Segunda, 03 Dezembro 2018 10:08

    Caju: alimento e saúde ao alcance da mão

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    Caju: alimento e saúde ao alcance da mão Fotos: Aroldo Pinheiro

    Em novembro e dezembro, frutos amarelos e vermelhos enfeitam cajueiros 

    Enquanto crianças desnutridas sofrem com o mal da fome, homens e mulheres reclamam falta de emprego e renda e se valem de programas sociais para sobreviver, toneladas de alimentos apodrecem em Roraima. A solução, mesmo que sazonal, está ao alcance das mãos.

    O auge da safra é dezembro, mas de novembro a fevereiro, cajueiros produzem pedicelos tuberizados (nome esquisito para o delicioso pseudofruto) ricos em Ferro e Vitamina C e castanhas (o verdadeiro fruto) com alta concentração de Vitamina B1, além de, segundo nutricionistas, ajudar no combate ao estresse e à depressão.

    Em solo roraimense, toda essa riqueza vai para o lixo sem que nenhuma iniciativa – voluntária ou oficial - seja tomada para minimizar os males citados no primeiro parágrafo desse texto.

    Durante a safra, ao percorrer ruas, avenidas ou boa parte das estradas roraimenses, o cidadão se depara com cajueiros carregados de bagos que poderiam ser consumidos in natura ou transformados em sucos, doces, licores, e castanhas que, torradas, são deliciosas. O que poderia gerar renda se perde.

    Produção artesanal
    Dorival, proprietário do Senzala’s – um dos restaurantes mais finos de Boa Vista nos anos 1970 e 1980 – gabava-se de produzir 300kg de doce de caju a partir de árvores que forneciam sombra para a clientela e frutos para o empresário. As castanhas, torradas e descascadas, eram oferecidas a clientes como tira-gosto; com os cajus, ele fazia doce e faturava o equivalente a quatro meses de sua conta de luz.

    Ao alcance da mão 
    Deoclécio Ibiapina, 47, caminhoneiro, disse ter encontrado em Boa Vista cajus tão deliciosos quanto os melhores do Nordeste. Conhecedor de culinária, o sergipano faz doces com o pseudofruto e os divide com colegas de profissão. “Aqui, a gente vê muito desperdício; durante minha mais recente estada em Boa Vista, não vi nenhum moleque apanhando caju”, lamenta.

    Tarados por caju
    Há pessoas que são taradas por caju. O pedreiro Marcos Marcondes, 61, é um deles. De novembro a fevereiro, ele não sai de casa sem levar uma escada extensível no porta-malas do carro; ao ver cajueiro carregado, o sexagenário monta o apetrecho e colhe o quanto for ossível. “A patroa faz doces e vende para amigos e conhecidos. No ano passado, ela comprou uma TV de 40 polegadas só com o apurado da produção. Neste ano, ela sonha com uma viagem para São Luís. E vai conseguir”, anima-se o maranhense.
    A diarista Maria Altina Nascimento, 35, diz aproveitar-se do cajueiro que tem no quintal de sua residência e, todos os dias, durante a safra, toma suco ou os consome com sal. Enfatiza: “Também desce redondo com uma cachacinha”.

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    Haverá um dia em que nossos governantes darão ao caju e sua castanha a importância devida e incentivarão cultivo, beneficiamento e inclusão desse alimento em dietas escolares ou em programas sociais?

    Curiosidades 
    O caju é um fruto essencialmente brasileiro, mais incidente no Nordeste e no Norte do País. Do Brasil, ele foi levado para a Ásia e África, onde, por questões climáticas, adaptou-se muito bem.
    Quando aportaram em Terras Brasilis, os europeus viram que os índios já consumiam e preparavam comidas e bebidas com o pseudofruto: o mocororó, por exemplo, bebida alcoólica destilada, era usada em rituais; a cajuína, suco centenário desenvolvido por indígenas do Piauí, é ainda hoje muito apreciado.

     

    Maria rachada (Aroldo Pinheiro)

    Essa tua racha, maria,
    Me deixa assim meio louco,
    Vontade de sorver teu néctar,
    Vontade de cair de boca


    Moreninha, marrom escuro,
    Segura com pau pelo rabo,
    Cabeça pra baixo ao vento,
    Me deixas meio tarado


    Insetos sorvem o mel
    De tuas rachas abertas
    Te quero, Maria, Te quero
    Te quero na hora certa


    Em galhos de cajueiro
    És a mais cobiçada
    Vou te chupar inteirinha
    Vou te devorar, maria rachada!

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    Aroldo Pinheiro

    Aroldo Pinheiro,  roraimense, comerciante, jornalista formado pela Universidade Federal de Roraima. Três livros publicados: "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente" (2003), "A MOSCA - Romance de vida e de morte" (2004) e "20 CONTOS INVERSOS E DOIS DEDOS DE PROSA - Causos de nossa gente".

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