A maior prova de força de qualquer mercado passa pelo teste da concorrência. Fatores como preferência pessoal, comodidade, garantia de qualidade e, principalmente, preço interferem nas escolhas do consumidor antes de finalizar a compra.
Pois o mercado cultural roraimense mostra evidente vigor nos últimos tempos. Já tratei do assunto neste espaço, em dezembro passado. Comentei sobre a excelente qualidade dos espetáculos apresentados no segundo semestre de 2018, pelas companhias teatrais de Boa Vista. Agora, o mercado passou, com louvor, no teste da concorrência.
Quando anunciaram, para o mesmo dia, as apresentações do humorista Léo Lins (programa The Noite com Danilo Gentili), no auditório da Faculdade Cathedral, e do espetáculo Queen Experience in Concert (quatro músicos principais, maestro e orquestra), no Teatro Municipal, muitos temeram pela falta de público. Pois aconteceu o contrário. Ambos os eventos exigiram sessão extra, porque os ingressos para as primeiras sessões esgotaram-se rapidamente.
O Teatro Municipal oferece 1100 lugares. Como ambas as sessões lotaram, registrou-se a presença de mais de duas mil pessoas no evento. Mesmo sem o borderô do show de Léo Lins, chuto mais umas mil e duzentas pessoas nas duas sessões. Sucesso absoluto.
O espetáculo do Queen fez a turma dançar a maior parte do tempo. Os músicos incentivavam o público a se levantar e curtir o som das músicas da banda. Daysy e eu aproveitamos bastante (ela muito mais). Em respeito ao meu peso, sacudi um pouco e sentei. Mesmo assim, no dia seguinte, eu parecia ter levado tombo da carruagem da rainha. Valeu a pena. Quem sabe, um dia, a coluna também volte a ser roqueira...
Os dois últimos meses de 2018 foram pródigos em espetáculos teatrais realizados em Boa Vista. O Teatro Municipal recebeu excelentes espetáculos, principalmente montagens de peças desafiadoras, como “Malévola” e “Rei Leão”. O desafio encenar tais campeões de sucesso no mundo todo, inclusive no cinema, mostra o quanto encontramos empreendedores culturais ousados em Roraima.
Com elenco local, figurinos caprichados, coreografia bem ensaiada, cenários adequados e figurinos no padrão, ambas as peças, principalmente o “Rei Leão”, emocionaram o público que lotou o teatro nas apresentações. No domingo, 16 de dezembro, o teatro estava lotado, com seus mil e cem lugares ocupados por quem gosta de bom espetáculo.
O trabalho da companhia JM Jazz Studio de Dança mostrou-se impecável em todas as funções, sob a direção artística de Joadson Marques. Com respeito à montagem original, diretor e atores entenderam a oportunidade de encantar o público e convencer os ainda céticos de que podem acreditar no talento local, pois a resposta será sempre positiva.
Muita gente achou o espaço exagerado. Afinal, nenhum outro auditório comportava mais de mil pessoas em Roraima. A resposta está aí mesmo. Vários espetáculos preenchem o calendário cultural, talvez incentivados por palco à altura dos desafios até então restritos a grupos como A Bruxa Tá Solta, responsável por termos teatro de boa qualidade desde os tempos de território. Lá de cima, o saudoso Nonato Chacon estará satisfeito em ver a semente plantada por ele e Catarina Ribeiro consolidar a cultura teatral roraimense com força e competência
Walt Disney analisava o sucesso de seu império de entretenimento com frase emblemática: “E pensar que tudo começou com um camundongo”. Ele falava do Mickey, seu primeiro personagem. A partir dali, milhares de histórias infantis transformaram o sonho de Disney em realidade. Saíram do papel dos quadrinhos para as telas do cinema, viraram parques temáticos e o céu ainda é o limite.
Se o ratinho americano fez de Walt Disney celebridade, o bruxinho Harry Poter e sua turma mudaram a vida da britânica J. K. Rowling em bilionária, contra todos os prognósticos da própria. Embora com formação cultural impecável, estava em momento difícil quando desenvolveu a história da Escola de Magia de Hogwarts. Teve o primeiro livro (“Harry Potter e a Pedra Filosofal”) recusado por 12 editoras antes de decolar para o sucesso, com direito a série de filmes recordistas de público. E espaço no parque da Universal Studios, na Flórida, bem ao lado dos parques do Grupo Disney.
