O brasileiro é supersticioso desde o nascimento, dizem os supersticiosos e alguns céticos. O ex-presidente José Sarney, por exemplo, só entre e sai de qualquer ambiente pela mesma porta. Se você perguntar o motivo, ele desconversa, como fez no Hotel Glória, no Rio de Janeiro. O maranhense tentou até enrolar os jornalistas, mas a desculpa esfarrapada só reforçou a certeza do velho hábito.
O futebol talvez seja o setor onde a superstição entra em campo antes dos times. Vale tudo na tentativa de garantir uma forcinha a mais para as suas cores. Vários jogadores, comissão técnica e dirigentes usam as mesmas roupas do jogo anterior (se o time venceu, claro), os atletas entram em campo com o pé direito, brigam pelo uniforme da sorte (na década de 1950, a torcida do Flamengo implicava com o uniforme número dois, o branco), e por aí vai.
De uns tempos para cá, apareceu a novidade de beijar a bola antes da cobrança do pênalti, como se o batedor fizesse declaração de amor definitivo à amada. Nem sempre funciona. Devem estar em rota de colisão. Quem sabe uma DR resolva o caso e, na próxima, o gol saia?
Desde 2017 passei a usar camisas do Flamengo para assistir aos jogos do Mais Querido. Ganhei-as de presente; a tradicional e a branca. Seria indelicado deixá-las na gaveta. Comecei a ritualizar o uso. Se ganhou, mantinha no jogo seguinte. Perdeu? Muda a camisa.
Quando o Brasileirão parou para a disputa da Copa do Mundo, o time estava em primeiro lugar com quatro pontos à frente do segundo colocado. Na volta, o Mengão começou a perder. Eu revezava as camisas, mas a queda continuava em ritmo de Fórmula 1. No fim, desencanei. As vitórias voltaram tarde demais. Perdemos o campeonato; vida que segue.
2019 está aí mesmo. Nova diretoria, novo treinador, novos jogadores... Novas camisas? Nem pensar. Li receita infalível na internet. Estenda a camisa no sereno por três noites de lua cheia e céu limpo; o sucesso é garantido.