Nestes dias vi poema e viajei na minha memória. “Retornei” a 1984, à escola onde eu cursava o primeiro colegial. Aula de literatura.
Ali ocorreu um fato que nunca esqueci. Sobre VER MALDADE NA ATITUDE DOS OUTROS. Era fim da manhã. Estávamos com aquela impaciência natural para almoçarmos.
Havia na sala uns quarenta alunos. Lá no fundo, três alunas presentes, mas fechadas no mundinho delas. Se olhavam em espelhos de bolsa, faziam maquiagem e arrumavam o cabelo. Totalmente concentradas, mas na atividade estética, e não na aula!
Elas sorriam, comentavam entre si, trocavam escovas, batons e pentes entre si. Por sinal, alcançaram o objetivo: estavam belas e radiantes!
SE FOSSE HOJE, TIRARIAM FOTOS COM O CELULAR E POSTARIAM NO FACEBOOK! Os demais alunos em silêncio, concentrados na aula, começaram a olhar para elas com reprovação. Também olhavam para o professor, cobrando atitude. O professor, também incomodado, fazia algumas pausas na aula para ver se elas “se tocavam”. Mas as garotas estavam a anos luz de lá, “fechadas em seu universo de sonho e magia”. O professor resolveu agir e disse-lhes com delicadeza: - Minhas queridas, olhem para cá. Eu garanto que, se aprenderem Literatura, irão ficar ainda mais belas! E seus colegas aqui vão ficar felizes, assim como eu. As três, como que ouvindo um despertador, guardaram seus instrumentos de estética. E passaram a acompanhar a aula. O professor retomou seu trabalho, quando um aluno, de um canto qualquer da sala, falou, em tom afirmativo e de reprovação: - Professor, o senhor é casado! Ele se voltou para trás, deixando incontestável sua decepção com as palavras do rapaz. Olhou para um canto da sala, de onde veio a frase, e disse: - Eu não entendo como alguém conseguiu ver maldade no que falei. Vou dizer uma coisa, SE COM ESTA IDADE, PERTO DE QUINZE ANOS, JÁ ESTÁ ASSIM, IMAGINA NO FUTURO. Que mentalidade deturpada. VAI MAL! Concluiu: - Eu apenas quis ser gentil, no contexto do que elas faziam e, ao mesmo tempo, disciplinar a sala. Nada além disso passou por minha cabeça.
Virou as costas novamente e continuando sua aula. Todos ficaram em silêncio. Cada um buscava o autor da frase. Talvez pensavam que o “colega ao lado” tenha feito o comentário equivocado. Sempre recordo deste episódio quando alguém vê más intenções em minhas ações, mas que nem de longe existem.
Este retrato da memória é um símbolo para eu evitar as conclusões preconceituosas e precipitadas. Boa lição da escola da vida!
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