Não é de hoje que militantes GLBT tentam trazer mortos famosos para engrossar suas linhas e mostrar que homossexualismo é mais comum do que se imagina.
Sabe-se que, na Grécia antiga, a prática de sexo entre pessoas do mesmo gênero era comum. E até incentivada. Reis e imperadores romanos também eram chegados a orgias em que atividades
homossexuais faziam parte do cardápio. Há quem afirme que Hitler era homossexual e que os tresloucados atos contra a humanidade refletiam sua revolta com o fato comportamental.
Recentemente, a possibilidade de que Simon Bolívar não tenha sido tão espada quanto seus admiradores gostariam deixa loucos os bolivarianos. No Brasil, movimentos gays insistem que
Zumbi dos Palmares mexia com outros paus além daqueles que os quilombolas usavam para se defender.
Nessa onda de futricar a sexualidade de mortos, surgem fofocas - e afirmações ditas comprovadas - de que capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, o Rei do Cangaço, tinha hábito de queimar a rosca entre um e outro saque e maldades praticados em fazendas ou lugarejos visitados por seu bando.
Como base de sustentação a quem defende a controvérsia, usa-se o hábito – esse confirmado – que o cangaceiro tinha de bordar e fazer trabalhos manuais que, naquele tempo, eram atividades ditas femininas. Claro que mexer com agulhas e linhas para criar arte não confere a ninguém
o diploma de viadagem.
Biografia polêmica
O livro “Lampião, O Mata Sete”, lançado em 2011, teve sua venda proibida pela Justiça, atendendo a ação movida por Vera Ferreira, pretensa neta do cangaceiro.
Na obra, o escritor Pedro de Morais afirma que o malfeitor mais famoso do Nordeste era gay e que sua companheira, Maria Bonita, enfeitava a cabeça de Virgulino com diadema de vaca: chifre.
No final de 2014, por decisão da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Sergipe, o livro foi
liberado para distribuição e comercialização. “Não é demais repetir que, se a autora da ação sentiu-se ‘ofendida’ com o conteúdo do livro, pode-se valer dos meios legais cabíveis. Porém, querer impedir o direito de livre expressão do autor da obra, no caso concreto, caracterizaria
patente medida de censura, vedada por nossa Constituinte.
Cabe, sim, impor indenizações compatíveis com ofensa decorrente de uma divulgação ofensiva”, afirmou o desembargador Cezário Siqueira Neto, em entrevista concedida, defendendo a liberdade de expressão.
Jornal de ontem
Em outras publicações, como numa tese do fundador do Grupo Gay da Bahia, historiador Luiz Mott, a homossexualidade de Lampião já tinha sido abordada. Pedro Morais afirma que na universidade Sorbonne (França) há tese citando o lado feminino de Virgulino: “Todo mundo
aqui no Nordeste sabe que ele era um exímio estilista e gostava de plumas, paetês e perfumes franceses”, justifica-se Pedro de Morais.
Wilson Oliva, advogado de Vera, contesta: “Intimidade não é história. O livro agride por demais, afirmando que Lampião era gay, que Maria Bonita era adúltera e até que Expedita Ferreira Nunes não é filha dos dois. Isso causou transtornos a toda a família, aos netos, aos bisnetos na escola”.
Enquanto isso, o autor procura editora que, com ele, invista em 10 mil exemplares para uma segunda edição de “Lampião, o Mata Sete”. Na primeira, só mil livros foram impressos. Com as questões judiciais, a obra ganhou notoriedade e, claro, possível impulso comercial.
Rebordosa
A renomada cordelista Dalinha Catunda contra ataca quem quer mexer com a homência de Lampião. Para seus leitores, o Roraima Agora traz algumas estrofes de “Quem nasceu para Lampião jamais será lamparina”, da cearense de Ipueiras:
Amigo vou lhe dizer
Preste bastante atenção
Cada um tem seu gosto
E toma sua decisão
Há coisa que não aceito
Mexer no cu do sujeito
Que está debaixo do chão
Eu não tenho preconceito
E nem sou ruim da bola
Tô contestando um boato
Que não entra na cachola
Por tudo que ouvi falar
Não posso acreditar
Que Lampião foi boiola.
(...) E nem venham me dizer
Que MARIA era infiel
E que o Rei do Cangaço
Andou queimando o anel
Isso é pura fantasia
Pra não dizer heresia
De mente suja e cruel
Com ela teve uma filha
Batizada de Expedita
Que não viveu no cangaço
Pra não provar desdita
Lampião deixou herdeira
Fez filho na companheira
Não fugiu da periquita
(...) Lampião foi cabra macho
Famoso FORA da lei
Agora querem dizer
Que Virgulino era gay
Ele pintava e bordava
Mas a rosca não queimava
Pelas histórias que sei
Foi líder dos cangaceiros
E valente pra chuchu
Agora depois de morto
Querem difamar seu cu
Ele não virou baitola
E só entrava na rola
Quando comia nambu
(...) Se Lampião fosse vivo
O falador penaria
E no pipocar das balas
A dançar aprenderia
Pra deixar de esculacho
E respeitar cu de macho
Que o anel não queimaria
(...) Essa história é sem sentido
Ninguém acredita nela
Pois bunda de bandoleiro
Não foi porta nem tramela
Era saída e mais nada
Não consta que foi entrada
Não azeitou a arruela
Eu posso estar enganada
Mas acho que essa lambança
Foi criada por alguém
Com desejo de vingança
Lampião não foi veado
Foi apenas difamado
Botaram seu cu na dança
Este cordel chega ao fim
Chega ao fim minha defesa
Vou bater o martelo
A verdade está na mesa
Minha tese não afunda
Nunca fez barra na bunda
Quem foi rei da malvadeza.
Matéria publicada em 9 de março de 2015 no jornal Roraima Agora