Na avenida Capitão Ene Garcez, no centro da bola que norteia motoristas que se dirigem ao aeroporto ou à Universidade Federal, entre diversas árvores originais do lavrado, sobre bem cuidado gramado, uma pirâmide se sobressai. Muito se fala a respeito do monumento, mas pouquíssimos roraimenses sabem contar - e justificar - origem e existência da figura geométrica.
Para pôr fim, de uma vez por todas ao mistério, reportagem do jornal Roraima Agora caiu em campo e esclarece os fatos.
Em 1983, quando Roraima ainda era território federal, o governador nomeado general Arídio Martins de Magalhães nomeou o Professor Hamilton Gondim para o cargo de prefeito.
Gondim conta que, para arrefecer os ânimos no meio político, que se incomodava com mais um estrangeiro no Executivo municipal, convidou os vereadores para uma reunião e conseguiu simpatia e amizade de todos eles.
"O vazio da larga avenida Ene Garcez me incomodava; tive, então, a ideia de erguer um monumento ali na bola", diz Gondim. E continua: "O vereador Amazonas Brasil, que naquela época andava com umas ideias meio esotéricas, trouxe a ideia de construirmos, no local, uma pirâmide que haveria de trazer boas energias para a cidade e seu povo".
Prefeito Hamilton Gondim e arquiteto João Nelson Vicente
Contratado para executar o projeto, o arquiteto carioca João Nelson Vicente diz que levou muito tempo consultando livros e brochuras para que a pirâmide saísse como o mago-vereador desejava.
Ainda antes de ser inaugurado, o monumento causou polêmica entre cidadãos e políticos de Boa Vista que questionavam a inutilidade de algo tão sem sentido plantado no meio da importante avenida.
Nos primeiros tempos, jovens integrantes das muitas esquadrilhas de fumaça do município elegeram o local para partirem em viagens psicodélicas não tripuladas, mas turbinadas com marijuana y otras cositas más. Tem-se notícia, também, de alguns curumins e cunhantãs que foram gerados mo entorno da pirâmide.
UNANIMIDADE - O mandato de Gondim durou cinco meses (de maio a outubro de 1983). Bem humorado, por telefone, ele diz que entrou e saiu com unanimidades da Prefeitura: "No início, todos os vereadores gostavam de mim; no final, todos me odiavam".
O ex-prefeito diz que foi incompreendido e que, apesar do pouco tempo, fez o que pôde pelo município. E conta outro fato que desagradou os políticos: "Duplicada, a Ene Garcez, era cortada longitudinalmente por imensa vala, por onde corriam as águas de chuvas. Consegui verba com o ministro Delfim Neto e dei início à urbanização da via. Políticos locais me acusaram de fazer obra desnecessária, sem entender que eu lidava com verba de convênio e que não poderia investir em outro lugar, noutra finalidade.
Esclarecido o mistério, fica o convite para que a população visite a Pirâmide, tendo certeza de que, ali, pode-se conseguir um pouco de paz emanada pelo monumento ou, pelo menos, fazer boas fotos.