Ouço a expressão “par de jarras” desde menino, quase sempre em comentários de mulheres sobre a coincidência de duas pessoas vestirem roupas iguaizinhas. Entre o espanto das duas, na maioria das vezes, transformado em ira profunda logo depois, até as piadas maldosas disparadas, o ambiente acaba contaminado.
Já presenciei situações constrangedoras, inclusive em eventos elegantes. Se compraram a roupa na mesma loja, sob a promessa de ser “modelo exclusivo”, as, digamos, vítimas voltam-se contra o vendedor. Nessa hora sobram adjetivos, muitos impublicáveis. Homens também protagonizam micos semelhantes.
Conheço casos ótimos. Um deles ocorreu em 1970, na redação do Jornal dos Sports, Rio de Janeiro. O repórter Altair Baffa, o Baffinha, vestia-se com elegância. Veterano na profissão, era um dos craques de sua geração. Naquele sábado, final de tarde, a redação fervilhava. De repente, alguém grita: “Abre alas, aí, pessoal. Está chegando um bloco. Pelo visto é grande”. Todos olharam para a enorme porta dupla, por onde entrou o então jovem repórter Marcelo Rezende, com sua cabeleira loura até o ombro, cheio de balanço. Ele tomou tremendo susto quando viu o Baffinha com a mesma roupa. Tudo igual: sapatos, meias, cinto, calça e camisa.
Baffinha partiu para o ataque. “Que palhaçada é essa, Marcelo?” Sem graça, o novato tentou reverter a situação: “Vi você usar, gostei, passei no seu alfaiate e mandei fazer igual. É homenagem, Baffinha.” A gargalhada dos colegas irritou ainda mais o veterano. “Homenagem é o cacete!”, reagiu. Antes de o problema tornar-se maior, até por causa das piadas, o editor Aparício Pires encerrou a discussão e determinou a volta ao trabalho.
Bem, pelo menos ele tentou evitar o assunto. O porteiro do jornal, avisado pela turma da redação, dava a dica a quem entrava no prédio: “O Baffinha e o Marcelo estão com a roupa igual”. Era a senha para a piada seguinte: “É dupla caipira?” E tome mais barulho.