Odisseia no espaço

    Elegante, calças jeans americanas, camisa de linho branco, óculos Ray Ban, comandante Maurício entrava na loja de meu pai e eu me recostava no balcão me deliciando com as aventuras narradas. Ele afirmava ter pescado um baita tucunaré em rasante de seu Cessna sobre o rio Uraricoera; matou uma onça pintada - quatro metros e vinte e sete centímetros, do focinho à ponta do rabo - batendo-lhe de propósito com a roda esquerda de seu teco-teco. Mas, o dia em que o motor deu pane, e ele, sozinho, a 300 pés de altura, teve que sair da cabine, dirigir-se ao bico da avioneta e, ali, no braço, fazer a hélice girar novamente e retomar seu voo. Não havia pista ou picada que o comandante tenha deixado de visitar e sua contribuição com a história de Roraima é indubitável. Maurício também era gozador. Prova disso está no relato a seguir. Com as primeiras luzes do dia, comandante Maurício checava ítens do cessninha quando os contratantes chegaram. Conhecendo o ritual, cada um deixava a área depois de fornecer informações que eram anotadas em uma caderneta. Quando pesava as bagagens do quinto passageiro, Maurício viu que João-funga-funga, pelo lado esquerdo, colocara sorrateiramente um volume dentro da avioneta. Aborrecido com o fato, Mauricio decidiu pregar uma peça no garimpeiro desonesto. Enquanto decolavam, para dar aos passageiros impressão de importância que não tinha, Maurício mentia ao microfone desligado: "Alô Torre de Brasília! Papa, Tango, Eco, Bravo, Eco. Boa Vista, Roraima, Região Puxa-faca. Câmbio informação. Câmbio Desligo". Antes que atingissem a altura de cruzeiro, por meio dos pedais, Maurício começou a provocar uma turbulência na avioneta. O avião sacudia, Maurício coçava a cabeça, simulando preocupação, e os pálidos e nervosos passageiros se perdiam em rezas e despedidas dessa vida mundana. Maurício, bem alto: "Não é possível! Tudo foi checado, o avião passou por revisão na semana passada.... Isso está me parecendo excesso de peso..." - E, ao microfone: Papa, Tango, Eco, Bravo, Eco, Zulu, Norte, dificuldade. Possibilidade de pouso forçado... Se der tempo!" E, sem olhar para trás, dirigindo-se aos passageiros: "Vocês têm certeza de que todos os seus volumes foram pesados por mim?" Quase chorando, João-funga-funga, declara: "Comandante, eu tou trazendo uma caixa com doce de goiabada que não foi pesada..." Maurício determina: "Localize esse volume e jogue-o fora pela janela imediatamente!" Os passageiros se remexem nervosamente, encontram a caixa, jogam-na fora e, ato contínuo, o avião se estabiliza
    .
    Ao fim do dia, enquanto engraxava as rodas do teco-teco, comandante Maurício dirige-se a um de seus ajudantes: "Bacabal, pega tua moto e vai ali mais ou menos onde o Caranã deságua no Cauamé e traz um pacote que deve estar caído na areia. Hoje, a gente vai merendar goiabada com queijo coalho..."
    O doido e a madame
     

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