Maio de 2008. O voo de Santarém para Manaus transcorria tranquilo. Avião lotado, céu de brigadeiro. O tempo curto de voo - 60 minutos – reduzia a ansiedade dos passageiros. Bastou o avião nivelar (encerramento da subida) para o comandante anunciar detalhes do voo, como altitude, velocidade, previsão do tempo e horário previsto de chegada ao destino.
A partir daí, o comandante deveria desejar boa viagem a todos e voltar à pilotagem. Deveria. Mas ele decidiu dar um toque de humor à viagem.
- Gostaríamos de parabenizar a comissária pelo título de Rainha da Lambada, ganho em Belém, ontem. Parabéns!
A gargalhada foi geral. A “homenageada”, sem graça, acenou para os passageiros, fez cara de satisfeita, mas havia brilho de revanche em seus olhos.
Dizem que “vingança é prato que se come frio”. Ela desconhecia o ditado, pois ao nos aproximarmos de Manaus, fez as informações de praxe e, com requintes de crueldade, deu o troco:
- Esta tripulação lamenta informar que o comandante faz, hoje, seu último voo por nossa companhia. Ainda nesta semana ele realizará seu sonho de infância. Trocará a aviação pelo balé clássico. Ele foi aceito como bailarino pelo renomado Balé Bolshoi, da Rússia. Parabéns, comandante! Sucesso na nova carreira!
Os passageiros caíram na gargalhada. Parecia show de humor, dos bons.
Pouso feito com segurança, aeronave estacionada, os passageiros saíam e cumprimentavam o comandante pela escolha, desejavam sucesso. Ele retribuía com sorriso amarelo.
Mauro Rinaldi, psicólogo e renomado neurocientista, cujo bom humor é bastante conhecido, acenou para o “bailarino” enquanto disparava:
- Parabéns, comandante! Sucesso! Por favor, envie convite da sua estreia. Eu adoraria prestigiá-lo.
“Quem diz o que quer, ouve o que não quer”, já dizia minha sábia mãe.