Janeiro de 1981. Recém chegado ao então Território Federal de Roraima, fui convidado pelo Manuelzinho para jogar bola no sábado. A tradicional pelada do Lago dos Americanos reunia turma da melhor qualidade. Antes mesmo de chegarmos, fui avisado: “O pessoal adora fazer brincadeiras, tirar sarro...”
Escalados os times da primeira partida, faltava árbitro. O empresário da construção civil Rivaldo Neves aproximou-se de mim e perguntou: “Você quer apitar?” Manuelzinho sinalizou para eu recusar. Mesmo assim, aceitei o convite. Afinal, o ambiente estava tão amistoso...
Foi a bola rolar e começar a encrenca. Eu apitava e era bronca de todos os lados. Eles criavam confusão até nos lances mais evidentes. Marquei pênalti contra o time do Rivaldo e o ambiente esquentou de vez. Decisão mantida, cobrança feita, bola dentro: 1 a 0.
Quando apitei o fim do primeiro tempo, apontei para o meio de campo. Rivaldo ironizou:
- Olha só. O cara, além de apitar mal, ainda parece com o Armandinho.
Ele se referia ao ex-árbitro de futebol Armando Marques, conhecido por seus trejeitos e gestos exagerados.
Ainda sem saber como aquelas pessoas tão simpáticas transformavam-se dentro do campo, lá vem o Rivaldo de novo. Agora, com novo discurso.
- Eu quero pedir desculpas - disse ele. - Eu fiquei exaltado, coisa de jogo. O senhor não me leve a mal...
Todos caíram na gargalhada. O motivo? Tinham Inventado que eu era o novo juiz de direito da cidade. Ele havia mexido com a pessoa errada. Poderia ter problemas com a Justiça no futuro. Preocupado, Rivaldo tratou de consertar possível estrago.
Ficamos amigos a partir desse episódio. Ao nos encontrarmos, falávamos sobre a nossa paixão comum, o Flamengo. Infelizmente, neste 19 de novembro, Rivaldo, pessoa do bem, foi para o andar de cima. Deixou-nos muito cedo, vítima de Acidente Vascular Cerebral. Fica o seu exemplo de excelente caráter e simpatia. Fará falta, muita falta. Vai com Deus, amigo.