Fortes lembrança de minha infância são as caronas nos primeiros anos escolares. Às vezes ia com a mãe de um colega. Outros colegas iam juntos. Era revezamento: às vezes, ela levava; outras, a minha mãe e as dos demais faziam a função.
Não sabíamos o nome da mãe de nosso amiguinho. Pelo seu jeito de ser e a forma como tratava o filho, nos referíamos a ela como A FADA. A maneira de falar com o filho, os olhares, os abraços eram coisas de rainha para um príncipe.
O pai, ao contrário, era a ignorância total. Não deixava o colega jogar futebol, assistir a desenhos animados, entre outras barbaridades. Escondida do pai, era a mãe quem dava esses prazeres ao menino.
Mudei-me para nova escola. Aquele meu colega também foi estudar lá. Morando em novo endereço, não havia mais "a fada" com ele! Os pais tinham se separado e ele passou a morar na casa da avó paterna. Sei que o pai ficou com a guarda do menino. Como eu era criança, não entendia muito destes assuntos.
Aquela situação o afetou bastante. Ele tornou-se excessivamente sensível e sem auto-confiança. Os maldosos o chamavam 'Pateta-chorão'.
Uma vez, estávamos num campo de futebol de várzea e ele chegou. Ali estavam uns elementos que gostavam de importunar os outros. Juntos, se julgavam os donos do pedaço. Não é que, sem qualquer motivo, disseram que não iam deixar nosso amigo jogar. Ele, chorando, cabeça baixa, virou-se para ir embora. Aqueles idiotas ainda tiveram a maldade de falar que "filho-de-puta não joga aqui nunca mais"!
Num gesto de surpresa, jamais esqueci, o menino virou-se para o campo e gritou: "Não falem da minha mãe. Vocês nem conhecem ela! Mãe ruim deve ser a de vocês, que não os ensinou a respeitar as pessoas. Vou resolver isto agora!"
Ato contínuo, pegou um pedaço de bambu que estava por ali e partiu para cima dos agressores, batendo onde e como pôde. Cena digna de filmes de kung-fu. Fez todos correrem.
Se eu, que somente vi, nunca esqueci, imagine os valentões que sentiram "na pele" a "violenta-emoção" daquele garoto que eles chamavam Pateta-Chorão!
Com a cena, descobri a força do sentimento materno para uma pessoa e a importância do "NÃO COLOQUE A MÃE NO MEIO".
A avó dele faleceu e, com o o pai, ele se mudou dali.
Gostaria de saber como ele está hoje e o que realmente ocorreu com sua mãe. Tomara que eles, mãe e filho, tenham se reencontrado.