O almoço transcorria agradável, com bom papo e comida deliciosa. A cervejinha estupidamente gelada dourava os copos sempre cheios pelo garçom atento. Ouviam-se elogios à qualidade da refeição. A turma da cozinha caprichara.
Tudo ia bem até alguém meter na conversa o assunto dieta. Falar em dieta naquele momento era, no mínimo, imprudência. Afinal, o cardápio foi pródigo em calorias, inclusive a dita cervejinha.
O mais, digamos, avantajado tratou de justificar o apetite voraz demonstrado desde a chegada. Caiu de pau no couvert, sem dó nem piedade, mas debitou o problema na conta do estresse no trabalho. Pela ferocidade na ida à cestinha de pães, o chefe merecia processo. Aliás, ele garantia ser o último dia de Pompeia. No dia seguinte, segunda-feira, começaria dieta infalível. Todos fingiram acreditar, seja na promessa ou na infalibilidade da dieta.
Do outro lado da mesa, a jovem com corpinho de modelo torturava os presentes. Ela jurava ter dificuldade em engordar, apesar de comer bastante e de tudo. O – vamos ser sinceros - gordo lançou olhar penetrante na moça, como se fuzilasse o maior inimigo.
Quando a magrinha pediu sobremesa, o gorducho acompanhou a pedida. Desaforo não! Ele também comeria doce alemão, com cobertura de açúcar e uma bola de sorvete de creme. “Põe bastante açúcar”, enfatizou. Naquele terreno ninguém o desafiava.
O doce veio com visual fantástico. A cobertura branca dava água na boca. A decepção veio ao provarem. Na cozinha, alguém confundiu o saleiro com o açucareiro. Ambos levaram a colher à boca ao mesmo tempo e tiveram igual reação de horror. “É sal!”, gritou a garota. O garçom desculpou-se pela falha grave. Ela agradeceu, mas desistiu da sobremesa. Ele foi solidário. Nada de doces no domingo. Amanhã, talvez. A dieta? Quem sabe na terça?