Desde a infância ouvimos conselhos de nossos pais sobre qualquer assunto. Pais sempre acreditam manter a responsabilidade da orientação dos filhos, mesmo se a “criança” passar dos 60 anos...
Papai usava máximas incríveis. Tais conselhos variavam de idade para idade. Lá pelos três anos, ele me avisava: “Se puser o dedo na tomada vai levar choque. Eletricidade é perigoso”. Fui tentar ligar a vitrola, tomei choque inesquecível, mesmo 64 anos depois. Ao saber da traquinagem malsucedida, emendou: “Eu avisei...”
Quando eu vociferava, aos 19 anos, contra injustiças no trabalho e ameaçava pedir demissão, ele me advertia: “Fernando, de insubstituíveis o cemitério está cheio”. Era a dica certa ao futuro desempregado, caso continuasse a manter a impaciência onde ganhava dinheiro. O mundo era assim mesmo, justo ou injusto. Combata a injustiça com inteligência e garanta sua integridade moral e financeira.
Mamãe insistia com o estudo. Os conselhos estavam sempre centrados na necessidade de eu estudar mais. Meu método, digamos, diferente de estudar a assustava. Eu colocava o livro no chão, deitava sobre a banqueta e ficava debruçado sobre o material de estudo. Era caso único na família, segundo ela. Nunca fiquei tonto, consegui concluir o curso superior sem crise, mas, hoje, desaconselho o método.
Quando eu exagerava em busca da perfeição em determinada tarefa, mamãe advertia: “Meu filho, o diabo tanto enfeitou o filho que furou o olho”. Nunca entendi de onde ela tirou o ditado, mas o recado ficava claro. Simplificar é o melhor caminho ao sucesso.
Pouco antes de nos deixar, aos 84 anos, lúcida, mostrava o quanto ficava em dúvida entre a emoção e a razão. Pelo telefone, convidava-me a visitá-la para comer pastéis fantásticos, seguidos de bolo inigualável, tudo regado a Coca-Cola. Quando eu terminava aquela orgia alimentar, lá vinha o conselho: “Meu filho, você engordou muito. Precisa fazer dieta”. Saudades dos conselhos dos pais.