe tanta tristeza e perplexidade aos roraimenses que o lugar comum torna-se razoável.
Artista plástico de grande sensibilidade, Cardoso desafiava a perspicácia dos interlocutores ao mostrar suas obras. Cada traço incorporava mensagem explícita ou implícita, a depender do objetivo do autor.
Cardoso embutia mensagens nas telas. Certa vez, conversamos sobre a percepção do público a determinada obra. Com aquele jeitão simples, de fala baixa e mansa, ele comentou: “Um casal olhava a tela e discutia sobre a minha intenção nas imagens. Cada um tinha um ponto de vista. Ambos estavam errados”.
Aliás, Cardoso divertia-se com as interpretações sobre suas ideias ao pintar. Mesmo os traços mais óbvios podiam conter mensagens mais profundas, que só ele podia explicar. Ao fazê-lo, ficava fácil entender. Mas até o observador entendê-las, o caminho era longo. Suas telas contêm iluminação bastante acentuada. Parecem estar em terceira dimensão. São impregnadas de realismo, encantam.
A maior demonstração de reconhecimento ao trabalho do genial Cardoso presenciei na visita de rotarianos indianos ao Estado de Roraima. Executivos e profissionais liberais em seu país, os visitantes quiseram conhecer a arte roraimense. Levei-os ao ateliê do Cardoso.
Recebidos com a generosidade de sempre do artista e sua esposa, Edi, ele mostrou a coleção de quadros em acervo. Explicava cada tela com a paciência de sempre. Os indianos, ávidos por informações, perguntavam bastante. Ao final, um deles, emocionado, beijou a mão do Cardoso e falou: “Deus está em suas mãos”.