Ele chegou de mansinho. O terreno imenso convidava à entrada sem cerimônia. Área comercial, sem muro frontal ou portão, o imóvel, construído colado ao muro e voltado ao espaço interno, abrigava uma clínica de fisioterapia e empresa do agro.
Desconhecido, fez o reconhecimento do terreno sem pressa. Aboletou-se num canto, de onde passou a observar o movimento de veículos e pessoas. Logo tratou de interagir com a turma local. Seu jeito simpático encontrou receptividade imediata. A coleira no pescoço ajudava. Ele tinha dono. Talvez nome, mas ninguém sabia.
Sim, o visitante era um cachorro. O pessoal da fisio encantou-se com ele. Logo foi batizado: Jorge, nome de personagem de desenho animado.
Havia esperança de encontrarem o dono do animal. Feita a foto, mensagens foram disparadas pelas redes sociais. Passados os dias, nenhuma resposta positiva apareceu. Enquanto isso, funcionários e pacientes da clínica alimentavam o Jorge, inclusive nos finais de semana, quando ficava fechada.
Jorge sentia-se cada vez mais em casa. Recebia quem chegava com alegria. Abanava o rabo como sinal de amizade. Bronca mesmo, só dos motoqueiros. Bastava alguém entrar de moto no estacionamento e lá ia ele implicar com o piloto. Só latia, mas incomodava.
Um mês depois, começou a operação novo lar. O Jorge animava o lugar, mas ficava difícil alimentá-lo nos fins de semana, além do aumento do grau de intimidade. Se a porta era aberta, ele entrava, circulava na área de trabalho e depois saía. Parecia fiscal do governo.
Enfim a procura teve êxito. Um paciente conseguiu lugar para o Jorge no sítio de pessoa da família. A despedida ocorreu cedo, antes do início do atendimento na clínica. Havia mistura de alegria e tristeza no ar.
Quem chegou à clínica naquela manhã notou a falta do animal. A pergunta mais ouvida era: “Cadê o Jorge?” Todos ficaram tranquilos ao verem as primeiras imagens do cão na nova residência. Seja feliz, amigo. Você fez a nossa alegria.