Depois de fazer meu check in, saí do saguão para alimentar os pulmões com nicotina. Nisso, quase perco o voo. Corri contra o tempo, atropelei pessoas na esteira rolante, mas consegui chegar a meu avião.
No dia 22 de março, fui o último a embarcar no voo JJ 4674 da TAM, Brasília a Boa Vista.
Avião lotado. Em céu de brigadeiro, absorvido nas palavras cruzadas, gritos ecoaram de poltronas mais à frente: “Por favor, tem algum médico a bordo?” Depois de afastar curiosos, com dificuldade, o jovem voluntário chegou a uma idosa que passava mal.
Estávamos voando há uns 40 minutos. O comandante anunciou: “Senhoras e senhores, pedimos que mantenham a calma. Uma passageira está com problema de saúde e teremos que aterrissar no aeroporto de Palmas para dar-lhe assistência apropriada”. A comissária prosseguiu com aquelas instruções para pouso e, depois de violenta pancada contra a pista, o avião taxiou.
Enquanto paramédicos entraram na aeronave para retirar a idosa que precisava de socorro, pessoas cá do lado de dentro comentavam o ocorrido.
Muitos reclamavam da atitude tomada pelo comandante do Airbus 320A. Alguns falavam em compromissos inadiáveis e prejuízos causados irrecuperáveis.
Ao celular, um velho gordo, gritava para que todos ouvissem que ia processar a companhia, “pois, se não estivesse em Boa Vista às 14 horas, perderia mais de 500 mil reais”. Nem sei se ele falava com alguém ou se queria só aparecer para os outros passageiros.
Um jovem com barba espessa e muitas tatuagens nos braços grossos, característicos de fisiculturistas, vomitava conhecimentos sobre procedimentos de voos: “Esse comandante foi muito irresponsável. Por causa de uma velha, ele colocou em risco a vida de 170 pessoas. Vocês sentiram o impacto na pista? Foi porque o avião estava muito pesado. Os tanques do combustível estavam muito cheios para que ele aterrissasse”.
Não ouvi ninguém defender a atitude que o comandante Nascimento tomou. Ali, pensei: “Se fosse a mãe ou o filho de um desses reclamantes que precisasse de atendimento médico, será que eles condenariam a decisão que o responsável pela aeronave e seus passageiros tomou?”
A atitude do comandante Nascimento causou prejuízos à empresa aérea. Quantos litros de combustível foram consumidos na aterrissagem e na decolagem? Qual o desgaste de pneus? Quanto a TAM teve que pagar pelo uso da pista e do aeroporto? No solo, quantas pessoas foram mobilizadas para retirar a idosa que passara mal e conduzi-la para assistência apropriada?
Certamente alguns milhares de reais foram despendidos com a atitude do comandante Nascimento.
Para os materialistas que se sentiram prejudicados com a decisão do comandante, uma pergunta: quanto vale uma vida humana?
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