Domingo, 25 Fevereiro 2018 03:56

    Vocação: dúvida que atormenta jovens estudantes

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    Jovem universitária abandona Engenharia Elétrica por Medicina

    A situação é mais frequente do que se pensa. E, também, não é nova. Você que lê esta reportagem deve saber de alguém que sinta-se  infeliz com a profissão exercida ou conhecer alguém que tenha trocado de curso ao descobrir que havia feito a opção errada. 

    Ao coletar informações para a matéria, o Roraima Agora deparou-se com estudante que abandonou Arquitetura para estudar Jornalismo, mocinha que deixou Letras por Contabilidade, rapaz que abandonou faculdade para tornar-se bombeiro, viúva que fechou escritório de contabilidade para dedicar-se à massoterapia. Tem até uma jornalista que, apesar de não ter abandonado câmeras e microfones, gosta mesmo é de cantar forró.

    Ao fim da reportagem, o Roraima Agora quatro casos emblemáticos em justificativas para a troca de rumo e reorientação vocacional.

    Influência familiar, espelho na profissão dos pais, foco nos ganhos, entre outros, são os casos mais comuns que trazem insatisfação aos jovens que, tendo chance, procuram buscar a felicidade naquilo que realmente gostariam de fazer.

    Há também casos de pirraça. Gente que foge da verdadeira vocação para afrontar o pai - ou os pais - que querem - e, às vezes, impõem  que os filhos se engajem em determinado curso.

    Esse é o caso de Tariana Lucena que, depois de cursar Engenharia Elétrica por três anos na Universidade Federal de Roraima (UFRR), acaba de voltar para a mesma instituição, agora para cursar medicina, profissão que a seduz desde a mais tenra idade. “Meu pai sempre exigiu que todos nós fôssemos médicos e eu nunca gostei disso; agora que não vivemos mais com ele, resolvi tomar meu próprio rumo”, diz. 

     Foto: Aroldo Pinheiro

    O certo pelo duvidoso

    Roraimense, terceira de oito irmãos, de família de classe média, a pequena Tariana - 1,60m bem medidos - sempre estudou em escolas públicas. Afirma que não se destacava entre os melhores alunos, mas nunca esteve entre os piores. “Eu me sentava com a turma do meio, posição equidistante entre os CDFs da linha de frente e os bagunceiros do fundão”,  diz, mostrando o belo sorriso.

    Chegada a época de escolher curso para prestar vestibular, a pequena roraimense só tinha certeza de que não seria para Medicina. Como seu namorado, Maycon Zandonai, ia arriscar Engenharia Elétrica, ela deixou-se atrair pelo polo oposto e embarcou junto. Ambos foram aprovados.

    Tariana diz que se dava bem nas disciplinas, mas não gostava muito do curso. “Eu sempre quis ser médica. Meu pai  que atrapalhou. Juliana, a segunda irmã na escadinha lá de casa, e com quem eu mais me identifico, nasceu com algumas deficiências físicas (lábios leporinos e mãos de pinça). Acho que essa realidade despertou em mim a vontade de fazer algo por outras pessoas”, justifica.

    Com a separação dos pais, em 2014, a pequena resolveu largar Engenharia Elétrica de lado e estudar para alcançar o curso tão sonhado.

    A decisão causou rebuliço entre amigos e familiares. Diziam que ela estava sendo louca ao deixar o certo pelo duvidoso. “Mas eu sabia o que eu queria e que, para chegar a meu objetivo, muito dependeria de mim”, destaca.

    Depois de dois anos ralando, a futura médica vê o início de seu sonho se realizar.

    Abusada, ela também foi aprovada no vestibular da Universidade do Estado do Amazonas e, por meio do Enem, conseguiu vaga na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Pensei muito e ponderei prós e contras até me decidir pela UFRR.  Eu sempre tive vontade de estudar fora e senti-me tentada a me matricular na universidade gaúcha. Minha família é grande, minha mãe luta com dificuldade, a pensão que meu pai dá não é lá essas coisas, então seria muito difícil me manterem fora de Roraima até o fim do curso”, contemporiza.  

