Até a metade do século passado, era comum, mesmo nas grandes cidades, as famílias sentarem em cadeiras colocadas nas calçadas, em rodas de bate-papo quase sempre animadas. Conversavam sobre o cotidiano de casa, da vizinhança, da cidade, do país, sobre temas variados, como esporte, lazer, cultura, artes, política, enfim, se havia assunto, vamos a ele.
Como a televisão só chegou ao país no começo da década de 1950, as radionovelas eram programa preferencial do povo. O Direito de Nascer, do cubano Félix Caignet, durou quase três anos. O Brasil parava para acompanhar o drama de Albertinho Limonta. O papo sobre os rumos da trama era garantido na reunião da calçada.
Futebol era meio caminho andado para a discussão. Música, nem tanto. Mas se a conversa envolvia a preferência entre as cantoras Marlene e Emilinha Borba, o barraco podia ser mais intenso do que jogadores dos times rivais.
Fofocas também faziam parte do cardápio? Claro! Coisas do tipo: “Você viu aquela sirigaita da casa 42 com a indecente, meio palmo acima do joelho, só para impressionar o bonitão da casa 71”? Mulherzinha vulgar está ali”. A partir daí, as orelhas do alvo começavam a arder.
Com o tempo, as comunicações passaram a prender o brasileiro mais dentro do que fora de casa. Aos poucos, as cadeiras nas calçadas desapareceram na maioria das cidades. Hoje, então, os papos tornaram-se virtuais, com pouca interação olho no olho.
E onde o Barão entra nessa história? Acostumado à rebeldia, ele coloca sua cadeira na calçada a espera de alguém carente de papo nesses tempos modernos? Nem tanto. Mas cultiva hábitos pessoais saudáveis. Outro dia, liguei para ele. Antes de engrenarmos a conversa, ele agradeceu à vizinha pelo pedaço de pudim entregue por cima do muro. Se ele devolver a gentileza em forma de doce de caju de sua lavra, será a Prova de que a sociedade ainda tem salvação.