Pelé e Mané Garrincha foram os dois jogadores mais espetaculares que vi jogar, tanto pela Seleção Brasileira quanto por seus clubes. Juntos, deram duas Copas mundiais ao Brasil: 1958 e 1962. Nesta última, Pelé contundiu-se na segunda partida. Mané deu conta do recado. Entortou os adversários, um a um, até levantar a taça no final. Aliás, Nilton Santos, lateral-esquerdo nas duas Copas, contava passagem com o imprevisível Garrincha. “Intervalo da final de 62, ele se sentou ao meu lado no vestiário e comentou: ‘Sãocristóvãozinho duro, hein, cumpadre’. Ele comparava a Tchecoeslováquia, nosso adversário, ao time do São Cristóvão, clube pequeno do Rio. Os uniformes eram parecidos”. Dono de simplicidade única, Mané tinha várias paixões, entre elas bebida e mulheres. Apesar de casado e pai de sete filhas, criou a fama de garanhão. Teve caso com a vedete do teatro rebolado Angelita Martinez, engravidou parceira na Suécia, em excursão do Botafogo, em 1959. Ainda casado, engatou romance com a cantora Elza Soares, com quem casou-se mais tarde. Ao todo, reconheceu 14 filhos. Morreu aos 49 anos, por problemas causados pelo álcool. A genialidade dentro de campo contrastava com a dificuldade em conviver com o comportamento exigido pela sociedade. Adorava birita e sexo, como conta o jornalista e escritor Ruy Castro, no livro Estrela Solitária – um brasileiro chamado Garrinha, biografia não autorizada do jogador. Hoje, qualquer lista dos cinco maiores jogadores de todos os tempos – inclusive feitas por jornalistas esportivos - dificilmente relaciona Garrincha. Punem o jogador pelo comportamento extracampo e esquecem o gênio das pernas tortas. Seus números são fantásticos. Os dribles, inigualáveis. Ninguém pode apagar a história.