Do evento, o fato de Valdeane Alves ser a primeira mulher a chegar ao posto de coronel da Polícia Militar estadual foi dos mais comentados.
Na manhã de terça-feira, 2, coronel Valdeane recebeu a reportagem do Roraima Agora e falou sobre sua vida, sua luta e vitórias dentro da corporação.
MARANHÃO/RORAIMA
A numerosa família Alves - 8 irmãos - passou a viver dificuldades quando abandonados pelo pai na pequena Vitorino Freire (MA). José, o segundo filho mais velho, ouvindo fofocas sobre ouro no extremo norte do Brasil, resolveu, em 1989, deixar tudo pra trás e sair procurando o ouro que não perdera. Depois de algum tempo nos grotões, veio a proibição da garimpagem e consequente destruição de pistas clandestinas. O menino que sonhava com riqueza transformou-se em mais um brefado nas ruas boa-visteenses quando resolveu tentar e foi aprovado em concurso para a Polícia Militar de Roraima.
Com salário fixo, estabilidade no emprego, o soldado Alves trouxe proporcionar algo melhor a Valdeane, sétimo rebento da prole de dona Izabel.
O sonho da mocinha era ser médica. Estudando em escola pública, a maranhense viu que não teria condições de disputar com jovens de classes privilegiadas que frequentavam colégios caros. “Quem sabe posso ser advogada, pensou.
Mais realista, José achava que seria melhor se a irmã entrasse no mercado de trabalho; com sacrifício, resolveu bancar as despesas de Valdeane em cursos preparatórios.
Ao saber da abertura de vagas para mulheres em concurso para a Polícia Militar, Valdeane resolveu arriscar, mesmo que o irmão não fizesse gosto e só lhe mostrasse desvantagens na profissão.
Das 80 vagas, 41 foram preenchidas por mulheres, Valdeane classificou-se em sétimo lugar. Os planos de tornar-se médica ou advogada tiveram que dar lugar à dura rotina de policial militar. Salário: 537 reais.
Mas a maranhense queria mais. Batalhou e, classificada para curso de oficial, na Academia de Polícia Militar do Distrito Federal, levou, para ajudá-la a sobreviver com os poucos caraminguás que recebia por mês, dona Izabel, sua mãe, para Brasília. Três anos de ralação.
Em 2003, como aspirante, Valdeane voltou para Boa Vista e, na rotina diária, sentiu o que era ser pioneira num meio tomado por homens. “Eu e minhas colegas sofremos assédio moral e assédio sexual. Os homens não se conformavam com nossas presenças na corporação”, diz.
Casada com o empresário Jânio Oiveira Teixeira, mãe de Isabela, 7 anos, e Lorenzo 3, a coronel Valdeane sente orgulho da farda e de suas atribuições. Diz que a ficha ainda não caiu completamente. “Às vezes, depois de botar o uniforme e me olhar no espelho, dá vontade de prestar continência e cumprimentar a imagem refletida da coronel”, diz com um sorriso nos lábios.
Coronel Valdeane, no dia da promoção, em companhia da mãe e do irmão, major José Alves
Ao lado do marido, Jânio Oliveira Teixeira, e com os folhos, Isadora, 7, e Lorenzo, 3