Controlador de voos

    O único psiquiatra do lugarejo aposentou-se e passou a missão para doutor Germano Duna, jovem médico que exerceu a profissão por muito tempo na Clínica Santa Genoveva, no Rio de Janeiro. Este, com sede de fazer seu pé de meia e voltar para as praias da Cidade Maravilhosa, trabalhava mais do que seria recomendável.

    Numa sexta-feira de lua cheia, o plantão tinha sido dos infernos. Doutor Germano, depois de atender cinquenta e dois pacientes, tirou o jaleco, jogou-o sobre o assento traseiro da reluzente L-200 e dirigiu-se à sua lanchonete preferida para um lauto sanduíche aberto. Pediu uma cerveja gelada e ouviu o toque do celular antes que terminasse o primeiro copo. Olhou o aparelhinho com raiva e atendeu à ligação vinda do Pronto Socorro:

    - Doutor, venha urgente ao PS. Acabamos de receber uma paciente sua em alta crise...

    - Ô, Aparecida, dá um tempinho... Vou só comer um sanduíche pra forrar o estômago... Chego aí em meia hora...

    - Doutor, a coisa tá feia... É melhor o senhor vir logo e deixar o sanduba pra depois... 

    - Vocês não podem administrar isso aí? Apliquem um sossega-leão na paciente... Logo, logo, estou chegando...

    - Não dá, doutor... Ela tá muito agitada... Além do mais, ela tá com mania de querer voar..

    Doutor Germano largou a garrafa de cerveja quase cheia, chamou o chapeiro e pediu que não tivesse pressa com seu pedido, "pois ele tinha que sair para atender a um chamado". 

    O Pronto Socorro estava um verdadeiro caos. Tantos eram os necessitados pelo corredor, que parecia ter tido um ataque terrorista na cidade. Doutor Germano entrou tentando identificar sua paciente no meio daquela multidão, mas não logrou êxito. Decidiu, então, valer-se de sua figura impoluta e de sua voz tonitruante:

    - POR FAVOR, ESTOU À PROCURA DE MARIA LUÍZA, UMA PACIENTE MINHA QUE ESTÁ COM VONTADE DE VOAR!

    Uma morena parruda, trajando decotado e colante vestido vermelho, levantou-se e, dirigindo ao médico os olhos arregalados que pareciam querer sair das órbitas, apresentou-se:

    - Sou eu doutor...

    - Me acompanhe, por favor...

    Nisso, levantou-se um homenzinho mirrado, atrás de óculos com espessas lentes de grau e falou:

    - Doutor, ela é minha esposa... Será que eu posso ir junto?

    Doutor Germano encarou o casal, esboçou um sorriso maroto e pilheriou:

    - Ah, você é o co-piloto? - E abrindo a porta do consultório, arrematou: "Tá bem, entrem os dois aqui no meu hangar para que a gente prepare o plano de voo". 

    Autoridade de primeira viagem
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