Não há dados exatos e atualizados sobre a população de cães e gatos vadios no Brasil, mas é possível inferir o número a partir de estimativas. Uma pesquisa da Mars Petcare e de outras organizações aponta que o número de cães e gatos em situação de rua no Brasil é de mais de 30 milhões, sendo a maioria cães. Outras fontes indicam que a cada 20 brasileiros, há três animais abandonados.

A partir do parágrafo anterior, podemos arriscar que, se a população de Boa Vista, capital do  Estado de Roraima, é de 500 mil almas, há uns 75 mil animais sem teto circulando pelo município.

Vagando pela cidade, pode-se ver que o número de pets é muito grande. Independentemente de poder aquisisitivo, há tantos cães e gatos abandonados nos bairros periféricos quanto em redutos com status superior.

O Paraviana, por exemplo, considerado o bairro com mais alto PIB do Capital, recebe grande quantidade de filhotes abandonados. Moradores até fazem piada quando veem esses animaizinhos deixados às suas portas.

Normalmente, esses novos moradores recebem comida e cuidados e têm suas fotos divulgadas em redes sociais à procura de um lar. Alguns, por falta de voluntários para adoção, são incorporados às famílias que os recolheram.

Pelas ruas do Paraviana, o passante nota, em pontos estratégicos, casinhas que servirão de abrigo para cães abandonados. Mais raro, mas também é possível encontrar parquinhos improvisados com caixas de madeira, pneus e outros materiais que servem para gatos se divertirem e se exercitarem.

Nos bairros mais distantes, aqui, acolá, o passante se depara com vasilhas contendo ração e água deixadas à disposição desses animiazinhos desprotegidos.

Governantes se preocupam com a realidade dessa legião de abandonados. Apesar de campanhas de vacinação serem feitas periodicamente, nossos amigos de quatro patas precisam de mais. Muito mais.

Carlos Filho, coordenador do Programa de Bem-estar  animal

Esterilização e cuidados

Em fevereiro, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) inaugurou o Programa do Bem-Estar Animal, uma iniciativa inédita no Brasil. Localizado no número 191 da avenida Mário Homem de Melo, o Centro funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, oferecendo gratuitamente serviços como castração de cães e gatos, especialmente para tutores que não têm recursos financeiros para arcar com esses procedimentos. O objetivo maior do programa é contribuir para o controle populacional de animais e combater o abandono e os maus-tratos.

Instalações modernas, decorado com fotos de animais de estimação, o Centro conta com servidores que demonstram ter amor pelas quatro patas.

O contador Carlos Vilhena Filho, gerente do Programa, afirma que, nesses seis meses, mais de três mil animais foram castrados.

Para utilizar-se do Centro, o interessado faz inscrição e aguarda chamado para que seu pet seja examinado por equipe de veterinários. Caso não haja impedimento, marca-se a intervenção. Fazem-se 28 procedimentos por dia. Operado, o animal ficará internado por algumas horas.

A advogada Fernanda Cordeiro, que teve seus gatinhos esterilizados pelo programa, diz que "o projeto é muito bem estruturado. Fiquei impressionada com a agilidade e o cuidado de toda a equipe. Minha gatinha foi castrada com segurança, e tudo de forma acessível e organizada". A psicóloga Carmem Cabral, que esterilizou as quatro gatinhas de sua tutela, festeja: "Eu não aguentava mais a frequência de gatões paqueradores cercando as minhas meninas que, a cada cio, me presenteavam com mais quatro, cinco, seis novos filhotes demandando um lar. O programa é muito bom; os servidores são top das Galáxias".

Idealizador do Projeto, o deputado Marcinho Belota (PRTB)  diz comemorar todos os dias ao ver um de seus sonhos realizados nesse espaço para receber animais e seus tutores.

ADVOGADA Fernanda Cordeiro e sua gatinha Amora, que tem um companheiro devidamente castrado. Fernanda também tem um companheiro,

mas esse ainda está apto a reproduzir-se

PSICÓLOGA Carmem Cabral e sua gatinha Sarah Jane - uma das quatro meninas da casa. Carmem tem um gatão de duas pernas

que resiste à ideia de castração

Veterinário Bernardon, o homem bom

Ali, no hall de entrada do Programa do Bem-Estar Animal, as conversas seguem animadas. Cada um daqueles tutores fala de seus pets como se seres humanos eles fossem. Melhor: como se eles fossem crianças.

Ao ouvi-los, tem-se a impressão de que os pestinhas vieram ao mundo com a missão de destruir. Destruir sapatos, sofás, poltronas, colchões, tapetes...

Relato 1: "Cheguei a pegar o cutelo para matar um cachorrinho caramelo que surgira em casa morrendo de fome, ganhara o coração da família e recebera o carinhoso nome de Buchudo. Ao ver meu desespero com o tapete destruído na mão direita e a lâmina na esquerda, ele esparramou-se no chão, deixou as orelhas cairem e começou a soluçar, como se chorasse pedindo desculpas".

Relato 2: "Um gatinho de poucos dias foi pisoteado casualmente em minha casa. O que fazer? Nem pensei duas vezes: com aquela coisinha no colo, invadi a casa de doutor Bernardon pedindo que salvasse o bichano, mas fui logo avisando de que não pagaria pelo serviço. Sorrindo, calma e carinhosamente, o veterinário prendeu o animalzinho entre os dedos, fez-lhe massagem e devolveu-me o filhote dizendo que nada estava quebrado e que ele voltaria ao normal. Não me cobrou um centavo e ainda ofereceu-se para ajudar se necessário fosse.