O incompreendido

    Conheço muitos mãos-de-vaca, mas José de Ribamar, maranhense que chegou aqui em terras macuxis na década de 1980, se destaca em qualquer disputa dentro dessa modalidade.

    Ribinha, além de pão duro, é metido: não dá esmola, não fala com preto nem carrega embrulho. Apesar de toda essa empáfia, o codoense frequenta apurado meio social e, mesmo sendo mais grosso do que cano de passar bosta, consegue namorar meninas de boa procedência.

    Ultimamente, Ribinha tava pegando Rosa Maria, loirona monumental, única herdeira de dezenas de imóveis espalhados pela cidade de Boa Vista.

    O namoro empirulitou-se com os primeiros raios solares de 2019. Explico:

    Faz tempo, Rosa Maria dizia ao namorado que sonhava com uma noite especial: motel de primeira, lençóis de cetim e despertar com um lindo café da manhã servido na cama.

    Apaixonado, o maranhense decidiu realizar o sonho da amada na passagem de ano. Às dez e meia da noite do dia 31 de dezembro, ele parou a moto na porta de Rosa, disse-lhe que tinha uma surpresa e pediu que a amada subisse na garupa da Bizz.

    O casal tomou o rumo oeste da cidade. Em bairro periférico, Ribinha parou numa mercearia e, de lá, veio com duas sacolas plásticas que foram acomodadas debaixo do selim da moto. Dali, seguiram até a pousada Vai Quem Quer.

    Ao ver a entrada do local, Rosa Maria ainda pensou em pedir pra voltar. Capitulou. Sabia que o namorado era mão-de-vaca e, cheia de tesão, resolveu arriscar.

    O casal assistiu à queima de fogos transmitida pela TV, queimou muito fogo durante a madrugada e adormeceu. Zé com o peidante voltado para a amada.

    Na manhã do dia 1o, por volta das cinco da matina, Rosa Maria acordou e viu Ribinha abrindo as sacolas que havia trazido sob o selim da Bizz. De lá, o maranhense retirou uma lata de leite Ninho, um pacotinho de Nescafé Tradição, um pacote de cream crackers, uma embalagem de margarina, um saco com um quilo de açúcar, copos e colheres descartáveis.

    O ficante de Maria Rosa botou o rancho sobre a mesa, ligou para a recepção e pediu que mandassem uma chaleira com água morna. URGENTE!

    Ribinha voltou-se para a namorada e, ao vê-la acordada, recomendou:

    - São cinco e dez, meu amor. A gente toma café e vai-se embora, pois a promoção de seis horas por R$ 35 vence daqui a 50 minutos.

    De tarde, no bar Quebra Molas, sem entender nada, Ribinha se lamentava:

    - Eu fiz tudo o que Rosinha queria e ela me deu um pé na bunda...

    Querido diário - 11 de abril de 2019
    Uma crônica com espírito natalino
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