Nós, brasileiros, somos gente boa mesmo?
Sou brasileiro e roraimense. Como diria Gilberto Freyre, tenho a trinitária das raças: indígena, afro e europeia. Desde que me entendo por gente, ouço dizer que o brasileiro é legal, solidário, gente boa. Mas será mesmo? Tirando os velhacos (que de espertos não têm nada!), acho que somos é um bando de idiotas e ingênuos! Beiramos o otarismo! Somos manipulados o tempo todo, viramos xenófobos, não pela razão preconceitual, mas, sim, para chamar atenção. Sofremos desde sempre da carência de não sermos reconhecidos como nacionais, de não sermos enxergados pelo resto do País - eles não gostam da gente; não nos reconhecem como brasileiros. Quando aparecemos nos noticiários é só desgraça. Assim, somos nós, em busca de uma identidade, que nem sabemos direito o que somos e para onde vamos. Somos metade nordestina, um tanto indígena, um pouco do sul, alguns fragmentos da mãe África, resquícios de migrantes e imigrados do além mar, asiáticos, latinos e uns poucos cacos não identificados.
Somos um caso sui generis no Brasil. Temos uma população predominantemente formada por imigrantes - nos tornamos hostis e xenófobos por nós mesmos. Ao não reconhecermos o outro, estamos negando a nós mesmos. O que nos falta perceber é que somos um povo em formação, somos um Estado de pouco tempo. Fomos muito tempo território federal; boa parte dessas mazelas é reflexo desse período, quando nos mandavam governadores biônicos de toda espécie (e esses foram ficando..., ficando..., ficando...). É perceptível em ruas, feiras, praças, shoppings que somos um mosaico de todo tipo de gente - isso é o que nos metamorfoseia todos os dias em roraimense, roraimados e principalmente em brasileiros – porque é isso que somos: brasileiros.
Vamos ao que tanto nos aflige atualmente: os venezuelanos. Se tirássemos todos os hermanos de Roraima, não ficasse nenhum por aqui, nossos problemas se resolveriam? Creio que não. Na verdade, esse caso está em terceiro plano. Foi colocado em primeiro plano para servir de publicidade eleitoreira e, mais uma vez, encobrir todas essas disfunções que ocorrem todos os dias em nossa terra; por exemplo: a violência e os assassinatos contra nossos adolescentes, jovens e muitas vezes crianças, que diariamente estão nos noticiários sensacionalistas (tirando a Shirley Rodrigues que, com seu grito solo, denuncia a barbárie) ninguém mais se preocupa com essa parcela da nossa sociedade.