Fim de expediente, cinco e quarenta da tarde; apesar da hora, o calor roraimense está de espantar o capeta. Na lotérica, parece que resolveram desligar aparelhos de ar condicionado para economizar energia. Ninguém está aguentando o roubo praticado pela Eletrobras.
Ali dentro, cerca de dez pessoas suam, se abanam e suspiram em fila que, para eles, é interminável. No segundo caixa, reservado para pessoas com deficiências físicas, uma velhinha se atrapalha com dinheiro trocado e todas as contas do mês.
De repente, sujeito alto, barriga proeminente, vestindo calças jeans bem surradas que combinam com a camiseta desbotada, chapéu de pescador na cabeça, cruza a porta de entrada. Pés grandes, descalços, chamam a atenção dos presentes. Com papéis e dinheiro na mão, o novo cliente posta-se atrás da velhinha que tem dificuldade para fechar a conta.
Caboclo alto, gordo, mal encarado, que ocupa a terceira posição na fila ao lado, olha agressivamente para o recém chegado e, ameaçadora e nervosamente, começa a sacudir-se sobre as pernas.
Assim que a velhota acomoda papéis e troco na bolsa de pano e se afasta do guichê, o recém-chegado ocupa o espaço deixado, passa contas e dinheiro para a atendente e determina: "Faça também três Mega-Senas, por favor".
O homão da fila ao lado, agora à véspera de ser atendido, brada:
- Se eu não fosse o próximo da minha fila, eu ia tirar você desse caixa!
O homem de chapéu olha para o ameaçador e pergunta: "É comigo?"
- Sim. Quem você pensa que é pra chegar aqui assim e ser atendido na frente de todo mundo?
- Sou só um cidadão que procura beneficiar-se de seus direitos.
- Que direitos? Você é aleijado? É cego? Está grávido?
- Não, meu amigo. Tenho 63 anos e, com essa idade, as leis me dão preferência.
- Sessenta e três anos? Me engana que eu gosto...
- É meu amigo: sessenta e três. Você acha que pra ter essa idade a gente tem que ficar feio e decrépito? Tenho 63 anos. Não vou lhe mostrar documento porque o senhor não é fiscal de idades nem merece minha atenção. Tenho prioridade e vou fazer uso dela.
Chegou a vez de o agressor ser atendido e ele deixou o assunto de lado. Nisso, um velhote careca e encurvado que tinha entrado na lotérica quase sem ser notado aproxima-se do agredido e fala:
- Ei, Abigobaldo! Vi tudo, cara. Bom saber que tu estás velho, mas continuas bonito e escroto.
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