Atendendo convite do governo, que precisava de professores para expandir a rede escolar, Erasmo Sabino de Oliveira mudou-se para Roraima. Em Boa Vista, enquanto se dedicava à educação de adolescentes, viu possibilidades de ganhar dinheiro no setor imobiliário. Se deu bem.
No final do século passado, numa dessas campanhas de governo em tempo de crise, a Caixa Econômica Federal alardeou que teria bastante dinheiro para financiar quem quisesse investir em casas populares.
Ao saber que existiria verba fácil para o setor, o empresário, destemido, resolveu que aquele seria o momento de alavancar seus negócios.
Ao ver o projeto de Erasmo, o gerente do banco federal assegurou-lhe que, depois de análise da documentação, o dinheiro seria liberado. Com aquela garantia verbal, para ganhar tempo, o potiguar resolveu iniciar a construção de seu conjunto habitacional.
Depois de um mês de desembolso, a fonte secou e o financiamento oficial não havia saído. “É questão de dias”, garantiu-lhe o gerente. Para não parar, Erasmo passou a comprar fiado o material necessário para dar andamento nas obras.
Sessenta dias se passaram e o empréstimo não tinha sido aprovado. O gerente disse que logo, logo, a grana estaria na conta do empreendedor. Desmobilizar equipes redundaria em prejuízo. Além do mais, sem reservas, como pagar rescisões trabalhistas? A saída: pedir dinheiro emprestado a agiotas e tocar o que havia iniciado.
Já bastante endividado no comércio e pendurado em mãos de agiotas, Erasmo soube que a carteira para o financiamento que ele pleiteara havia sido fechada.
Desespero. Apelar pra quem?
Ao ouvir lamúrias do empresário, Marivaldo Barçal, advogado, prometeu levá-lo a Brasília para falar com Romero Jucá. Para o influente senador, não seria difícil mobilizar a Caixa Econômica Federal e resolver o problema de Erasmo.
Passagens foram compradas com cheque pré-datado. Difícil foi convencer dona Dalva, proprietária da boutique Shalon a vender-lhe fiado um paletó.
Numa sexta-feira, Marivaldo e Erasmo embarcaram juntos para encontrar-se com o senador às oito horas de segunda na capital federal.
No gabinete, além do senador, estavam presentes uns oito homens vestindo elegantes e finos paletós pretos: os picões da Caixa Econômica Federal. Romero Jucá iniciou o discurso:
- Senhores, esta reunião foi agendada para ver se, juntos, conseguimos encontrar uma solução para o problema deste grande empresário roraimense. Erasmo enfrenta sérias dificuldades desde que a Caixa Econômica fechou uma carteira de crédito e está a ponto de parar um dos maiores empreendimentos imobiliários de nosso Estado.
Com um olhar, o vice-presidente consultou o presidente da Caixa Econômica Federal; sentindo-se autorizado a falar, dirigiu-se ao empresário:
- Quantas casas o senhor está construindo?
Apesar de nervoso, Erasmo respondeu alto:
- 55.
Os homens da Caixa se entreolharam, o senador Romero Jucá mostrou-se nervoso. O vice-presidente da instituição reinquiriu Erasmo com certo sarcasmo:
- Quantas?
Erasmo respondeu pausada e nervosamente:
- Cin-quen-ta e cin-co.
Os homens da Caixa abriram risadas, Romero Jucá ficou vermelho de vergonha; o presidente fechou:
- Senador, problemas desse tamanho, a gente resolve com um telefonema...
Erasmo ficou satisfeito com a promessa de que seu financiamento seria liberado no dia seguinte. Depois de agradecer o senador Romero Jucá pela ajuda, pediu-lhe R$ 200 reais emprestados para pagar o táxi.
- Senador, problemas desse tamanho, a gente resolve com um telefonema...
Erasmo ficou satisfeito com a promessa de que seu financiamento seria liberado no dia seguinte. Depois de agradecer o senador Romero Jucá pela ajuda, pediu-lhe R$ 200 reais emprestados para pagar o táxi.
Read MoreAroldo Pinheiro, roraimense, comerciante, jornalista formado pela Universidade Federal de Roraima. Três livros publicados: "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente" (2003), "A MOSCA - Romance de vida e de morte" (2004) e "20 CONTOS INVERSOS E DOIS DEDOS DE PROSA - Causos de nossa gente".