    Médicos em família

    Juliana, a irmã querida de Tariana é médica em São Paulo. Nesse mais recente vestibular da UFRR, Poliana, terceira irmã mais velha, que é bombeira militar do Estado de Roraima, também foi aprovada para Medicina. Resta saber se Luciana, a mais velha, formada em Administração de Empresas e servidora no Ministério Público Federal, também vai pirar o cabeção e resolver estudar medicina. E os quatro meninos mais novos?

    Feliz com o passo dado e com os rumos que as coisas tomaram, hoje, de Engenharia Elétrica, Tariana só quer saber dos choques que o namorado - que se forma no final do ano - vai continuar dando.

    Carmem Cabral Garcia, Psicóloga (Foto: arquivo pessoal)

    Cuidado com o fracasso

    Sobre o tema, Carmem Cabral Garcia diz que a escolha da profissão deriva de conhecimento pessoal, de habilidades e traços de personalidade. Ela percebe que a decisão sobre que carreira seguir também está vinculada às necessidades do mercado. Que não se trata de, simplesmente, “eu não me identifico com tal profissão, mas, principalmente, qual profissão me dará mais retorno financeiro”. É a razão se sobrepondo ao coração, o que pode causar insatisfação entre tantos outros problemas.

    Procurar orientação com um psicólogo pode ser uma saída, pois existem instrumentos (testes) hábeis que podem ajudar.

    A psicóloga sintetiza: deve-se conciliar interesses pessoais (vocação) com interesses do mercado para evitar problemas futuros como o fracasso.

     

     

    André Seve Gomes, publicitário (Foto: arquivo pessoal)

    De Engenharia Civil para Publicidade

    A profissão do pai influenciou na escolha de André Seve Gomes  que, depois de alguns meses cursando Engenharia Civil decidiu mudar para a UnB, onde fez Publicidade.  Afirma que, logo no comecinho, já sentiu que exatas não eram sua praia. Piadista, safo, bem humorado,  criativo, no  Banco do Brasil, o candango gerencia a TI (Tecnologia de Informação).

     Patrick Araújo, médico (Foto: arquivo pessoal)

     

    Medicina tocada de ouvido

    Carlos Patrick sonhava em ser músico. Criou grupo de pagode que causou. Fez vestibular, formou-se alguns anos depois. Abandonou o grupo pagodeiro e hoje é competente na profissão. Não se pode afirmar que a música tenha perdido um cantor; sabe-se que Boa Vista ganhou excelente médico.

     

    Victor Botelho, bacharel em Ciências da Computação (foto: arquivo pessoal)

     

    Trocando estetoscópio por microchips

    Neto de médico famoso, tendo os pais e alguns tios na mesma profissão, Victor Botelho pensava que seu destino seria cuidar da saúde das pessoas. Dois anos e meio cursando Medicina no Rio de Janeiro levaram-no a repensar. Jogou tudo pro  alto e ingressou na faculdade de Ciências da Computação. Hoje, ele diz que “foi meio  apressado na decisão”, pois, poderia bem ter administrado os dois cursos.

     

    Dó, ré, mi? Nem pensar

    Nos anos 1970, o soldado Antônio Dias não tinha certeza de que faculdade gostaria de cursar depois que saísse do Exército e resolveu fazer um teste vocacional. Resultados indicaram que sua tendência era para a Música. Toninho, que nunca aprendeu sequer a assoviar, formou-se em Administração de Empresas e trabalhou como bancário até o dia em que se aposentou.

     

     

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    Aroldo Pinheiro

    Aroldo Pinheiro,  roraimense, comerciante, jornalista formado pela Universidade Federal de Roraima. Três livros publicados: "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente" (2003), "A MOSCA - Romance de vida e de morte" (2004) e "20 CONTOS INVERSOS E DOIS DEDOS DE PROSA - Causos de nossa gente".

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