Talvez exageradamente, talvez não, o poema de Eduardo Alves da Costa seja o retrato do que estamos vivendo (ou estamos prestes a viver) em nossa outrora tranquila Boa Vista.
Na segunda-feira, 30, uma filmagem de alguns segundos recebeu centenas de compartilhamentos em redes sociais. Nela, um ongueiro incita imigrantes a invadir propriedades e não se preocuparem, pois, com a morosidade da Justiça brasileira, levaria muito tempo até que o imóvel fosse retomado por seus legítimos donos.
Manifestações pipocam. A agressividade é a tônica. Cidadãos de bem - bem intencionados ou não - buscam o linchamento de Clayton Abreu, que se diz representante do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados - SJMR, organização não governamental, que, segundo o site http://www.jesuitasbrasil.com tem sua sede em Belo Horizonte (MG) e é patrocinado pelo Vaticano e pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, além da Cúria de Jesuítas, em Roma.
Tiro no pé e efeito Doril
Se, com suas atitudes, Clayton Abreu pensava estar encontrando o caminho para proporcionar um certo conforto a milhares de refugiados venezuelanos que mendigam e perambulam pelas ruas de diversas cidades roraimenses, ele descobriu que mexe com casas de cabas-tatu e faz brotar o ódio e a intolerância de roraimenses contra seres humanos que fogem de seu país em busca de comida e de dias melhores.
Depois de ver a repercussão em redes sociais, Clayton sumiu. Na ong, ninguém atende ao telefone; sobre o paradeiro do incitador, ninguém diz nada.
Olho por olho
Na terça-feira, 31, cidadão que diz chamar-se Ezequiel e que administra o blog Roraima sem censura invadiu sala em que militantes do SJMR estavam reunidos com alguns imigrantes. Interrompendo fala de um palestrante, Ezequiel mostrou aos presentes que invasão a propriedades é crime e que a ong os está levando à criminalidade. E, antes de sair, desafiou: “Querem me botar pra fora? Chamem um juiz. Não me venham com policiais, pois, segundo vocês, invasão a propriedade não pode ser resolvida com polícia”.
Causídicos
Consultada pelo Roraima Agora sobre a atitude de Clayton, a advogada Rosa Benedetti se disse surpresa e indignada com o colega de profissão. “Isso é crime. O Artigo 286 do Código Penal descreve o delito de incitação ao crime, que consiste em incentivar, estimular, publicamente, alguém a cometer um ilícito, e prevê detenção de 3 a seis meses, além de multa.
Abhner Santos, advogado roraimense, em página de rede social, fez pronunciamento de cinco minutos, em que condena a atitude do ongueiro e esclarece sobre direito à propriedade. Discorre sobre DESFORÇO IMEDIATO, previsto no Artigo 1.210 do Código CIvil, que dá direito de o cidadão defender sua propriedade até com uso de violência, se necessário for.
Governo de Roraima
Na quarta-feira, 1º, a governadora Suely Campos assinou o Decreto 25.681, que “Decreta atuação especial das forças de segurança pública e demais agentes públicos do Estado de Roraima em decorrência do fluxo migratório de estrangeiros em território do Esado de Roraima e dá outras providências”(sic). Medidas de controle à entrada e ao atendimento de estrangeiros estão no Decreto. Resta saber se é dos veras ou se é coisa para eleitores verem.
A sorte está lançada