Sentados sobre a calçada quente, Yolanda faz uma sombra com pedaços de papelão para ela e o filho Oscar, com três anos de idade, se livrarem do sol escaldante de uma hora da tarde. Eles espiam o entra e sai de pessoas em uma casa lotérica. Automaticamente, esticam as mãos esperando que alguém lhes dê algumas moedas, mas todos estão apressados. São contas para pagar, boleto atrasado, a Mega Sena acumulada para apostar, não dá para olhar, quanto mais jogar uma pratinha para esses “venezuelanos”.
Yolanda aprendeu com brasileiros que, se colocar papelões em cima de assentos de motos para protegê-los do sol, pode ganhar algumas moedas.
Ela tem 10 filhos – trouxe oito para Boa Vista –, o menor tem um ano de idade e ficou com os outros irmãos no abrigo para migrantes, a meia hora de carro do local em que ela se encontra.
Índia de Tucupita, Venezuela, Yolanda vem fugindo da fome que assola seu país. Sua história é tão comum que nem causa mais indignação nas redes sociais. Estamos nos acostumando a ver a extrema pobreza debaixo de nossos olhos e desviarmos a vista para o celular. Mais importante ver quem mandou a mensagem no Whats.
Parece duro, mas é assim que reagimos. Uma rotina que nossos filhos já presenciam e também passam alheios, segurando a mão de seus guardiões. Para eles, estamos dizendo: “se você está protegido, tá tudo bem”.
Não está. A indiferença à miséria do outro é uma conta que todos, direta ou indiretamente, vamos pagar. Yolanda vai se recolher daqui a pouco, com o filho, pro abrigo, e nós vamos para nossas casas. Cada um no seu “conforto”, cada um no seu quadrado.
Até quando?