Até recentemente, na década de 1960, a média de vida do brasileiro era 50 anos. Naquele tempo, uma pessoa que chegasse a quatro décadas era considerada velha, quase inútil. Hoje, chega-se aos 70, 80 anos com disposição e qualidade de vida. Prova disso são Luiz e Maria José, que, somando 138 janeiros, depois da cerimônia de casamento no Cartório do 2º. Ofício, no dia 3 de novembro, só pensam em ser felizes.
Ela é de Grajaú; ele de Lago da Pedra. Ambos maranhenses que vieram para Roraima em busca de dias melhores.
E quem diria que os destinos de Maria José de Souza Rocha e Luiz Vaz Costa se cruzariam na Terra de Makunaima e teria desfecho parecido com final de novelas?
Pois no dia 3 de novembro, Maria José, viúva, 67 anos, quatro filhos, 11 netos, casou-se com Luiz, viúvo, divorciado, 71 anos, sete filhos, 16 netos, quatro bisnetos, e, juntos, dão início a uma nova jornada em busca da felicidade.
Amizade
Em Roraima, Maria José e o marido, Antônio, ocuparam lote de terra em Apiaú, município de Mucajaí; Luiz e a esposa, também Maria, procuravam tirar seu sustento de gleba na mesma região. Vizinhos, se tornaram amigos. “Entre mim e a mulher dele nasceu uma amizade muito grande: dessas de conversar qualquer assunto. Ela era muito gente boa”, diz Maria José.
Com a busca de interesses individuais, cada família tomou seu rumo e, consequentemente, visitas se tornaram esparsas. Maria Vaz morreu. Viúvo, Luiz, que diz “não ter vocação pra viver sozinho”, casou-se pouco tempo depois. Não deu certo. O divórcio veio em seguida.
Numa tarde de julho de 2013, Maria José é informada que seu marido morrera em acidente de carro. A partir de então, a saudade passou a ser compensada pela dedicação a filhos, netos e igreja evangélica, no bairro dos Estados.
Reencontro
Nalgum dia do ano passado, Maria José e Luiz se encontraram casualmente em repartição pública. Conversa rápida e desinteressada troca de números de celulares. Ninguém ligou para ninguém. Os números escritos em pedaços de papel se perderam.
Mas o destino é caprichoso. Em setembro passado, os viúvos se encontraram em corredor de hospital. Conversa vai, conversa vem, nova troca de números de celular – agora com promessas de que se comunicariam de vez em quando.
Nessa parte, a dúvida. Maria diz que Luiz ligou primeiro; ele diz que ela foi a primeira a ligar. Independentemente de quem tenha partido a iniciativa, conversas foram se tornando frequentes e evoluíram para atenções e cortesias: Luiz trazendo mimos do interior e Maria José agradecendo com bolos, pudins e delícias que só ela sabe
fazer na cozinha.
Pegos pela barriga
Maria José e Luiz sentiram que, entre eles, havia algo mais forte do que amizade. E, mais uma vez, eles deixam em dúvida quem primeiro falou sobre casamento. Luiz diz que, na época, estava noivo de outra pessoa e, antes de se comprometer tinha que pôr fim àquele relacionamento. “Foi difícil, pois toda vez que eu chegava à casa da noiva, antes que eu dissesse alguma coisa, ela me envolvia e eu ficava mudo”.
Um dia, Luiz tomou coragem e, ainda do portão, terminou o noivado. A partir de então, encontros e telefonemas entre Luiz e Maria José tratavam sobre a futuro que teriam juntos.
Antes de tomar a decisão que mudaria sua vida, Maria José consultou os filhos. Ninguém se opôs. Edmilson, filho mais ciumento sentenciou: “Se é com ‘seu’ Luiz, eu aceito; com outro, não”.
“Nenhum de meus filhos ficou do contra. Todos conhecem a Maria e sabem que ela é mulher de fibra e respeito”, comenta Luiz.
E assim, no dia 3 de novembro, Luiz e Maria José se casaram. Nesses poucos dias de convívio, em ampla e confortável residência, Maria José diz-se feliz por ter encontrado um marido atencioso e aconselha: “Acho que todo mundo deve ter uma segunda chance, Ninguém merece ficar sozinho. Acho que todo mundo tem direito a um companheiro para velhice”.
Luiz, bem humorado, afirma ter conseguido o que procurava: “Maria é modelo três-em-um: enfermeira, boa cozinheira e ótima companheira”.