Quando todos pensavam no final do mundo mágico do bruxinho com os sete livros da série, lá vem Joanne com mais conteúdo. “Animais Fantásticos e onde Habitam” entremeia os animais da história com algumas passagens da série original. Já saíram dois livros e dois filmes, com recordes de vendas e público. Ela é uma fábrica de ideias, como Disney foi.
Disney e Rowling, duas histórias de sucesso a partir de ideias modestas. Quando acreditamos no projeto, o Universo conspira a favor. Jamais desista de seu potencial criativo, mesmo diante das adversidades. Os Beatles foram recusados, no início da carreira, por produtor de gravadora cuja opinião sobre os quatro cabeludos de Liverpool ainda hoje é considerada o maior erro da indústria fonográfica: “Essa música de vocês jamais fará sucesso”.
Você pode até não ficar biliardário, como o Tio Patinhas, ou ter poderes mágicos iguais aos do Harry Poter, mas viverá a sensação de fazer o que gosta e, quem sabe, inspirar as pessoas por um mundo melhor e mais divertido.
O brasileiro é supersticioso desde o nascimento, dizem os supersticiosos e alguns céticos. O ex-presidente José Sarney, por exemplo, só entre e sai de qualquer ambiente pela mesma porta. Se você perguntar o motivo, ele desconversa, como fez no Hotel Glória, no Rio de Janeiro. O maranhense tentou até enrolar os jornalistas, mas a desculpa esfarrapada só reforçou a certeza do velho hábito.
O futebol talvez seja o setor onde a superstição entra em campo antes dos times. Vale tudo na tentativa de garantir uma forcinha a mais para as suas cores. Vários jogadores, comissão técnica e dirigentes usam as mesmas roupas do jogo anterior (se o time venceu, claro), os atletas entram em campo com o pé direito, brigam pelo uniforme da sorte (na década de 1950, a torcida do Flamengo implicava com o uniforme número dois, o branco), e por aí vai.
De uns tempos para cá, apareceu a novidade de beijar a bola antes da cobrança do pênalti, como se o batedor fizesse declaração de amor definitivo à amada. Nem sempre funciona. Devem estar em rota de colisão. Quem sabe uma DR resolva o caso e, na próxima, o gol saia?
Desde 2017 passei a usar camisas do Flamengo para assistir aos jogos do Mais Querido. Ganhei-as de presente; a tradicional e a branca. Seria indelicado deixá-las na gaveta. Comecei a ritualizar o uso. Se ganhou, mantinha no jogo seguinte. Perdeu? Muda a camisa.
Quando o Brasileirão parou para a disputa da Copa do Mundo, o time estava em primeiro lugar com quatro pontos à frente do segundo colocado. Na volta, o Mengão começou a perder. Eu revezava as camisas, mas a queda continuava em ritmo de Fórmula 1. No fim, desencanei. As vitórias voltaram tarde demais. Perdemos o campeonato; vida que segue.
2019 está aí mesmo. Nova diretoria, novo treinador, novos jogadores... Novas camisas? Nem pensar. Li receita infalível na internet. Estenda a camisa no sereno por três noites de lua cheia e céu limpo; o sucesso é garantido.
No próximo dia 26, meu tio Wilson de Abreu Quintella completaria 100 anos. Considerado o divertido da família, era alegria certa em qualquer ambiente, com brincadeiras e histórias impagáveis.
Na infância, no Rio de Janeiro, mamãe, três anos mais velha, ia com o irmão à escola onde estudavam, em São Cristóvão. Apesar da vigilância, durante o período de aula ele escapava em direção à Quinta da Boa Vista. Quando menos se esperava, lá vinha o fujão com o uniforme todo roxo, manchado de jamelão (em Roraima, azeitona), sua fruta preferida.
Na adolescência, levava a minha avó Neném à loucura. Algo como chegar em casa com uma fieira de rãs ainda vivas e dizer calmamente: “Mãe, eu limpo e você frita”. Também podia aparecer com uma tábua cheia de pregos enfiada na planta do pé, sentar na soleira da porta da cozinha e, tranquilo, falar, enquanto arrancava a tábua. “Não foi nada, mãe”. O susto era garantido.
Já adulto, auditor da Shell, trazia histórias deliciosas das viagens. Duas ficaram famosas. No restaurante, o tio pediu filé com fritas. O corte foi macio, mas, ao mastigar, a carne estava dura. Calmo, brincou com o garçom: “Por favor, traga outro. Este filé foi tirado do lado em que o boi se esfregava na cerca”.
