Meu tio Custódio, já falecido, adorava contar histórias da infância vivida nos primeiros anos do século passado, no Rio de Janeiro. Garoto levado, como se dizia à época, deixava seus pais apavorados com suas trapalhadas. Se o assunto fosse pipa, então, era com ele mesmo. Sabia fazê-las com extrema habilidade.
O caso das cravinas proibidas marcou sua memória. Aqui explico o cenário antes de prosseguir. Até hoje há quem tenha pavor de cemitérios. Pessoas morrem de medo (sem trocadilho) de entrar nos antes chamados de campos santos ou mesmo ter consigo objetos lá recolhidos.
Vida dura de garoto de subúrbio, tio Custódio se virava para conseguir alguns trocados. Vendia pipas, levava encomendas, capinava jardins, enfim, se havia algum pequeno serviço, lá estava ele disponível.
Próximo ao Dia de Finados, nosso personagem ficava na porta do Cemitério do Caju, o maior do Rio de Janeiro. Bastava aparecer algum parente de pessoas lá enterradas e ele oferecia seus serviços de limpeza de túmulos e jazigos.
Certo dia, ao limpar as proximidades de um túmulo, o tio viu um pé de cravina carregado de flores. Antes de ir embora, arrancou um galho e levou para casa. Plantou no jardim sem dar explicações à mãe. Já com a muda bastante crescida, a família recebeu visita em casa. Ao passar pelo jardim, a visitante elogiou as cravinas exuberantes. Curiosa, quis saber de onde a muda viera. Dona Miquelina, portuguesa, questionou o filho sobre a origem da muda. Tio Custódio, sem pensar nas consequências, cometeu o sincericídio:
- Peguei no Cemitério do Caju, no dia de Finados.
As duas tiveram um chilique. Depois de se benzerem, dona Miquelina decretou o fim das cravinas em tom elevado:
- Arranca tudo! Tudo!