Em tempos de volta ao estilo dos carnavais da segunda metade do século passado, o Roraima Agora busca na década de 1980 exemplo de sucesso do carnaval de rua boa-vistense.
Durante cinco anos seguidos, eles conquistaram troféus e o coração do público, sempre com desfiles animados, figurinos caprichados, músicas temáticas dentro do enredo e boa dose de crítica bem humorada. Só pararam quando blocos de verdade deixaram de ter espaço na programação oficial.
O resgate das tradições roraimenses foi o mote para unir ex-alunos do Ginásio Euclides da Cunha (GEC) e Escola Normal Monteiro Lobato como fundadores da Associação Recreativa e Cultural Olímpico (ARCO), em 1986. O primeiro empreendimento do grupo foi o bloco carnavalesco Arco-Folia, vencedor, por cinco anos seguidos, do concurso de blocos promovido pela Prefeitura de Boa Vista, na categoria Originalidade.
Entre os fundadores estavam o economista e compositor Zigomar Dantas Maia, primeiro presidente e autor das músicas temáticas do bloco, o artista plástico Walniro Souza, o contador Túlio Pinto, o administrador Olavo Brasil Filho e Daniel Peixoto – atual secretário municipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente. Com muitos outros participantes, essa turma dava duro para colocar as ideias em prática.
Zigo lembra o processo de escolha do enredo: “Avaliávamos os fatos mais importantes. Selecionávamos o mais fácil de se adaptar à logística do bloco e a diretoria, se aprovasse, autorizava o início dos trabalhos”, conta. Os figurinos eram idealizados por Walniro, mas cabia ao artista plástico Augusto Cardoso desenhar os modelos. Cada integrante mandava fazer a sua fantasia, dentro do figurino aprovado. A letra da música tema do enredo continha críticas, muitas vezes sutis, ao fato abordado. Tudo isso embalado por dois pequenos carros alegóricos e um carro de som com equipamento rudimentar. Trio elétrico, nem pensar. Grande parte dos brincantes do bloco era formada por casais – daqueles de homem com mulher.
Os responsáveis pelo desfile organizavam as alas com equilíbrio. O resultado só podia ser a vitória.
Talvez o segredo do sucesso começasse na concentração do bloco, no banho Vavalândia, no Caçari, do engenheiro Elivar Rocha Lima, o Vavá. Já na sexta-feira a música tema era ensaiada pelos foliões, com comida e bebidas à vontade. Durante o carnaval, havia o desfile oficial de sábado, na Ene Garcez. Na terça-feira, o Arco-Folia sempre voltou à avenida como campeão. Nem dava tempo para a ressaca, pois, na quarta-feira de Cinzas, os vitoriosos pegavam a estrada rumo ao Lago do Caracaranã, onde comemoravam a conquista.
No auge da segunda parte da história dos carnavais de rua de Boa Vista, a Prefeitura de Boa Vista resolveu acabar com o concurso de blocos no carnaval. Fechava-se, ali, uma das mais importantes e criativas páginas da cultura roraimense.