Num raio de quatro ou cinco quilômetros de onde se cruzam as avenidas Ataíde Teive e São Sebastião, ao procurar bom mecânico para resolver problema em seu veículo, o cidadão será encaminhado para a “oficina de dona Antônia". Ou, talvez, “pra uma mulherzinha logo ali, que é muito conhecida”.
Do cruzamento da avenida Ataíde Teive com a rua Efigênia Lima, ao olhar para a direita, o cidadão logo divisa amontoado de carros e de pessoas, onde uma senhorinha de 56 anos é assediada com queixas de funcionamento dos mais diversos motores. Depois de pacientemente ouvir o paciente, ela, utilizando-se de modernos equipamentos eletrônicos, dá o diagnóstico e procura resolver o problema.
Há 25 anos, em busca de dias melhores, acompanhando o marido, Davi Lemos, a cearense de Novas Russas, Antônia Lopes de Souza, casada, quatro filhos, chegou a Roraima no fim do século passado. Enquanto Davi defendia o orçamento erguendo e rebocando alvenarias, sua esposa cozinhava em casas alheias. “Antes de vir para Roraima, eu prometi a mim mesma que deixaria de trabalhar como cozinheira na casa dos outros”, diz Antônia.
No final da década de 1990, ela ouviu sobre um curso para mecânicos no CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica), resolveu arriscar em área que não tinha nenhum conhecimento. “Deu certo. Aos poucos fui me identificando com os mistérios dos motores a explosão”, diz.
Findo o curso, a irrequieta cearense, soube que a empresa TEC JET recrutava mecânicos para seu quadro de colaboradores. “Inscrevi-me para teste e, aprovada entre os primeiros lugares, assumi vaga na oficina".
Depois de chefiar a oficina da TEC JET por sete anos e seis trabalhando na empresa Pégasus, a nova especialista em ignição eletrônica decidiu que estava na hora de voo solo. Investiu em ferramentas manuais e scanners e, na parte dianteira de seu terreno, estabeleceu a Oficina da Dona Antônia.
Aberta de segunda a sexta, das 8h às 18h, e, aos sábados, das 8h ao meio-dia (apesar de quase nunca conseguir obedecer a esse horário de fechamento no fim de semana), contando com quatro auxiliares (do sexo masculino), Antônia centraliza recepção, diagnóstico, relação de peças a serem substituídas e orçamento.
Os colaboradores de dona Antônia não se incomodam de receber ordens de uma mulher. Reconhecem nela a capacidade de quem sabe o que faz.
A clientela, na maioria homens, elogia o empenho e os conhecimetos que a pequena cearense tem em sua área. Maranhense, de Bacabal, José de Ribamar Fontelles, fala bem sobre o atendimento e a honestidade de dona Antônia; diz: "Não existe mais isso de trabalho de homem e trabalho de mulher. Existem outras mecânicas de automóveis em Boa Vista e elas dão conta do recado direitinho".
Antônia diz-se realizada. O marido não vê nada de estranho na atividade da patroa. Em profissões diferentes, o objetivo do casal é um só: procurar dar o melhor para a família.
Antônia ouve as queixas do motorista, lê informações colhidas pelo scanner e, ouvindo o barulho do motor, estabelece o diagnóstico