O Brasil tem mudado. Muito. Mas não mudou o suficiente para que a Justiça seja independente e que sentenças sejam acatadas ou contestadas por meios estritamente legais. Ainda há quem teime e, utilizando-se de artimanhas nada republicanas, force a tomada de decisões contra quem, entendem, tenha lhes feito mal.
Sem mostrar-se preocupado com a pressão que fazem para afastá-lo para longe de Roraima, o juiz Helder Girão Barreto afirma que está preparado para o que vier. “Se conseguirem ordem para remover-me de Roraima, eu entro com meu pedido de aposentadoria e, com tempo de folga, vou ‘amar mais, viver mais, beber mais, pescar mais’”. E relembra: “Vivi a maior parte de minha vida em Roraima. Gosto daqui, aqui fiz grandes amizades; por que ir-me embora de terra tão querida?”
Helder vive em Boa Vista há 32 anos, 26 dos quais, como juiz federal. Responsável por julgar alguns dos mais polêmicos casos no Estado, Girão conseguiu, pela rigidez na aplicação de penas, a simpatia de muita gente. Pelo mesmo motivo, conseguiu atrair para si o ódio de quem fez errado e sentiu – ou sente - o peso da mão do Baixinho, como o juiz é conhecido e tratado por afetos e desafetos.
Escândalo dos Gafanhotos
Entre os casos mais marcantes, com decisões de Girão Barreto, estão os processos movidos contra políticos e servidores públicos arrolados – e enrolados – no Escândalo dos Gafanhotos. O juiz explica: “No alvorecer deste século, Ministério Público e Polícia Federal desencadearam a operação Praga do Egito que, como todo mundo sabe, propunha-se a combater a corrupção endêmica no âmbito do Governo do Estado. Eu, que era o único juiz atuando na Justiça Federal em Roraima, tomei decisões que incomodaram a bandidagem, mexeram com aqueles que se achavam acima da lei”, diz.
Helder Girão também se destaca em decisões que tomou em causas envolvendo indígenas. Na sexta-feira, por exemplo, prolatou sentença dando ganho de causa quanto ao direito de expandir-se, em ação imposta pelo Município de Pacaraima.
Sérgio Paulo, chargista do jornal Roraima Agora, bem retrata dois momentos na vida profissional de Helder Girão Barreto