Em Salvador, parou na praça para comer algo típico. Logo chegou uma mulher linda, num carro conversível. Ela encostou na banca da baiana e pediu: “Um acarajé, por favor”. A vendedora perguntou: “Quente?” A morenaça confirmou: “Quente”. Cheio de moral, tio Wilson fez o mesmo pedido. Na primeira mordida, segundo ele, viu “a Bahia de cabeça para baixo”. Quente era sinônimo de apimentado. Sem ter como cuspir o bolinho, ele comeu no desespero. Já no hotel, muitos litros de água depois, constatou o estrago no palato queimado. Passou o resto da viagem em dieta líquida. Sem pimenta.
Saudades, tio Wilson!
Tremendo domingo, duas horas da tarde, caloraço daqueles, e lá estavam eles em plena atividade, na academia. Tínhamos saído de almoço caprichado no restaurante especializado em frutos do mar, ainda com o sabor da deliciosa sobremesa na boca. Deparar-nos com a cena gerou misto de vergonha (estar acima do peso causa esse tipo de reação, sim) e incredulidade.
Réu confesso nos exageros alimentares, comecei a pensar sobre os motivos de alguém suar por todos os poros, no dia do descanso universal. Logo imaginei o pior: ressaca moral. Meteram o pé na jaca na véspera e, agora, compensavam a estrepolia nos aparelhos da academia, companheiros de luta pela eterna forma perfeita.
Cansado só em olhar o vai e vem da turma empolgada, dei o desconto na avaliação. Deve ser local de paquera, em horários com menos frequência, logo, mais tranquilo na busca de parceria além dos aparelhos. Tudo bem, pode ser. Conheço muitos romances bem-sucedidos iniciados em academias.
Procuro entre os frequentadores alguém do meu tamanho. Ninguém. Parece aquela velha história de certos bancos só emprestarem dinheiro para ricos, de quem têm como receber, mesmo em momentos complicados. Talvez, não. Em visão menos crítica, a turma fitness está nos trinques porque malha todo dia.
No final, sem ter a minha resposta definitiva, sigo adiante, onde encontro o sorvete adequado ao meu estado de espírito. Entre uma colherada e outra, orgulho-me de poder desfrutar da maravilha gelada enquanto outros suam barbaridade nas academias.
Volto para o carro animado. O Flamengo jogará mais tarde. Preciso estar preparado. Ao chegar em casa, reflito uma vez mais sobre meu peso atual, a turma da academia, o sorvete no caminho, caio na real e tomo a decisão corajosa de mudar de vida.
Amanhã, segunda-feira, começarei a dieta...
Na segunda-feira, 15, as redes sociais deixaram um pouco o clima eleitoral de lado. Os grupos ficaram entupidos de mensagens em homenagem ao Dia do Professor. Eu mesmo entrei no clima, como faço todo ano. Minha postagem pegou carona na página do amigo Mauro Rinaldi, de São Paulo, com cena do filme inglês que dá título a estas linhas. Em 1967, Sidney Poitier dava o tom do respeito ao mestre em filme de sucesso absoluto até hoje. Se você não assistiu, assista.
No Brasil, multirracial, convivíamos em harmonia, com total respeito aos mestres, a começar pela entrada em sala de aula. A turma toda levantava-se como reverência à cátedra, a quem ia nos ensinar a ter futuro digno. A palavra do mestre era lei. Tínhamos idolatria pelos mais destacados. Entendíamos a missão daquela pessoa, cuja responsabilidade era preparar-nos para o futuro.
Os rigorosos concursos para o ingresso nas escolas e faculdades formadoras de profissionais do magistério tinham grande concorrência, com disputa acirrada pelas vagas oferecidas. Ser professor era sinal de status na sociedade.
Hoje, nesses tempos modernos, há pouco respeito a quem forma a massa crítica nacional, com raras exceções. Quando deixamos o quadro mudar? Sei lá. De repente, os alunos começaram a desrespeitar os professores em diferentes níveis, inclusive com agressão física. A procura pelo magistério diminuiu. Os salários despencaram tanto na área pública quanto na área privada. Os governos omitiram-se na remuneração decente a quem forma os profissionais do futuro.
Sinceramente, nos dias atuais, o mestre deveria receber adicional por insalubridade no serviço. Faz sentido.
Obrigado, mestres, por terem transferido seus conhecimentos a todos nós. Vocês merecem todas as homenagens.